Diário do Alentejo

Metamorfoses e desafios
Opinião

Metamorfoses e desafios

Hélder Guerreiro, gestor

27 de setembro 2019 - 18:00

De cada vez que aceito o desafio de voltar a escrever artigos de opinião fico sempre com a ideia de que já escrevi tudo o que penso sobre todas as coisas do nosso Baixo Alentejo. Desta vez, antes de voltar a escrever, voltei a ler a ultima coisa que tinha escrito neste jornal. Terminava assim o meu ultimo artigo: “Por vezes pensamos que o nosso destino não está nas nossas mãos e por isso abstemo nos de chamarmos a nós a responsabilidade, que efetivamente temos, de lutar por ele. Talvez porque a minha natureza não seja de deixar que outros definam um futuro que também é meu não me irei abster de dar a minha opinião.”

 

E, pronto. Agradeço ao Diário do Alentejo o novo convite e a nova oportunidade de não me abster e gostava que este primeiro artigo fosse o momento de dizer ao que venho e/ou quais são os postos pelos quais olho os problemas desta nossa região. Desde logo importa reafirmar que sempre defendi, atualmente defendo e sempre defenderei uma região composta pelos 18 concelhos do Baixo Alentejo. Este posicionamento deve estar sempre presente quando escrevo e quando lerem aquilo que escrevo. 

 

Em segundo lugar importa dizer que nasci, fui criado, vivo e quero viver, para sempre, no meu concelho: Odemira. Julgo que é importante dizer isto porque este é o ângulo com que vejo o Baixo Alentejo. Por ultimo quero dizer que fui dirigente associativo, fui autarca, sou militante do Partido Socialista e que, de momento, trabalho na gestão dos fundos comunitários, no Alentejo2020, como membro da comissão diretiva. Estes são filtros para ver a realidade, dados pela experiência de vida profissional, mas nunca assinarei nem escreverei os meus artigos como tal. Escreverei sempre como Hélder Guerreiro, que é, sempre foi, e sempre será, independentemente das responsabilidades que tenha em cada momento, uma pessoa de pensamento livre.

 

Dito isto, em modo de síntese das coisas que escrevi no passado, gostava de introduzir alguns aspetos que estão a mudar o Baixo Alentejo e que, nos próximos dois anos, serão a base para todas as decisões que teremos que tomar (nas nossas mãos). São – do meu ângulo, da minha posição e com os meus filtros –, os desafios do futuro. A primeira metamorfose tem como base as transformações que os perímetros de rega de Alqueva e de Santa Clara produziram na região. A transformação é esmagadora em termos económicos, ambientais e sociais e não podemos, coletivamente, ignorar nenhum dos aspetos dessa transformação.

 

A segunda metamorfose tem por base a demografia. Dirão que o duplo envelhecimento é um processo já com anos suficientes para ser referido hoje. Eu sei que nada disto é uma novidade, mas a velocidade como ocorreu nas ultimas décadas e a expressão dos efeitos desse processo produzem hoje uma região envelhecida. Esta transformação remete-nos para a necessidade de produzirmos soluções de adaptação para a realidade demográfica, mas também para nos tornarmos mais competitivos na captação de novos residentes, considerando que o nosso saldo natural, mesmo que incentivado por medidas mais ou menos criativas, já não é suficiente para uma revitalização demográfica.

 

Fruto destas duas metamorfoses, aqueles que eu penso que são os desafios para os próximos dois anos são, de forma sintética, os seguintes: qual o posicionamento dos atores regionais e, por conseguinte, da região, sobre si própria, ou seja, queremos ser Baixo Alentejo ou não? Que soluções preparamos, temos que ser nós, para os impactos (positivos e negativos) produzidos pelos usos de hoje (e de futuro) dos nossos perímetros de rega? Que soluções preparamos, para toda a vastidão de territórios não regados e que estão na primeira linha dos processos de desertificação? Que soluções contruímos para sermos mais competitivos demograficamente?

 

Quando eu digo que os próximos dois anos são fundamentais para nos posicionarmos relativamente a estes desafios, digo porque temos um contexto especial. Vejamos: desde logo a construção de um novo período de programação de fundos comunitários e, convenhamos que o seu desenho e as suas prioridades podem ser relevantes para todos nós; estes dois primeiros anos da próxima legislatura do futuro governo são determinantes para a implementação, ou não, das conclusões emanadas da comissão independente criada na Assembleia da República para a descentralização e para a implementação, ou não, do processo de democratização das Comissões de Coordenação Regionais.

 

Finalmente, estes dois próximos anos são os dois últimos anos de mandato dos atuais executivos autárquicos, mas são também os dois anos que nos restam, a todos nós, para encontrar aqueles que podem ser os principais pontos em que os futuros autarcas sintam estar de acordo para, em liberdade, os proporem a todos os baixos-alentejanos.

 

Para que toda esta discussão possa ocorrer, primeiro, temos que encontrar as lideranças e os espaços para o diálogo entre todos os atores do Baixo Alentejo. Temos que, não necessariamente em unanimidade, construir as soluções sobre as quais estamos de acordo e fazer! É para isso que estou disponível.

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