Diário do Alentejo

Sistema educativo versus educação
Opinião

Sistema educativo versus educação

Jorge Rosa, presidente da C.M. de Mértola

27 de agosto 2019 - 11:25

No meu conceito, de uma forma genérica, sistema educativo são todas as instituições, privadas ou públicas, que intervêm no ensino em Portugal, e educação é aquilo que se recebe desse sistema educacional, e que forma a pessoa para a sua vida futura. Nunca o nosso sistema educativo foi tão bem composto. Desde tenra idade, aos seis meses de vida, começa-se a frequentar o berçário, depois, infantário, depois, ensino primário, ou 1.º ciclo, e continua-se por aí fora até ao ensino académico, nas várias escolas, politécnicos e universidades. De uma forma geral as instalações são boas, embora também existam más. De uma forma geral as equipas de trabalho, professores, auxiliares, e demais recursos humanos das escolas, são razoáveis, embora também existam maus profissionais, de resto, como em todo o lado.

 

As autarquias desempenham um papel absolutamente fundamental na criação de condições e promovendo a igualdade no acesso à educação e, hoje em dia, talvez sejam mesmo as condições oferecidas no interior melhores e mais completas do que as que oferecem os grandes centros urbanos, devendo-se isso ao trabalho empenhado dos autarcas. O estado central também pratica uma política de apoio familiar e escolar maior, sendo uma das últimas medidas que exemplificam isso a cedência dos manuais escolares a todos os alunos até ao 12.º ano de escolaridade. Além do mais, temos várias estruturas de apoio à educação e de aconselhamento, e até exigência de melhores condições, como o são, por exemplo, os conselhos municipais de educação ou as associações de pais e encarregados de educação, que desempenham funções relevantes dentro do nosso sistema educativo.

 

Então, podemos perguntar, se o sistema educativo está hoje mais completo e estruturado do que nunca, as infraestruturas e meios tecnológicos são mais modernos e com melhores condições, os alunos e quem os ensina têm a vida muito mais cómoda nas escolas, e nas deslocações para lá, comparativamente, por exemplo, com o meu tempo de escola, por que é que a educação está pior, os alunos mais mal preparados e a saber cada vez menos do que deviam em cada nível de ensino?

 

Se perguntarmos isto aos professores, que são os “rostos” da educação, vão dizer que os miúdos têm demasiadas distrações, e possivelmente têm razão, que os familiares mais próximos, pais, avós e restantes encarregados de educação, não ajudam, pois a educação vem de casa, etc.,etc., tal como me dizem também a mim como pai de três filhos, todos em idade escolar, nos 4.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade. Claro que parte da educação vem de casa, mas a maior parte deve vir da escola. Exemplificando, com acesso à matemática simples, e fazendo as contas aos dias que são de aulas, se o dia tem 24 horas, se os alunos dormirem oito horas, se usarem outras duas horas para se arranjarem para a escola e para as deslocações, restam 14 horas. Se pensarmos que chegam às escolas às 8:30 horas e regressam a casa às 19:30 horas, das 14 restantes estão 11 horas na escola e apenas três com os pais e encarregados de educação, usando ainda parte deste tempo para os trabalhos de casa.

 

Se usarmos um percentil, para que todos percebam melhor, das tais 14 horas estão cerca de 79 por cento do seu tempo na escola e apenas 21 por cento com quem os educa em casa. Arredondando a proporção de responsabilidade da educação é de quatro partes da escola (professores, auxiliares, etc.) e de apenas uma parte dos pais e encarregados de educação. Não pretendendo aligeirar responsabilidades, os factos são estes. Falo em geral, claro está, pois sei que tal como há maus professores, que tendem a deixar de parte alguns alunos menos capacitados, que seriam os que necessitariam de maior apoio, para elevarem mais as médias dos que são melhores e mais capacitados, também há encarregados de educação desligados, e que não dão a devida atenção aos seus educandos, não só nas componentes escolares, mas também nas cívicas e de higiene.

 

Recordo com saudades o meu tempo de escola primária, onde uma única professora, sem auxiliares, dava conta de cerca de 30 alunos, desde o 1.º ano ao 4.º ano, e quando passavam para o 5.º ano iam impecavelmente preparados, e ainda fazia a tal formação cívica, muitas vezes alertando os pais desleixados para a falta de higiene ou até de vestimenta. (Um beijinho de agradecimento à D. Irene). A verdade é que já não há alunos assim preparados e também já não há professores assim.  Mas os programas de ensino também têm piorado, e também contribuem para uma pior educação, pois os conteúdos e a pedagogia usada para os ensinar não servem os tempos presentes. Não posso aceitar que numa turma de apenas 16 alunos 13 tenham tido negativa a matemática. Ao olhar para as pautas avaliativas não posso aceitar que as notas más se equiparem percentualmente às melhores. E quando há alunos de 18 a 20 numas disciplinas, havendo outros que na mesma disciplina, e por vezes na mesma turma, têm notas de 3, 4, 5, então decididamente algo vai mesmo mal.

A educação apresenta sérias deficiências, por estar igualmente deficiente e desajustado o sistema educativo. Muito há a fazer para mudar esta realidade, e isso urge ser feito. Defendo uma reforma completa do sistema educativo, desde os programas de ensino à pedagogia usada, aos conteúdos e níveis de exigência aos alunos. Sabemos que a educação é um dos pilares fundamentais de qualquer estado de direito democrático, e é uma parte essencial do sucesso futuro de qualquer país, pelo que a responsabilidade é do Estado, mas é também de todos os portugueses!

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