Diário do Alentejo

Aeroporto
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Luís Godinho, jornalista

16 de março 2021 - 17:05

8 de março de 1969. O Governo, liderado por Marcelo Caetano, publica o decreto-lei n.º 48 902. “Alguns anos depois de construído o atual Aeroporto de Lisboa começou a operar-se no mundo inteiro uma evolução rapidamente progressiva da técnica da aviação, conduzindo este meio de transporte à função preponderante que hoje lhe cabe na vida da humanidade”. E assim, o aeroporto que em 1942 havia registado um movimento de 2 900 passageiros atingia, nesses finais dos anos 60, números na ordem dos 1,4 milhões de passageiros por ano (em 2019 foram 31 milhões). Tornava-se assim urgente tomar medidas, tanto mais que as várias adaptações realizadas até então não chegavam para responder à procura. O Governo decide criar o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, para “empreender, promover e coordenar toda a atividade relacionada com a construção do novo aeroporto”. Para despesas de funcionamento foram-lhe atribuídos mil e quinhentos contos (o equivalente a 460 mil euros). Foi a primeira despesa com o novo aeroporto de Lisboa. Passam-se cinco anos e nada acontece. Chega a Revolução de Abril e as prioridades são outras. Dá-se a entrada na União Europeia, depois as maiorias absolutas de Cavaco… tudo como dantes. Uns pequenos estudos aqui, umas intervenções públicas acolá, e eis que em 1998 o Governo de António Guterres decide criar uma empresa pública, denominada NAER – Novo Aeroporto, para tratar de vez do assunto. Os anos e os governos passam, as opções também: Ota, Alcochete, Montijo, margem sul “jamais”, Mário Lino sai do Governo, Sócrates também, chegam Passos e a ‘troika’, resgate financeiro, António Costa, Montijo agora sim, ou melhor, agora não pois a opção tem elevados custos ambientais, os autarcas não querem e talvez se estude novamente Alcochete, e porque não Beja? – já lá vamos. Antes convém sublinhar que, segundo os cálculos do Tribunal de Contas (TC), entre grupos de trabalho, empresas, estudos, pareceres e outras despesas do género o futuro (?) novo aeroporto de Lisboa já custou aos contribuintes bem mais de 71 milhões de euros (contas feitas em 2007 que incluíram também a dívida da NAER a terceiros, que à época se cifrava em 12,8 milhões de euros). Rios de dinheiro, portanto. O suficiente, por exemplo, para custear toda a modernização da linha ferroviária entre Casa Branca e Funcheira e colocar a circular comboios a uma velocidade de 200 quilómetros por hora (bem sei que o custo estimado é de 180 milhões de euros, mas a obra é financiada por fundos comunitários). Com Montijo em “banho-maria”, eis que a empresa do novo consultor político de Marcelo Rebelo de Sousa traz novamente para a mesa a opção Beja. E vale a pena olhá-la com atenção, na medida em que se quiser construir um país mais coeso. Isso não invalida a necessidade de serem dados passos mais imediatos para a afirmação de Beja como aeroporto-indústria, com a criação de postos de trabalho (à semelhança do que a Hi-Fly está a fazer), essenciais para fixar pessoas num território cada vez mais despovoado.

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