Diário do Alentejo

Moços da minha idade
Opinião

Moços da minha idade

Vítor Encarnação, professor

16 de março 2021 - 15:30

Moços da minha idade. Que bela e jovem e eterna é esta frase. Cada vez gosto mais dela. Trago-a comigo há anos, dentro do cérebro onde se pensa e dentro do coração onde se sente, cada vez mais próxima, cada vez mais funda. Digo-a com mais frequência à medida que o corpo vai quebrando, sempre que o espelho me desengana. A primeira vez que a ouvi foi na boca do meu avô, tinha ele quase setenta anos, coisa estranha aos ouvidos de uma criança, eu disse-lhe que moço era eu e o meu avô sorriu e disse que moços seremos sempre todos pela vida fora, é isso que nos ajuda a encarar os anos que vamos tendo a menos, a idade não é o tempo que temos a mais, a idade é o tempo que nos resta. Quando falamos uns dos outros, a cada dia que chega, a cada ano que passa, a cada década que muda, muito mais velhos do que já fomos, somos sempre moços da nossa idade, leais companheiros de lembranças. As lembranças não envelhecem, não nos envelhecem, as lembranças mantêm-nos sempre na mesma, ou seja, cada vez mais novos por comparação ao que realmente somos. E nós, jovens por dentro, aproveitamos essa ilusão para fazermos frente ao tempo que não perdoa. Sermos moços da mesma idade é um consolo, uma felicidade, uma vitória sobre o prazo que nos deram para viver. E assim vamos vivendo até ao dia em que se diga que aquele que partiu tão novo era um moço da minha idade.

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