Diário do Alentejo

O PCP não vive no nosso mundo!
Opinião

O PCP não vive no nosso mundo!

António José Brito, presidente da Câmara de Castro Verde

29 de novembro 2020 - 09:00

Discordo com frontalidade da realização do Congresso do PCP, tal como discordei da realização da Festa do Avante em setembro. Num e noutro caso, o PCP age à revelia deste tempo que vivemos, ignorando, com a altivez do costume, um período único da nossa história contemporânea, que já levou à morte 1.360.000 pessoas em todo mundo.

 

Este é o mesmo PCP que, sem espelhos e sem querer receber lições de ninguém, não tem pudor em fazer o “caminho cego e obstinado” que, repetidamente, acusa todos os outros de fazerem em muitas ocasiões.

 

O PCP, que perdeu e vai continuar a perder influência social e política, não percebe que o seu destino está a ser o fruto da sua própria atitude egocêntrica, muitas vezes paternal, baseada num pensamento frívolo, mil vezes repetido, em que alimenta a ideia de que há uma campanha do resto do mundo contra os comunistas e o seu papel indispensável na sociedade portuguesa.

 

Por isso pergunto: seremos apenas nós a anotar o cansaço do repetido discurso “patriótico e de esquerda” e esta visão tão curta, acantonada numa linguagem obsoleta e esgotada, porque repetida ao extremo, já sem energia nem novidade?

 

Sou eleito autárquicos do PS e não ignoro que, desde 2016, há um acordo parlamentar PS/PCP que levou os dois partidos a serem generosamente tolerantes entre si. Esse clima permitiu avanços importantes para a maioria dos portugueses mas, creio francamente, não pode dar legitimidade e asas à livre ação do PCP.

 

Tanto que, em plena pandemia, dá-se ao luxo de promover a Festa do Avante e, no pior e mais duro momento de risco sanitário de sempre, vai organizar um congresso nacional onde juntará centenas de pessoas.

 

Como pode um país onde todos somos responsáveis, cumpridores e defensores da saúde pública, estar agora de acordo com a realização do Congresso do PCP? Será que, a exemplo de muitos congressos e eventos, adiados para 2021, o PCP não podia fazer o mesmo? E por que é que não o quer fazer?

 

São várias perguntas legítimas e aparentemente sem resposta. Seja como for, creio que os portugueses mereciam uma atitude mais responsável e respeitadora e, pelo menos uma vez, um exercício de humildade e modéstia do Partido Comunista.

 

Infelizmente, essa não é a sua natureza. Este é só mais um exemplo da autoproclamada “superioridade moral” do PCP que, quando confrontado com a falta de sensatez, se veste de arrogância e obstinação. Fez isso na Festa do Avante e fá-lo agora no Congresso. Faz mal e vai pagar uma fatura alta por isso!

 

Ninguém de bom senso aceita esta atitude. Pessoalmente e com toda a frontalidade, manifesto aqui em voz alta que a realização deste Congresso do PCP é mais um rude e preocupante golpe na credibilidade dos partidos e da nossa democracia.

 

E não façamos de conta que ignoramos que, ao mesmo tempo, este é mais um generoso contributo para dar força ao crescente movimento populista que, por estes dias, parece não precisar de fazer nada para marcar posições e continuar a crescer. Desta vez, com a ajuda do PCP.

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