Diário do Alentejo

‘Quo Vadis’ aeroporto de Beja?
Opinião

‘Quo Vadis’ aeroporto de Beja?

Manuel Camacho, gestor

12 de novembro 2020 - 15:00

Nos últimos tempos algumas notícias têm referido o aeroporto de Beja pelas mais diversas razões, a saber:

- A ministra da Coesão Territorial disse em Beja que o Aeroporto de Beja contava para a dinamização económica e social do território onde está inserido;

- A Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS) referiu que para um desejável desenvolvimento do Porto de Sines é indispensável o complemento estratégico que esta importante infraestrutura aeroportuária encerra;

- A Hi Fly, após o importante investimento já realizado no aeroporto (30 milhões de euros) e prestes a iniciar ali a sua vocação de manutenção de aeronaves, confirmou que deseja continuar a apostar no aeroporto de Beja para a expansão da sua atividade;

- Recentemente foi anunciado um novo investimento aeronáutico em Évora, já que nesta cidade, pelos vistos, existem lotes com a dimensão necessária para acomodar esta natureza de projetos;

- Instado a pronunciar-se sobre este projeto que teve a primazia na escolha dos seus investidores na outra cidade alentejana, o presidente da Câmara Municipal de Beja referiu que o aeroporto de Beja possui vários constrangimentos, sem especificar de forma clara quais são os mesmos;

- Foi recentemente anunciado que, prosseguindo um desígnio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), todas as capitais de distrito deverão de possuir ligações rodoviárias e ferroviárias de primeira ordem;

- Entretanto o Governo continua a apostar na solução do aeroporto do Montijo para desanuviar o aeroporto de Lisboa, apesar da crise mundial da aviação comercial, pairando no ar a própria insolvência da principal operadora nacional, a TAP.

 

Aqui chegados, importa colocar em cima da mesa as duas seguintes questões:

- É intenção do Governo considerar Beja e a sua região como um território onde as suas potencialidades, sobejamente identificadas, contem para a superação das dificuldades que atravessamos, aproveitando a oportunidade que a conjuntura do PRR pode propiciar?

- Para quando a criação de uma estrutura empresarial que dinamize em definitivo a zona de atividades complementares do aeroporto e conformes com o âmbito do propósito inicialmente considerado no desenho feito do projeto, que deu corpo à criação do aeroporto de Beja?

 

Não vale a pena lamentarmo-nos sistematicamente pela não inclusão do concelho de Beja e da sua região nos vários projetos que lhes passam ao lado, quando as entidades locais não fazem um esforço de convergência em torno de objetivos claros que conduzam a uma estratégia entendível, logo passível de angariar o entusiasmo e a confiança dos possíveis investidores.

 

No passado, não muito distante, foi possível para arranque do aeroporto de Beja criar-se a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB). Esta empresa pioneira deu os primeiros passos e congregou os municípios através da sua associação, e contou com várias entidades públicas e privadas, dando assim como provado que é possível caminhar e prosseguir em projetos concretos, quando à partida os objetivos são bem claros e passíveis de serem realisticamente alcançados.

 

Na minha modesta opinião, urge criar uma estrutura que ponha de pé uma infraestrutura paralela e complementar ao aeroporto, fora do perímetro da concessão, em espaço previamente definido no Plano Diretor Municipal do concelho de Beja. Esta empresa que seria a gestora do futuro parque, genuinamente ancorada numa parceria alargada, teria como propósito a criação duma infraestrutura que possibilitasse a instalação de unidades das mais diversas naturezas, construída de forma faseada e tendo como horizonte a diversificação da base económica da região.

 

Atrevo-me a sugerir e a desafiar as estruturas mais significativas da nossa região para a sua criação, nomeadamente: as autarquias alentejanas que a desejem incorporar, tendo naturalmente a Câmara de Beja um papel importante, a EDIA, a APS, o Nerbe e a ACOS, sem excluir outras entidades com vocação para abraçar este desafio.

 

É um imperativo para o desenvolvimento do aeroporto, caminhar no sentido de atrevermo-nos a criar a necessária complementaridade para lhe conferir o “músculo” que ainda lhe falta, tornando-o mais competitivo, não esquecendo paralelamente, os investimentos indispensáveis nas infraestruturas rodoviárias e ferroviárias em falta.

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