Diário do Alentejo

Turismo perspetiva “cenários pesados” nos próximos anos

15 de maio 2020 - 09:45

O Governo admite “cenários pesados” para o turismo em Portugal, resultantes do impacto da covid-19. Em declarações ao “Diário do Alentejo”, Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, e Marta Cabral, presidente da Rota Vicentina, partilham a preocupação. Mas deixam claramente em aberto uma visão de esperança e de otimismo para o Alentejo, relativamente ao que poderá vir a constituir-se como o novo paradigma da oferta e da procura turística.

 

Texto José Serrano

 

O ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, admitiu “cenários pesados” para o turismo, transmitindo a preocupação do executivo com o impacto da covid-19 no setor. “Temos de assumir isto, [vamos ter] um período de um ou dois anos em que os níveis da atividade turística vão estar muito abaixo daquilo a que nos habituámos”, disse o governante na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, na Assembleia da República, em Lisboa, sobre as consequências económicas da pandemia. 

Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo diz não ser ainda possível quantificar as consequências nefastas que o abalo da covid-19 terá provocado, até esta data, na região, deixando no entanto uma palavra de esperança e de ânimo aos agentes turísticos “para que não desistam, porque iremos ressurgir”. 

 

Entretanto, o trabalho de reflexão face ao novo futuro está a ser elaborado, por parte da Turismo do Alentejo, conjuntamente com as unidades de alojamento, com os agentes de restauração e de animação turística e em parceria com outras entidades, nomeadamente no que diz respeito às questões de segurança: “Estamos neste momento a trabalhar com a Universidade Nova de Lisboa no Living Lab Turismo e Saúde no sentido de podermos criar condições para que o turista se sinta seguro”. 

 

A segurança será, expõe, condição essencial para o futuro do setor: “Quando voltarmos a abrir será fundamental que haja por parte de quem nos visita uma perceção de segurança sanitária, pois as pessoas só se irão deslocar para destinos onde sintam, inequivocamente, que essa segurança existe e por isso será essencial que as nossas unidades estejam bem preparadas”.

 

As medidas necessárias à reabertura do setor, que englobam os planos de contingência – “que terão de ser muito bem elaborados” – ainda estão a ser estudadas mas poderão passar pela ocupação, nas unidades hoteleiras, de apenas alguns pisos, pelo preenchimento intercalado de quartos, pela utilização de máscara social por parte de todos os funcionários e agentes associados à unidade de alojamento, á semelhança do que poderá vir a acontecer nos restaurantes.

 

Ceia da Silva diz não ter dúvidas que o turista, pelo menos até que seja encontrada uma vacina, irá procurar destinos mais próximos e que o turista nacional será, nessa perspetiva, muito importante para o território. “Esperamos que o turista português escolha o Alentejo para passar as suas férias, de forma segura, para descansar e para diluir toda esta pressão que estamos agora a viver. Será agora mais fácil pensar ir até Serpa, ficar alojado num bom turismo rural, onde os dias se passam em tranquilidade, podendo disfrutar de uma boa gastronomia e de um bom vinho, do que ir para o centro de Nova Iorque. É esta a nova realidade que temos”.

O Alentejo terá até, de acordo com este responsável, aquando da reabertura do setor e de um certo retomar da normalidade, vantagem em relação a outras regiões. Por ser uma zona tranquila, “de horizontes largos”, em que não há grandes aglomerados populacionais, que sempre transmitiu aos turistas uma perceção de segurança. “Penso que será uma região com todas as condições para a retoma da atividade turística, que não sabemos quando irá acontecer, embora saibamos da vontade do Governo, e dos empresários, em retomar certas atividades durante o mês de maio”.

 

Marta Cabral, presidente da Rota Vicentina (Associação para a Promoção do Turismo de Natureza na Costa Alentejana e Vicentina) considera também a importância do mercado interno para a região, questão que desde há algum tempo, “muito antes desta crise”, vinha a ser objeto de reflexão por parte dos responsáveis da associação: “A nossa estratégia começou por tentar atrair o mercado externo porque era aquele que estava claramente preparado para o tipo de produto que oferecemos, muito assente na natureza, bastante qualificado, onde o conteúdo é importante. Nestes aspetos, sentimos que o mercado interno está hoje muito mais maduro, muito mais preparado para o nosso tipo de oferta”.

 

Para além da “questão óbvia” de saúde pública, Marta Cabral diz temer pela sobrevivência socioeconómica das empresas que integram a associação, não sem, no entanto, manifestar a sua confiança no futuro: “Assim que esta questão seja minimamente ultrapassada, assim que seja possível aos cidadãos voltarem a circular, estamos absolutamente confiantes que a nossa oferta responde à ponderação que o mundo inteiro está a fazer, do ponto de vista ambiental, cívico, sociocultural e humano. Estamos muitíssimo preparados para este novo paradigma, que nós esperamos que acelere uma reflexão acerca do papel do turismo no mundo. De como cada um de nós poderá viajar de forma mais consciente e benéfica para toda a cadeia de valor, equacionando como a nossa visita poderá servir a comunidade, o território. Pela nossa parte estamos muito confiantes de que aquilo que nós oferecemos vai servir totalmente aquilo que será o turismo do futuro”.

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