Diário do Alentejo

Baixo Alentejo: Municípios começam a aliviar restrições

09 de maio 2020 - 14:50

Os municípios, que a seu tempo ativaram planos de contingência, estão a rever procedimentos e a adaptar as orientações do Governo à realidade local. No geral, os autarcas com quem o “Diário do Alentejo” falou mostram-se otimistas quanto ao futuro e fazem um balanço positivo da primeira fase da pandemia. No entanto, como “cautelas e caldos de galinha” nunca fizeram mal a ninguém, as medidas de desconfinamento continuarão a ser decididas com o máximo de rigor e em consonância com as autoridades de saúde.

 

Texto: Aníbal Fernandes

 

O concelho de Beja não foi, no distrito, aquele que, até ao momento, registou mais casos, mas foi onde faleceu a única vítima da covid-19 no Alentejo. “A Direção-Geral da Saúde (DGS) contabilizou 10 casos” e segundo os últimos dados recolhidos, “um faleceu, sete estão recuperados, portanto, teremos dois ou três casos ativos”, diz Paulo Arsénio, sem, no entanto, esconder os seus dois motivos de maior preocupação: “Os lares e o Bairro das Pedreiras”. No entanto, para o presidente da Câmara Municipal de Beja o cenário “não é tão dramático como, ao início, se poderia temer. Diria que o balanço é extremamente positivo”. Nélson Brito manifesta um “otimismo moderado”. De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Aljustrel, existem “situações bastante díspares a nível nacional e o procedimento de desconfinamento deverá ser adaptado a essas diferentes realidades”. Quanto ao balanço desta primeira fase da pandemia, que no seu concelho conta apenas com “dois caso positivos, entretanto recuperados”, o autarca constata que no Alentejo se assistiu a uma “estabilização de novos casos” e em termos nacionais também parece que “os objetivos foram alcançados e não aconteceu a sobrelotação dos serviços de saúde que nos poderia ter levado a um nível de mortalidade mais elevado”.

 

Por seu lado, Tomé Pires – que no concelho de Serpa viu surgir um foco de contágio com algum significado – considera que “as medidas tomadas, quer pelo município, quer pelas autoridades de saúde e, em especial, pelas próprias pessoas, em muito ajudaram para que esse foco não fosse mais grave”. Já João Português, presidente da Câmara Municipal de Cuba, embora admitindo que a primeira vaga do combate à pandemia foi “relativamente bem-sucedido”, aponta “falhas e desarticulação entre organismos do Estado” que não deveriam ter sucedido. “Pôs a descoberto o desinvestimento de sucessivos Governos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), quer em meios humanos quer materiais, e demonstrou claramente que a transferência de competências em matérias tão sensíveis como a da saúde, que exigem uma coordenação nacional, é totalmente errada e irresponsável”. António José Brito, presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, considera que as medidas de desconfinamento anunciadas pelo Governo são as “adequadas” e que, “de um modo geral”, as que têm sido tomadas – também pelas autarquias locais – foram “ponderadas e acertadas”.

 

Admite, no entanto, que “sendo este um processo novo para todos, possa ter havido uma ou outra decisão menos ajustada”, mas, acredita, “isso sucedeu em casos muito isolados. Na mesma direção manifesta- se o presidente da Câmara Municipal de Serpa que é favorável “à adoção de medidas de desconfinamento social para que possa haver alguma retoma da atividade económica”. As micro e pequenas empresas – predominantes no concelho – “estão a passar por graves dificuldades e em consequência, também muitos trabalhadores”. Cabe, pois, “ao Governo central criar medidas de apoio a este setor”, defende Tomé Pires. Em Aljustrel, o município, em parceria com as juntas de freguesia, está “a distribuir máscaras de proteção individual a toda a população, doadas pela empresa local Almina” e “a doar viseiras de segurança ao comércio e restauração, produzidas no Centro d´Artes”. Até dia 17 de maio mantém-se ativado o plano municipal de emergência e Proteção Civil. No concelho de Cuba, e perante as novas orientações do Governo, “as novas práticas não exigem grandes adaptações na estratégia de combate à pandemia, pois desde o primeiro momento, utilizámos uma estratégia que deu uma resposta cabal à pandemia”, sublinha João Português.

 

SOLIDARIEDADE E RESPONSABILIDADE

 

António José Brito considera que esta crise “tem permitido destacar muitos dos melhores valores da nossa sociedade”, nomeadamente os da solidariedade e responsabilidade púbica e social. “Não pode ser tudo mau, já nos basta a pandemia”, diz o presidente da Câmara Municipal de Castro Verde que destaca as respostas de apoio às pessoas mais idosas com o projeto “Fique em Casa, Nós Vamos por Si”, que garante compras na farmácia e no supermercado, para além do “contacto diário com essas pessoas, por telefone ou porta-a-porta”, entre outras iniciativas e com o apoio das grande empresas do concelho, como a Somincor, “que ofereceu computadores aos alunos carenciados”. “Neste momento, estamos a avaliar com muito cuidado o quadro social e os efeitos que esta nova realidade tem nas famílias e estaremos prontos para tomar novas medidas”, conclui. Para o presidente da Câmara Municipal de Beja, as “medidas agora anunciadas pelo Governo” parecem “sensatas” e “não lhe ficará mal” se tiver de recuar. “Esperemos que as pessoas cumpram a sua parte e não entrem num clima de desleixo”.

 

Tal como o primeiro-ministro António Costa, Paulo Arsénio admite que esta “abertura vai trazer mais casos”, mas considera que “três meses de confinamento para as empresas é demasiado, é um esforço enorme”... Ent retanto, a Câmara Municipal de Beja decidiu prolongar as medidas de confinamento ao nível dos serviços camarários até ao final de maio. Agora, “perante o levantamento de algumas medidas decidido pelo Governo”, o município resolveu “antecipar a abertura de alguns serviços para o dia 18 deste mês, nomeadamente, o rés-do-chão da biblioteca, o cemitério e o jardim público. O resto abre a 1 de junho”, anuncia Paulo Arsénio. Em Serpa, a Biblioteca Municipal Abade Correia da Serra irá abrir ao público no próximo dia 12 de maio, “depois de implementados mecanismos de segurança e de definidos critérios de admissão”, explica o presidente da Câmara Municipal, Tomé Pires, adiantando que “também os serviços de atendimento vão manter a regra de só fazer atendimentos presenciais mediante marcação prévia e só se realizarão caso o munícipe utilize uma máscara de proteção.

 

Além destas medidas, vão ser instalados separadores acrílicos para dividir os trabalhadores municipais do público”. Em Cuba os serviços da autarquia vão “acompanhar o desconfinamento” e já reabriram “os serviços da autarquia à população, mantendo regras exigentes de higiene e distanciamento físico”, além do uso obrigatório das máscaras. “Julgamos que os serviços públicos devem dar o exemplo e transmitir confiança à população nesta reabertura da sociedade e da economia”, resume João Português. Em Castro Verde, onde “todos os serviços municipais estiveram com horários reduzidos e em turnos semanais alternados durante o mês de abril”, na passada segunda- feira foi retomado o horário normal, “com presenças desfasadas nos espaços reduzidos e uso obrigatório de máscara”.

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