Diário do Alentejo

Portugueses preferem aeroporto de Beja ao do Montijo

03 de abril 2020 - 15:30

Cerca de um quinto dos portugueses consideram que Beja é a melhor localização para instalar um novo aeroporto para aumentar a capacidade aeroportuária para a região de Lisboa. Numa sondagem divulgada esta semana, a utilização da Base Aérea 6, no Montijo, aparece atrás da solução da pista do Baixo Alentejo, com apenas 15,5 por cento das preferências. Quanto ao poder de veto dos municípios afetados pela construção do novo aeroporto, 59,1 por cento das pessoas consultadas concorda com ele.

Texto: Aníbal Fernandes

Um terço dos portugueses não sabe o que responder quando lhe perguntam onde deve ser instalado a nova infraestrutura aeroportuária de apoio ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, mas 18,8 por cento não têm dúvidas: a melhor solução é Beja. Uma sondagem realizada pela Intercampus para os jornais “Negócios” e “Correio da Manhã”, revela que a solução Montijo apenas é defendida por 15,5 por cento dos inquiridos. A opção Alcochete conta com a simpatia de 11,3 por cento, enquanto 10 por cento considera que a “velhinha” Portela chega e sobra para as encomendas. Numa altura em que a solução defendida pelo Governo se tem deparado com alguns problemas, como o veto de algumas autarquias da margem Sul do Tejo, a providência cautelar a suspender a Declaração de Impacte Ambiental aceite pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada, ou o parecer desfavorável da Autoridade Nacional de Proteção Civil, a opção por Beja volta a ser falada.

 

Para Florival Baiôa, um dos dirigentes do movimento de cidadão Beja Merece +, os resultados da sondagem vêm mostrar “que se conseguiu sensibilizar as pessoas” para esta questão. O historiador bejense diz que só a ausência de acessibilidades impede que o aeroporto de Beja, com capacidade para receber 1,5 milhões de passageiros por ano, seja “efetivamente” um complemento ao Humberto Delgado. “Se tivermos acessibilidades” a solução passa a ser exequível”, afirma. Quanto à opção Montijo, Florival Baiôa considera-a ferida de morte e não acredita que a União Europeia venha a apoiar financeiramente um projeto com tantos “problemas ecológicos e ambientais”. Macrocefalia de Lisboa Também José Soeiro, um dos coordenadores do Movimento AMAlentejo, não se mostra surpreendido com os dados vindos a lume. “O feedback recolhido nas redes sociais do movimento sobre o tema eram extremamente favoráveis para Beja”, diz o ex-deputado do PCP à Assembleia da República. No entanto, José Soeiro não vê o aeroporto de Beja como contraponto ao Montijo, mas antes como como uma “oportunidade para todo o Sul do País e para a Andaluzia e Estremadura espanholas”, um grande território sem acesso a voos intercontinentais que podiam realizar-se a partir de Beja para um universo de 800 mil pessoas. Mas não só. O aeroporto de Beja também podia funcionar como um entreposto logístico para o transporte de mercadorias – “sobretudo de frescos” – para o norte da Europa.

 

O que impede esta solução, no entender de José Soeiro, são “os interesses macrocéfalos deste País que não deixam sair nada de Lisboa”. “Falta vontade política para transformar a infraestrutura de Beja num verdadeiro aeroporto civil, embora mantendo a componente militar, tal como existe em Figo Maduro”, acusa. A distância não interessa Filipe Pombeiro, presidente do Núcleo Empresarial da Região de Beja (Nerbe) e membro da Plataforma Alentejo, mostra-se algo surpreendido com o resultado da sondagem “porque a nível nacional é sempre muito difícil dar a entender que os projetos no Alentejo têm retorno, mas considera que é preciso “relativizar”. “Com as acessibilidades existentes nunca o aeroporto pode ser de redundância ou complementar a Lisboa”, afirma. Mas com ligações rodoviárias e ferroviárias que aproximem, em termos de tempo, – “a distância não interessa – Beja de Lisboa e Faro “as pessoas vão perceber” a utilidade da infraestrutura, “tal como aconteceu com o Alqueva”. “O aeroporto está a fazer o seu caminho e no final lá chegará. Esperemos é que não demore tanto como o Alqueva”, desabafa Filipe Pombeiro. Potencial extraordinário Também Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, defende que o aeroporto “é uma boa retaguarda, quer para Lisboa, quer para Faro, para poder descongestionar, significativamente, esses aeroportos superlotados”. O autarca bejense diz que esta infraestrutura alentejana “tem uma palavra decisiva” no âmbito do sistema aeroportuário nacional e, embora reconhecendo que “não tem, neste momento, o espaço de estacionamento suficiente e a capacidade de processamento de passageiros por hora para poder fazer essa substituição”, diz que “a infraestrutura pode e deve ser melhor aproveitada, nomeadamente como segundo aeroporto”.

 

“Beja tem um potencial extraordinário para responder, sempre que seja necessário, ao sistema aeroportuário”, tendo até já dado provas disso, refere. A opção pelo Montijo foi a mais defendida na sondagem pelos inquiridos residentes na região de Lisboa, com 19,3 por cento a favor desta localização, mas Beja aparece logo em segundo lugar (16,9 por cento). Já no Alentejo, 42,2 por cento dos entrevistados apontaram Beja como a melhor solução. Em termos gerais, para além dos locais já citados, foram ainda referidos Alverca (10,8 por cento) e Ota (três). 77, 1 por cento do universo consultado considera que as populações afetadas pela construção do futuro aeroporto devem ser ouvidas em referendo. O erro máximo da sondagem é de, mais ou menos, quatro por cento.

 

30 MILHÕES E 150 EMPREGOS

 

Paulo Arsénio revela que a Hi Fly está a construir, em Beja, uma base operacional para a manutenção das suas aeronaves, estando o prazo previsto para a conclusão do novo hangar agendado para o final deste ano. Em declarações à Rádio Renascença, o presidente da Câmara de Beja disse, ainda, que o projeto, que se estende por uma área de 9 500 metros quadrados, “vai fixar população e mão-de-obra especializada” e revelou que o investimento previsto é de 30 milhões de euros e irá criar 150 empregos nos primeiros três anos de atividade.

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