Diário do Alentejo

Covid-19: Sindicato contra despedimento na refinaria de Sines

03 de abril 2020 - 11:25

Os representantes dos trabalhadores da refinaria de Sines responsabilizaram a Petrogal pelo despedimento de 90 trabalhadores que prestam serviço de manutenção através de uma empresa subcontratada pela Martifer, que é contratada pela petrolífera. A Federação dos Sindicatos das Indústrias Metalúrgicas, Elétricas, Químicas e Metalomecânicas (Fiequimetal) divulgou um comunicado em que afirmou que a Petrogal deve responder pelos despedimentos previstos para a refinaria de Sines e acusou a Martifer de mandar a sua subcontratada CMN dispensar 90 trabalhadores.

 

A Comissão de Trabalhadores (CT) da refinaria também já tinha emitido um comunicado a responsabilizar a Petrogal pela situação, que enviou ao Presidente da República e ao primeiro-ministro. A Galp garante o recurso a prestadores de serviços externos “é uma prática normal, quase obrigatória em instalações industriais, nomeadamente para fazer face a inúmeros trabalhos especializados em que estas empresas têm adequados recursos e know-how”.

 

“A contratação de fornecedores e prestadores de serviços externos é, de resto, uma das formas através das quais estas grandes unidades industriais contribuem para a criação de riqueza na sociedade, criando empregos e promovendo todo um tecido empresarial que, de outra forma, não se desenvolveria”, defende a Galp.

 

Hélder Guerreiro, dirigente do Site Sul (sindicatos das indústrias transformadoras, que integra a Fiequimetal) e coordenador da CT da Petrogal, diz que os 90 trabalhadores que vão ficar sem trabalho pertencem todos à empresa de manutenção CMN, subcontratada pela Martifer. Segundo o sindicalista, 60 dos trabalhadores a dispensar têm contrato a termo certo ou por tempo indeterminado e os restantes 30 trabalham à hora. “Muitos dos trabalhadores asseguram a manutenção da refinaria há 30, 20 ou 10 anos e entre os ultra precários, que trabalham à hora, também há quem preste este serviço há 5 anos””, salientou o sindicalista.

 

A CMN começou hoje a notificar os trabalhadores em causa e dispensou-os com efeitos imediatos. Entre os despedidos está um dirigente do Site Sul e um delegado sindical do mesmo sindicato. A empresa subcontratada vai manter na refinaria 30 ou 40 trabalhadores, mas Hélder Guerreiro considerou que esse número é insuficiente para assegurar a manutenção da petrolífera em Sines. “Quando discutimos os serviços mínimos para a greve que fizemos há um ano na refinaria de Sines, a Petrogal insistiu que precisava de cerca de 100 trabalhadores para assegurar a manutenção, por isso eles devem ser mesmo necessários”.

 

Segundo o sindicalista foi a Martifer que forçou o despedimento, mas a Petrogal é igualmente responsável. Fonte oficial da Martifer diz que os trabalhadores em causa não têm qualquer vínculo contratual com a Martifer. Hélder Guerreiro lamentou que as empresas estejam a aproveitar-se dos constrangimentos causados pela covid-19 para despedir. “Nesta altura, com o estado de emergência, nem sequer podemos convocar uma concentração ou uma manifestação para denunciar a situação e os tribunais também só funcionam para caso urgentes”, disse o sindicalista.

 

Este era um dos casos que o coordenador da Fiequimetal, Rogério Silva, pretendia discutir com a ministra do Trabalho e, por isso, pediu uma reunião urgente há uma semana, mas sem sucesso. O objetivo da reunião, à distância como mandam as atuais regras de saúde pública, era denunciar casos de abusos cometidos por empresas face aos constrangimentos causados pela covid-19.

Comentários