Diário do Alentejo

Projeto da LPN tenta salvar águia-imperial-ibérica

10 de dezembro 2019 - 11:00
Projeto de conservação, implementado desde 2014, com balanço “extremamente positivo”
Fotografia Jose PesqueroFotografia Jose Pesquero

A população de águia-imperial-ibérica registou um aumento, na região, de oito novos casais, comparativamente aos contabilizados há cinco anos. Um registo positivo resultante do trabalho que, desde 2014, tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do Projeto Life Imperial, cujo propósito é, através da aplicação de um conjunto de medidas, aumentar o número efetivo desta espécie, em Portugal. Os 17 casais destas aves de rapina agora registados, povoando uma área que vai de Barrancos a Castro Verde, promovem a esperança de a espécie poder vir a ser consolidada e sair da categoria de “criticamente em perigo”, onde ainda, todavia, se encontra.

 

Texto José Serrano

 

A Liga para a Proteção da Natureza (LPN), em parceria com a Câmara Municipal de Castro verde, apresentou recentemente, naquela vila, o seminário do Projeto Life Imperial, implementado desde 2014, que pretende promover, através da aplicação de um conjunto de ações de conservação, o aumento da população de aves de rapina em Portugal, nomeadamente, a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti). Uma espécie que figura atualmente entre as mais raras do mundo, endémica da Península Ibérica, com estatuto de conservação em Portugal, desde 2003, de “criticamente em perigo”, categoria atribuída às espécies selvagens que enfrentam um risco extremamente elevado de extinção na natureza.

 

Paulo Marques, biólogo da LPN e coordenador deste projeto de conservação financiado pela Comissão Europeia, classifica o balanço da implementação do programa como “extremamente positivo”, com o aumento da população da espécie, ao longo destes cinco anos, de nove para 17 casais, num contínuo geográfico regional que vai de Castro Verde até Barrancos, passando por Serpa e Moura. Um crescimento que é consequência, segundo o responsável, da execução de um variado conjunto de ações, como o estabelecimento de campos de repovoamento de coelho- -bravo e medidas de gestão do habitat para fomento de presas, campanhas de sensibilização em escolas e com partes interessadas – nomeadamente, operadores turísticos, caçadores e gestores florestais –, a implementação de medidas que evitem a eletrocussão nas linhas elétricas ou a capacitação da deteção de situações ilícitas contra a espécie recorrendo a equipas cinotécnicas da GNR.

 

Apesar deste aclamado crescimento, a espécie continua com o estatuto de ameaça mais elevado, sendo necessário, diz Paulo Marques, “um pouco de esforço suplementar para que a população aumente e a situação se altere positivamente, porque 17 casais continuam a representar uma população bastante reduzida”. Esta necessidade de consolidação da espécie, capaz de a elevar para níveis de classificação menos preocupantes, levou ao prolongamento do prazo do Projeto Life Imperial, inicialmente previsto para finalizar em 2018, agora com data até final de 2020: “Em setembro do ano passado fizemos uma avaliação dos objetivos que pretendíamos alcançar com o projeto e, apesar do valoroso trabalho desenvolvido até essa altura, achámos por bem solidificá-los, pedindo à Comissão Europeia a extensão do período inicialmente previsto para que possamos consolidar os objetivos que já tínhamos alcançado e obter assim um efeito mais duradouro”, diz o responsável da LPN.

 

Causas de mortalidade da espécie

 

As principais causas de morte conhecidas da águia-imperial- -ibérica, em idade reprodutora, são a eletrocussão nas linhas de alta e média tensão, cerca de 50 por cento, o envenenamento (27 por cento) e a morte a tiro (oito por cento). Mas outros e novos fatores de ameaça à espécie estão agora identificados, tal como a perda de habitat, resultante da modificação, na região, de um sistema de produção agrícola mais tradicional para um sistema intensivo, especialmente nas culturas de olival e amendoal, habitats que “a espécie não frequenta, nem para nidificar nem para se alimentar”. Por outro lado, “essa gestão intensiva conduz à perda de território de espécies- presa da águia imperial, nomeadamente, o coelho”, diz Paulo Marques.

 

Outra das ameaças reconhecidas resulta da perturbação junto à zona dos ninhos, ao longo da época reprodutora da águia-imperial-ibérica, espécie muito sensível durante o período de incubação, podendo a presença humana, no decorrer desse período, conduzir à inviabilidade dos ovos. Como forma de diminuir esse incómodo foram promovidas “sessões para operadores turísticos e fotógrafos” e a edição de um guia de boas práticas.

 

O Projeto Life Imperial conta com a parceria de nove entidades (duas das quais espanholas para fomentar o intercâmbio de experiências e conhecimento), nomeadamente, Liga para Proteção da Natureza, Instituto da Conservação da Natureza, Câmara Municipal de Castro Verde, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Guarda Nacional Republicana, EDP, Sociedade Española de Ornitologia, Tecnologia y Servicios Agrarios.

 

A importância da presença da espécie

 

A presença da águia-imperial-ibérica transmite, indiretamente, dados importantes acerca da saúde ambiental da região, como diz o coordenador do Projeto Life, Paulo Marques: “Sendo um predador de topo, a sua presença indica-nos que existem valores naturais significativos na área onde ocorre. Quando estamos a conservar a águiaimperial não trabalhamos apenas para a sua preservação, pois, ao garantirmos os exigentes requisitos para a sua existência, estamos, simultaneamente, a garantir a proteção de um ecossistema, de uma série de outras espécies, à qual esta rapina está associada. A águia-imperial só surge onde o património natural ainda tem um valor elevado. Ao contribuir para a sua presença estamos a contribuir para a preservação da região”. 

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