Diário do Alentejo

Em média no distrito perdem-se por dia 137 litros de água

06 de dezembro 2019 - 11:45

Foi dado a conhecer, recentemente, o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal. Os municípios do distrito de Beja, em conjunto, em média, têm perdas reais de água de 137 litros diários por cada ramal. E a culpa, segundo este relatório e como os próprios municípios indicam, é do envelhecimento dos equipamentos e da falta de manutenção.

 

Texto Bruna Soares

Há litros de água que ficam pelo caminho antes de chegarem às torneiras. E, em 2018, segundo o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal, a média de perda reais, no distrito de Beja, no conjunto de todos os municípios, foi de 137 litros diários por cada ramal. No entanto, a média nacional fixou-se nos 128 litros.

Relatório, este, que, entre outros parâmetros, num dos seus pontos de análise, pretendeu, assim, “avaliar as perdas reais de água”, que consistem em fugas e extravasamentos, “enquanto bem escasso que exige uma gestão racional”.

E, de acordo com a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (Ersar), em resposta ao “Diário do Alentejo”, “as perdas reais de água, segundo as componentes do balanço hídrico, constante do Guia de Avaliação de Qualidade dos Serviços de Águas e Resíduos, podem dever-se a perdas reais nas condutas de água bruta e no tratamento (quando aplicável), fugas nas condutas de adução e//ou distribuição, fugas e extravasamentos nos reservatórios de adução e/ou distribuição e fugas nos ramais de ligação (a montante do ponto de medição) ”. E explica: “Neste balanço, a principal razão para a ocorrência destas perdas está relacionada com o envelhecimento dos diversos equipamentos que compõem o sistema de abastecimento de água, assim como a falta de manutenção dos mesmos”.Situação, esta, que só pode ser mitigada, em seu entender, “através da reabilitação e renovação da rede de água, de uma melhor monitorização da rede e de uma gestão cuidada no controlo das perdas de água”.

Ainda assim, segundo a Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos, a nível nacional, “efetivamente a situação melhorou em 2018 relativamente a 2017, encontrando-se, em termos globais, num desempenho mediano”. Todavia, observando-se o desempenho dos últimos cinco anos de avaliação, constata-se “uma certa estagnação do valor médio do indicador de perdas reais de água”.

No distrito de Beja, o município de Cuba, de acordo com o referido relatório, é o que apresenta maior número de perdas reais, registando 295 litros diários de água por ramal. “São inúmeras as razões para estes resultados, de entre as quais podemos destacar e ainda contabilização dos autoconsumos da autarquia como perdas, mas, acima de tudo, a idade da própria rede de abastecimento de água, tendo, inclusive, existido obras de repavimentação sem a necessária renovação do saneamento básico, o que, aliado à idade das infraestruturas, contribui de forma decisiva para o aumento de perdas quando em comparação com outros concelhos”, explica João Português, presidente da câmara municipal.

O edil, no entanto, frisa que, relativamente a esta matéria, “a Câmara de Cuba quer estar na linha da frente para a resolução desta questão, porque ela consubstancia-se numa perda económica considerável para o erário”. Porque, “hoje em dia, é impensável para o município intervir no espaço público sem que renove a rede de saneamento básico, pelo que todas as intervenções realizadas, ou a realizar, foram e serão acompanhadas dos trabalhos necessários à renovação das infraestruturas”. Prova disso, segundo o presidente da autarquia, “foi o facto de este município ter sido um dos poucos do distrito de Beja a candidatar-se ao programa Poseur, com um programa de investimento que ronda os 160 mil euros”. Programa de investimento que “permitirá a substituição de vários troços da rede, a instalação de zonas de medição e controlo e a aquisição de equipamentos de deteção de fugas, visando precisamente mitigar a perda real de água no sistema e otimizando a eficácia do mesmo, com o objetivo de reduzir as perdas no sistema de forma efetiva já em 2020”.

Além das medidas anteriormente mencionadas, a autarquia revelou ainda que está a elaborar um programa interno para adoção de medidas de mensuração dos autoconsumos, com a introdução de contadores nos edifícios municipais, e pretende ainda desenvolver um plano estratégico para a gestão da água que permita melhorar as diferentes sinergias dentro desta problemática.

“Contudo, entendemos ser emergente, pelo estado das infraestruturas de abastecimento de água em baixa dos municípios portugueses, que o Estado e as entidades gestoras dos fundos comunitários promovam programas de financiamento capazes de dotar os municípios dos recursos necessários para intervir neste setor, sem que o façam depender da necessidade de concentração, muitas vezes meio caminho andado para a privatização do setor. Se, para tal, for necessário que se renegoceie o acordo de parceria com a comissão, então que o façamos ou, pelo menos, que se pense nesta possibilidade para o próximo quadro comunitário de apoio”, conclui João Português.

Tendo por base o mesmo relatório, o concelho onde se verificou menor desperdício no distrito de Beja foi em Almodôvar, com perdas reais de 72 litros de água. Para António Bota, presidente da câmara municipal, “desde 2013 (ano de eleição do atual executivo) a identificação e substituição de tubagens com problemas de perdas de água tem sido uma prioridade”. Isto é: “Sabendo quais as condutas mais antigas e de que materiais são feitas, o nosso trabalho tem sido planear uma substituição por uma tubagem feita de material mais recente, nomeadamente, dentro das possibilidades da equipa de canalizadores e com periodicidade constante, de modo a ir substituindo, todos os meses, parte da rede, bem como para ter uma malha de distribuição como indicado pelas boas normas do setor”.

Assim, em Almodôvar, segundo o autarca, “ao longo de seis anos tem sido feita uma efetiva e permanente substituição de condutas, designadamente, onde as probabilidades de fugas são maiores”. “Também temos em atenção zonas onde as condutas são maiores e a pressão é mais propicia a fazer rebentar as tubagens antigas”, refere.

Depois, “em todos os projetos de beneficiação e reabilitação de ruas, tem-se executado a substituição integral das tubagens”. “Aproveitamos as obras à superfície e gastamos bastante dinheiro em infraestruturas que ficam no subterrâneo e ninguém vê, mas que, a médio e longo prazo, nos garantem menos perdas, mais pressão nas torneiras das casas de cada munícipe e a garantia de que por baixo de ruas reabilitadas estão condutas que não vão dar problemas durante muitos anos”.

Para o autarca, “também é importante referir que a autarquia tem vindo a setorizar as zonas de abastecimento de água, com a instalação de válvulas de setor e, posteriormente, de contadores, para aferir, em pormenor, as diferenças entre a água que chega ao sistema e a água que é consumida”.

No entanto, na opinião de António Bota, “pode-se sempre melhorar e ainda existe um caminho longo pela frente”. “Devemos continuar a aproveitar as obras de reabilitação para substituir as tubagens que se encontram por baixo das ruas e estradas. Devemos continuar a setorizar as redes e a instalar sistemas de deteção de consumos fora do normal. E temos que manter a capacidade de resposta imediata para acorrer às avarias, às fugas de água, pois isso permite a reparação de fugas no imediato e evita, obviamente, que milhões de litros saiam livremente para a natureza, desperdiçando água já tratada para consumo humano e aumentando os custos da câmara sem qualquer benefício para o concelho”, conclui.

Santiago do Cacém é onde menos se desperdiça na região

No conjunto de todos os municípios do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral, onde se verifica menor desperdício é no concelho de Santiago do Cacém. Segundo este relatório, neste município são desperdiçados 17 litros diários de água por ramal. No fim desta tabela, com menos volume de água desperdiçado, no que diz respeito ao Alentejo e Algarve, que são contabilizados em conjunto no mesmo cluster, encontra-se Arraiolos, no Alto Alentejo, com seis litros de água por ramal. Recorde-se que este relatório sintetiza a informação mais relevante referente à caracterização do setor de 2018, referenciada a 31 de dezembro, abordando, entre outros, a sua caraterização e evolução.

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