Diário do Alentejo

Investimento nos novos olivais supera 420 milhões de euros

29 de novembro 2019 - 10:35

Texto Aníbal Fernandes

 

A região do Alentejo tem vindo a afirmar-se “como referência mundial no processo de modernização e inovação na olivicultura” e, já hoje, contribui decisivamente para que, dentro de uma década, Portugal atinja a sétima posição em área de olival e a terceira em produção. Esta é uma das conclusões do estudo “Alentejo: A liderar a Olivicultura Moderna Internacional”, apresentado na passada terça-feira, 26, durante as VI Jornadas organizadas pela Olivum – Associação de Olivicultores do Sul, que tiveram lugar em Beja, no auditório do Nerbe.

As jornadas traçaram o retrato da fileira do azeite, perspetivaram o futuro e responderam aos “argumentos falaciosos” de que os agricultores se sentem vítimas, e que, segundo Paulo Lopes, presidente da Olivum, “põem em causa” o futuro da atividade. “Somos os primeiros interessados em promover boas práticas agrícolas”, disse, mostrando-se ainda disponível para dialogar com o Governo e as associações ambientalistas, lembrando que os agricultores já deram sinal de que são sensíveis a algumas das questões levantadas, nomeadamente, quando decidiram a “suspensão temporária” da apanha noturna da azeitona para proteger a avifauna.

Pedro Santos, diretor-geral da Consulai, empresa que em conjunto com Juan Vilar, consultor espanhol, elaborou o estudo, também reagiu aos “ataques” que a olivicultura tem sofrido, dizendo que o trabalho agora divulgado “tenta desmistificar os argumentos” utilizados pelos detratores, como, por exemplo, a utilização de produtos fitofármacos, que, “quando comparado com outras culturas, não tem significado”.

Neste momento existem 361 483 hectares de olival em Portugal, mas, apesar de um “ligeiro aumento” nos últimos anos, a área ainda é inferior à registada no princípio do século, que era de 367 351 hectares. No entanto, a produtividade quadruplicou nos últimos 18 anos, passando de meia tonelada para duas toneladas de azeitona por hectare.Em termos económicos, no último triénio, o volume de negócios da fileira atingiu os 620 milhões de euros, duas vezes e meia mais do que no triénio de 2010/13, representando nove por cento da produção agrícola nacional.

Já no que se refere ao total do investimento agrícola no Alentejo, que é de 665,7 milhões de euros, o olival representa 64,39 por cento desse valor, sendo que os 55 185 hectares de olival no EFMA “apenas são 1,75 por cento do total do território do Alentejo e 15,27 por cento da área total de olival a nível nacional”.

O estudo refere que “o Alentejo liderou a atual transformação da olivicultura internacional", destacando o efeito do regadio da zona do Alqueva, onde mais de 90 por cento do olival existente é “moderno”, representando “o maior reflexo de inovação, disrupção e desenvolvimento tecnológico do planeta”.

O trabalho salienta ainda que “foi necessária uma enorme evolução do ponto de vista de investigação, conhecimento e experiência para gerir” os olivais e lagares, “através de soluções completamente novas e que, em muitos casos, pela primeira vez, foram desenvolvidos, desenhados, testados e utilizados” na zona do Alqueva, o que permitiu reconverter o olival tradicional em moderno e, “do ponto de vista económico”, assistiu-se a “uma verdadeira revolução”, levando a que a cadeia de valor do azeite “mais do que triplicasse” e “passasse a valer cerca de 450 milhões de euros”.

Nos últimos 11 anos, a área de olival na região cresceu cerca de 30 mil hectares, passando de 158 559 hectares, em 2007, para 188 500 hectares, em 2018.Gonçalo Almeida Simões, que recentemente assumiu o cargo de diretor-executivo da Olivum, regressando de Bruxelas onde exerceu vários cargos na União Europeia, caracterizou o momento atual como “uma fase complicada do ponto de vista mediático”, considerando que o setor “não pode passar de campeão a vilão”, mas garantiu que a associação “está disposta a dialogar com as organizações ambientalistas e perceber até onde pode ir”.

 

O diretor regional de Agricultura e Pescas do Alentejo, José Godinho Calado, também presente no evento, enalteceu a aposta no olival, considerando que “contribui para fixar pessoas e para a tercialização da economia”, mas alertou para o facto de “quando temos uma grande dimensão de uma única espécie, se alguma coisa corre mal pode ser um problema”, dando como exemplo a filoxera que afetou as vinhas portuguesas no século XIX.

 

José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), referindo que estava a falar “para uma plateia convertida”, avançou que “o estudo que o Governo encomendou” à instituição que lidera, por ter de ser concluído em seis meses, “será limitado”. “Quase conseguimos tirar as conclusões antes de fazer o estudo. Para fazer um estudo a sério seriam precisos anos”, adimitiu.

 

Recorde-se que no verão passado, o então ministro da Agricultura Capoulas Santos decidiu, através do Despacho n.º 10/2019, de 27 de maio, determinar “a elaboração de um estudo fundamentado, a apresentar até ao final do primeiro trimestre de 2020, sobre se se justifica ou não o eventual estabelecimento de limites máximos para a expansão desta cultura no perímetro de rega” do Alqueva. José Pedro Salema disse ainda que “a segunda fase do Alqueva acontece por causa do olival. Se fosse para milho ou tomate não haveria água” que chegasse.

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