Diário do Alentejo

Quando a terra se aproxima de “um imenso céu”

04 de novembro 2019 - 16:10
DRDR

Texto José Serrano

 

 

Formado em Design Gráfico pelo IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, Luís Reininho é, desde 1995, professor de artes visuais. O seu percurso formativo na área artística é coincidente com o seu interesse pela fotografia, tendo desde essa altura frequentado alguns cursos específicos. Começou a fotografar de forma sistemática desde 2001, altura em que vem viver para o Baixo Alentejo, designadamente, para Aljustrel. As redes sociais, diz, têm-no ajudado a divulgar o seu trabalho fotográfico, transmitindo-lhe, ao mesmo tempo, um feedback muito positivo e encorajador. Participou em várias exposições individuais e coletivas, a nível nacional, e no ano passado publicou o seu primeiro livro de fotografia, intitulado Alentejo.

 

 

Inaugurada na passada terça-feira, “Vazio” é o nome da exposição fotográfica, da autoria de Luís Reininho, patente ao público, no Fórum Municipal de Castro Verde, até ao próximo dia 15 de novembro. A mostra, constituída por um conjunto de 30 imagens, reflete o olhar do fotógrafo na contemplação da paisagem alentejana.

 

 

De que cores e formas é pintado este seu “Vazio”?

Esta exibição foi pensada para mostrar o meu trabalho de fotografia de paisagem, no Alentejo. O que se pode ver na exposição são essencialmente as linhas sinuosas do contorno da terra a tocar um imenso céu e, por vezes, uma ou duas árvores, o sinal de resistência e de ligação entre esses céus e essa imensa terra, que já lá estavam muito antes da árvore e que por lá vão continuar, muito depois. A árvore efémera, forte e fraca, como testemunha, alimento, sombra.

 

 

Há nesta aparente solidão da paisagem uma inevitável atração?

Sem dúvida. A imagem da árvore, que surge no imenso horizonte, sozinha, frágil e forte, testemunha silenciosa de tudo o que por ali se tem passado, aparentemente imutável mas em constante movimento. Retrato a beleza da sua presença num imenso horizonte. A árvore que convida à paragem do olhar, ali fixo. Depois, a imensidão do horizonte. A árvore como um foco, que estabelece a ligação entre o céu e a terra, entre o “eu e o outro”.

 

 

A ausência do elemento humano, nestas suas imagens, é unicamente uma escolha estética do artista ou pretende partilhar, de alguma forma, o “retrato” do esvaziamento populacional no interior da região?

A ausência do elemento humano é uma escolha e tem a ver com o meu processo de trabalho. Interpreto a fotografia de paisagem como uma ação que implica tempo, espaço, silêncio e contemplação. Para estabelecer a ligação ideal com o meio natural é necessário estar sozinho no ato de fotografar. Também fotografo pessoas, conjuntos de pessoas, eventos, etc.. Mas este é outro tipo de trabalho, outro campo de ação, um outro olhar.

 

 

Qual a importância desta terra alentejana, que o acolheu, no contexto do seu trabalho fotográfico, no seu estímulo criativo?

Viver aqui é uma incrível sorte, pela beleza das paisagens circundantes. O céu, a planície, o amanhecer, o entardecer, não deixam de apelar aos meus sentidos, num pedido de registo, como se tamanha beleza não pudesse deixar de ser testemunhada e partilhada.

 

 

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