“Muitas das vezes nem sequer temos consciência das coisas positivas, temos muito mais consciência daquilo que é negativo e que nos choca, que nos deixa entristecidos, e provavelmente sem margem de progressão”, frisou João Garcia Miguel. “Sr. Moedas” é, assim, um texto que “acaba por refletir sobre a pequenez e a grandeza destes contextos em que vivemos”, indicou o encenador. João Garcia Miguel acrescentou que o projeto “Comichão Europeia” nasceu de forma “fortuita”, depois de um convite que lhe foi lançado, em 2018, por um encenador holandês que também faz parte da organização Informal European Theatre Meeting (IETM) e que pusera em palco uma peça semelhante a partir de um texto em torno do 'seu' comissário europeu, em 2015 e 2016.
À Holanda e a Portugal juntaram-se depois companhias de Itália, Roménia e Letónia que "criaram espetáculos para refletirem sobre este regime europeu” que nos obriga a um conjunto de regras que acabam muitas vezes por ser difíceis de aceitar e perceber”. O espetáculo dos italianos está um pouco mais longínquo da figura do comissário italiano, já que, ao contrário do português, não foi nada sensível a receber o grupo, esclareceu o encenador português. Os romenos têm uma figura muito idealizada a partir de testemunhos de um conjunto de pessoas que foram deputados e comissários europeus, assim como os letões, disse João Garcia Miguel à Lusa, a propósito dos espetáculos que o teatro Ibérico acolhe em dezembro. Só a companhia da Letónia, Story Hub, não se apresentará em Lisboa, em dezembro próximo, mas em abril de 2020, acrescentou João Garcia Miguel.
“Sr. Moedas” já foi apresentado na Holanda e na Roménia. Nos dias 09 e 10 deste mês, estará em cena, em Milão, e, de 15 a 22 de fevereiro, os projetos de todas as companhias serão apresentados em Riga, na Letónia. Com texto, espaço cénico e direção de João Garcia Miguel, "Sr. Moedas" é interpretado por Sara Ribeiro e tem figurinos de Rute Osório de Castro. Trata-se de uma produção da Companhia João Garcia Miguel & Teatro Ibérico, com o Teatro Cine de Torres Vedras, Teatro Aveirense e as autarquias locais de Torres Vedras e Aveiro.
Além da estreia do projeto português em Lisboa e da apresentação dos outros três projetos, o diretor da Companhia JGM conta promover debates com alguns “políticos e pensadores” que acompanhem os espetáculos e façam depois uma “reflexão paralela sobre política internacional”. O objetivo é que o projeto “tenha alcance além do palco, e nos coloque todos a falar e a pensar sobre esta relação”, concluiu.