Diário do Alentejo

Agricultura: Amendoal é a nova aposta do Alqueva

14 de outubro 2019 - 11:10

O espaço ocupado por amendoais na área do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EMFA) é de apenas cinco mil hectares, mas a tendência é de subida. De 2017 para 2018 registou-se um aumento de 26 por cento, existindo agora sete vezes mais área plantada do que em 2015.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Quando comparado com a área ocupada pela vinha (250 mil hectares), ou o olival (177 500 hectares), o amendoal tem um peso muito relativo na ocupação das terras beneficiadas pela entrada em funcionamento do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EMFA), mas o interesse demonstrado pelos investidores por este tipo de fruto seco deixa antever um forte crescimento nos próximos anos. Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que dizem respeito ao todo nacional, desde 2011 que se assiste a “um aumento significativo da instalação de novos pomares”, cerca de 8,6 mil hectares em sete anos. Ainda de acordo com a mesma fonte, “com a entrada em produção dos amendoais instalados nos últimos quatro anos e a aproximação da produção em velocidade cruzeiro daqueles que foram plantados há seis/sete anos, prevê-se um forte aumento da produtividade global face à campanha anterior”, na ordem dos 65 por cento.

Já o Anuário Agrícola de Alqueva 2018, publicação da responsabilidade da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), em Portugal, nesse ano, havia um total de 34 mil hectares de amendoal. Na zona de influência da EDIA, contabilizam-se apenas cinco mil hectares, mas, ainda segundo o mesmo documento, dos 56 mil hectares disponíveis no perímetro de rega 18,5 mil apresentam “aptidão elevado e moderada” para este tipo de cultura.

 

Quanto à origem do investimento nos amendoais instalados no EMFA, cerca de 70 por cento vem de Espanha e 30 por cento são nacionais. Franceses e alemães também aparecem referenciados, mas com números que não atingem um por cento. Por esta altura, no outono, estamos em época propícia à plantação das amendoeiras, “para que a árvore passe o inverno e germine na primavera”. As colheitas ocorrem entre os meses de agosto (variedades precoces) e outubro (variedades tardias).

 

Manuel Grave, de 30 anos, com mestrado em Engenharia Agronómica, considerado em 2018 o “Melhor jovem agricultor europeu”, está, neste momento, a colher pela primeira vez. Quando o “Diário do Alentejo” o contactou estava no pomar a experimentar uma máquina de apanha. A safra, neste ano, ainda será residual, entre 100 e 150 quilos por hectare, mas isso deve-se ao facto de serem árvores de apenas dois anos. Em 2020, a colheita deve render cerca de 10 vezes mais.

O súbito interesse por esta cultura deve-se “ao aumento do preço nos mercados”, diz Manuel Grave, que tem em curso um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros nesta propriedade de 70 hectares, na serra de Portel, dentro do perímetro de rega de Alqueva. Sem isso o projeto não seria concretizável, uma vez que é “a água disponibilizada pelo EMFA” que permite “dinamizar uma zona que era muito pobre” e com terras “secas”. A razão para a amêndoa ser cada vez mais valorizada prende-se com o facto de ser um alimento visto como saudável, que pode ser consumido também como leite, e com aplicações na área da cosmética.

O grande produtor mundial são os Estados Unidos da América, mais concretamente, o estado da Califórnia, na costa do Pacífico, com cerca de 80 por cento. No entanto, lê-se no Anuário Agrícola do Alqueva 2018, “com a grave seca que atinge a Califórnia, a oferta de amêndoa no mercado mundial tem decrescido, ao mesmo tempo que a procura nos mercados emergentes da Ásia tem aumentado”, criando, assim, uma subida de preços que motivou os agricultores portugueses e espanhóis a investirem neste tipo de fruto.  Acresce que para os agricultores que têm olival, as amendoeiras, com a época de colheita desfasada da das oliveiras, permite rentabilizar a maquinaria durante o ano inteiro.

Manuel Grave, para já, vai entregar a totalidade da produção nas fábricas existentes na região. “A área está suficientemente coberta pelas unidades industriais a laborar em Ferreira do Alentejo e Azaruja”, diz, mas não põe de parte a hipóteses de, no futuro, poder fazer ele próprio o descasque do fruto e vender o produto com uma marca própria”. Falta um ano para a primeira colheita a sério. O prémio atribuído pela União Europeia já lá vai. “Foi importante, mas só contribuiu para o prestígio da exploração”, diz o agricultor, explicando que os apoios financeiros recebidos se limitaram ao PDR 2020, o que significa que dos investimentos que é obrigado a fazer será reembolsado, na melhor das hipóteses, em cerca de 39 por cento, uma vez que existem tetos para os investimentos elegíveis “que muitas das vezes são mais baixos” do que os praticados pelo mercado, explica Manuel Grave.

“As árvores estão boas e viçosas, bem formadas e sem doenças graves”, tudo aponta para que, no próximo ano, as expectativas de uma boa colheita se cumpram. Para isso contribuiu em muito a água do Alqueva e as novas técnicas utilizadas, que permitem uma exploração “sustentável e inovadora”. A título de exemplo refira-se que a rega gota-a-gota é permanentemente monitorizada com recurso ao smartphone, onde recebe SMS e notificações de uma aplicação a alertar para qualquer anomalia que possa estar a acontecer.

 

Agroindústria

Nos últimos dois anos apareceram duas unidades de transformação e comercialização de frutos secos na região. No início de 2017, em Ferreira do Alentejo, surgiu a Migdalo, com o objetivo de trabalhar não apenas com a amêndoa, mas também com a noz e a avelã. Têm produção própria, mas a sua atividade está sobretudo virada para a prestação de serviços a outros produtores. Com a mesma intenção, a unidade implantada na Azaruja, no concelho de Évora, pretende dar resposta aos novos produtores da área de Alqueva, concretamente, aos do bloco de Rega do Monte Novo.

 

Em 2017, a produção de amêndoa em Portugal atingiu as 20 toneladas, um décimo das quais no Alentejo. Segundo números do INE, o nosso país importou 3,4 toneladas deste fruto seco de Espanha e Estados Unidos da América. Em sentido inverso, saíram de Portugal 3,7 toneladas do fruto para o mercado espanhol.

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