A decisão e as declarações de Amílcar Falcão provocaram reações acaloradas. A Associação Académica de Coimbra apoiou: “A medida não vai resolver” o problema das alterações climáticas mas “é importante na consciencialização do meio académico”. Organizações do setor agrícola, como a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), contestaram com mais ou menos veemência. A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) repudiou o “radicalismo” do reitor e classificou a decisão de “autoritária e populista”, sem adequada “sustentação científica”.
Partidos como PSD, CDS e Aliança manifestaram-se contra. Em Beja, o deputado Pedro do Carmo, do PS, escreveu que “o populismo pseudo-ambiental” da UC prestou “um mau serviço à coesão territorial e a uma sociedade com equilíbrios justamente distribuídos”. O Governo dividiu-se: o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, criticou (“não deixa de ser amargo constatar que até as vetustas paredes da centenária academia são permeáveis ao populismo e à demagogia”). O do Ambiente, Matos Fernandes, elogiou (“parece-me relevante que uma universidade, neste caso a de Coimbra, tudo faça com o objetivo de ser neutra em carbono em 2030”).
O presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (Faaba), Rui Garrido, reclamou “ética e honestidade intelectual em defesa do setor agrícola”. Considerou que “declarações infundadas, precipitadas, sensacionalistas, com promoção de inverdades, só porque caem bem na opinião pública são, no mínimo, escandalosas”. Destacou que “há evidência científica que demonstra os benefícios ambientais e sociais da atividade agrícola no combate à desertificação, ao despovoamento rural e à promoção da biodiversidade nos nossos ecossistemas” e que “estão comprovadas as mais-valias do pastoreio e das pastagens na prevenção contra incêndios, no enriquecimento do solo em matéria orgânica, no seu contributo objetivo para o sequestro de carbono e para as metas da neutralidade carbónica”. E lembrou que “há reconhecidas organizações internacionais a demonstrar que o consumo adequado de carne é benéfico para a saúde”, sendo prova disso a distinção da dieta mediterrânica, onde se inclui a carne de vaca, como uma das mais saudáveis e equilibradas do mundo, agora inscrita pela Unesco na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade”.
João Madeira gere com o irmão – um é agrónomo, outro veterinário – uma empresa com cerca de 900 hectares de terra, “toda no concelho de Mértola, toda dentro do Parque Natural do Vale do Guadiana, toda de sequeiro, e toda difícil”, com sede em Corte do Gafo de Cima. A propriedade cria gado – ovino, o maior produto da empresa, e bovino, um efetivo pequeno, cerca de meia centena de vacas adultas em 100 hectares – e produz “tudo aquilo que o gado come”.
Explica: “Nós exploramos uma raça autóctone, a raça Alentejana, em linha pura. Estamos integrados num agrupamento de produtores, uma sociedade anónima constituída por agricultores, por produtores daquela raça, que coloca toda a produção no mercado, sobretudo nacional, e é, simultaneamente, uma denominação de origem protegida (DOP). Escoamos toda a produção bovina, que sai certificada, neste caso até duplamente certificada: sai em produção integrada, por um lado, e com denominação de origem protegida, por outro”.