Diário do Alentejo

Empresários com "caderno de encargos" para candidatos

25 de setembro 2019 - 15:20

Antes das Eleições Legislativas, que acontecem no próximo dia 6, os empresários do Baixo Alentejo quiseram apresentar as suas preocupações aos candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Beja. Desta sessão de trabalho, que debateu o futuro a região, resultaram uma série de medidas que os homens de negócios querem ver resolvidas até ao final da próxima legislatura. Destaque, assim, para as grandes questões regionais, desde as infraestruturas (ferrovia e rodovia), passando pela saúde, educação, setor aeronáutico e agricultura. Eis as grandes preocupações e as oportunidades que não se podem desperdiçar, elencadas num “caderno de encargos”. Destino: parlamento.

 

Texto Bruna Soares

Fotos José Serrolho

 

Os empresários do Baixo Alentejo apelidaram-na de “reunião de trabalho”. Uma reunião que visou sensibilizar os candidatos a deputados, nas próximas Eleições Legislativas, pelo círculo eleitoral de Beja, para os “problemas estruturais da região”. Uma reunião, porém, que acabou por assumir a forma de um debate de ideias. E, divididos por grupos de trabalho, em quatro mesas, sentaram-se, assim, os gestores dos seus negócios e quem se candidata a um lugar no Parlamento. Aceitaram o desafio António Cortez de Lobão, candidato do Aliança, Henrique Silvestre Ferreira, candidato do PSD, João Dias, candidato da CDU, Luís D’Argent, candidato do CDS-PP, Mariana Aiveca, candidata do BE, Pedo do Carmo, candidato do PS, e Rui Nascimento, candidato do Nós Cidadãos.

Uma reunião de trabalho, subordinada ao tema “O futuro do Baixo Alentejo”, que foi organizada pelo Nerbe/Aebal – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral. E o que se tentou, segundo Filipe Pombeiro, presidente da direção do Nerbe/Aebal, foi “conseguir alcançar uma posição comum e um compromisso com a região”.  “Tratou-se de um modelo inovador, porque não nos interessava os programas eleitorais de cada partido, nem que existisse um debate entre os candidatos, que muitas vezes passa ao lado dos problemas, mas sim um intercâmbio de ideias com as empresas, em que os empresários pudessem expor os constrangimentos que sentem no dia-a-dia e perceber o retorno que os deputados, através do seu trabalho e nos seus grupos parlamentares, podem ter, nomeadamente, na resolução destas importantes matérias”.

Luís Borba, por sua vez, empresário e também dirigente da associação, defende que “a grande valia deste evento foi conseguir juntar as pessoas em torno de uma causa comum: a região”. E isto “independentemente dos partidos e dos interesses empresariais”. Porque, em seu entender, “com a região a andar para a frente andamos todos”.  “Tivemos de fazer um exercício para identificar os problemas, uma vez que todos temos as nossas preocupações específicas, e foi preciso centrarmo-nos nas preocupações fundamentais. E, foi por isso, que fizemos uma divisão em três temas principais: infraestruturas, pessoas e economia”.

Mas afinal quais são as preocupações dos empresários que escolheram o Baixo Alentejo para, a partir daqui, erguer os seus investimentos? Carlos Marques foi um dos homens de negócios que participou nesta sessão e, em declarações ao “Diário do Alentejo, diz que, com esta iniciativa, foi “possível perceber quais são as linhas orientadoras de cada um dos deputados presentes na reunião”, mas, mais do que isso, “foi importante perceber o que se pretende para a região”.  Em sua opinião, “ficou claro que é preciso fixar pessoas” e que isso “só se consegue com uma boa rede de cuidados de saúde”, defendendo “o alargamento do hospital de Beja e uma melhoria nos centros de saúde”. Mas também “um bom serviço na área da educação, onde se criem condições para que os alunos do IPBeja se possam fixar e não abandonem a região”. Porém, segundo defende, para que as pessoas se fixem “é necessário que existam boas acessibilidades, rodoviárias e ferroviárias”.

Houve, assim, medidas que se destacaram, durante a sessão, como “mais urgentes” e que foram unanimes. “A questão das acessibilidades, por ser transversal às outras reivindicações. Precisamos de uma ligação ferroviária moderna entre Casa Branca – Beja – Funcheira”, justifica Filipe Pombeiro. E continua: “Temos de abrir, de imediato, o troço da A26, que está concluído, e o mais rapidamente possível concluir o resto da ligação do IP8/A26, no modelo que se encontrar mais eficiente, mas sem perder de vista que o troço que existe hoje é realmente mau, para pessoas e empresas”.

O hospital de Beja foi outro dos focos dos empresários, bem como o aeroporto de Beja. “De facto todas estas questões estão intimamente ligadas. Sem rodovia e ferrovia, não temos pessoas, porque não temos investimento. Para captar investimento, temos de ter boas acessibilidades para fixar cá empresas, que serão depois geradoras de investimento, criarão emprego, que será progressivamente mais especializado, e gerarão riqueza que será distribuída e potenciará o mercado da região”, considera ainda o presidente da associação dos empresários. “Por outro lado, temos de ter uma boa oferta no que respeita à saúde, tendo especial foco nos problemas que o hospital de Beja atravessa e uma oferta formativa de muita qualidade que fixe os nossos jovens, mas também que atraia pessoas de outras regiões que se possam fixar e combater o maior problema que temos, que é a desertificação humana”, considera.

 

“Os candidatos a deputados, e os que forem depois eleitos, não podem incorrer no risco de dizer que não tinham conhecimento de certos problemas e certas questões importantes para a região e para as pessoas. O que fizemos, com esta iniciativa, foi transmitir as nossas opiniões e os nossos argumentos antes das eleições”, comenta agora Fernando Rosário, empresário da região que também participou nesta sessão.  “Não compreendemos por que motivo existe cada vez menos investimento na saúde, por que motivo continua fechado o troço da A26. Temos vários problemas e isto não são problemas individuais, estão interligados. O aeroporto não terá viabilidade enquanto não existirem boas acessibilidades, mas também não chegarão mais pessoas se não existirem bons cuidados de saúde. O que faz falta para a nossa região é, deste modo, uma solução integrada e não avulsa. Até para viabilizar as diversas componentes e para o País fique beneficiado e possa daqui tirar também algum rendimento dos investimentos que são feitos”, argumenta. E conclui: “Cada vez assistimos a um maior desenvolvimento agrícola no Sul, mas também assistimos cada vez a mais dificuldades, até para escoarmos os produtos”.

 

“É preciso perceber que a agricultura tem sido a alavanca de desenvolvimento da região e que, tendo sempre em conta as preocupações ambientais, não podemos deixar de fomentar os investimentos agrícolas e agroalimentares, sob pena de virmos a perder esta dinâmica empresarial que nos diferencia das outras regiões do País. Não podemos esquecer a importância que o Alqueva teve na região e nas novas culturas de regadio, nem o produto e a capacidade exportadora da região”, prossegue Filipe Pombeiro.

 

“Se potencializarmos o que temos, aeroporto e Alqueva, teremos, certamente, mais pessoas e mais investimentos. É exemplo o que se está a passar com a agricultura. Criaram-se condições, nomeadamente, com a existência de água, para o crescimento de outro tipo de culturas que não eram comuns por cá, e estamos a ver o desenvolvimento que temos. E pergunto: O que é que acontecerá se Beja tiver uma ligação decente em termos de ferrovia e uma estrada, em formato de autoestrada?”, comenta agora Luís Borba.

 

Recorde-se ainda que os empresários aproveitaram a oportunidade também para apresentar aos candidatos a deputados um conjunto de preocupações mais genéricas, mas que têm especial relevo no Alentejo. E Filipe Pombeiro enumera-as: “A falta de uma política fiscal estável e a desproporcionalidade do tratamento entre contribuinte e Administração Tributária, com valores de coimas e outras penalidades completamente descabidas e castradoras da atividade económica. Mas também preocupações com matérias laborais e de custos de contexto e excesso de burocracia. E preocupações ao nível da justiça, que se refere por exemplo à dificuldade na cobrança de dívidas de clientes”.

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