Diário do Alentejo

Obras na Basílica de Castro são “autêntico milagre”

09 de setembro 2019 - 12:05

Há cerca de um ano que a Basílica Real de Castro Verde está fechada ao culto por razões de “segurança”, mas, neste momento, iniciaram-se os trabalhos com vista à sua requalificação. Para já, estão a avançar as obras no exterior, e, esta semana, o financiamento comunitário e a respectiva contrapartida nacional para a segunda fase da recuperação deste monumento de referência do património religioso do Baixo Alentejo ficaram assegurados. O padre da paróquia de Castro Verde, depois de 30 anos de espera, considera ser um autêntico “milagre”.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Os andaimes colocados em volta das duas torres da Basílica Real de Castro Verde, imóvel considerado de interesse público desde 1993, não deixam dúvidas a ninguém: o processo de requalificação da igreja já começou. Por agora, trata-se apenas de fazer a limpeza do telhado, restaurar portas e janelas e de efectuar a pintura total do monumento, num investimento que ultrapassa os 65 mil euros, e que é comparticipado pela Câmara Municipal de Castro Verde (28 285,00 euros), pelo Governo (26 225,00 euros), no âmbito do Programa de Equipamentos Urbanos de Utilização Coletiva (Peuuc), pela União de Freguesias de Castro Verde e Casével (5 245,00 euros) e pela paróquia local (5 245,00 euros).

 

Na última segunda-feira, numa conferência de imprensa no local, o presidente da autarquia, António José Brito, anunciou que os fundos para a segunda fase da obra – que tem como objetivo restaurar o teto pintado em madeira – já tem assegurado o financiamento de 381 300,00 euros, 85 por centos dos quais virão de uma candidatura a fundos europeus, promovida pelo município, a paróquia e a Direção Regional de Cultura do Alentejo, sendo os restantes 15 por cento suportados pela Somincor ao abrigo da Lei do Mecenato. Para mais tarde ficará a recuperação da azulejaria que forra as paredes interiores do edifício e a recuperação dos frescos. No que diz respeito ao altar, em talha dourada, foi objecto de uma intervenção nos anos 90 do século passado.

O padre Luís Fernandes, mostrando-se satisfeito com o início dos trabalhos que considera “um autêntico milagre”, recorda que “já tinham existido outros planos para a reabilitação da igreja, só que devido à sua dimensão, e incapacidade de execução a nível financeiro, foram postos de lado”. No entanto, agora, “houve uma grande boa vontade por parte da câmara municipal”, o que permitiu avançar com a empreitada.António José Brito acredita que a primeira fase estará concluída dentro de 90 dias. “As obras estão a decorrer muito bem e a segunda fase tem condições para avançar, depois de cumpridos os termos e prazos legais. Dentro daquilo que está planeado e a população pretende, a basílica terá uma nova cara dentro em breve”.

 

Depois de concluídas as obras, o edifício será ambivalente em termos de utilização. Para além de ser, por natureza, um local de culto, a sua dimensão cultural também será valorizada. A Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição data do século XVIII foi construída para glorificar a batalha de Ourique, peleja onde o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, venceu os cinco reis mouros, a 25 de julho de 1139, dia de Santiago. Esta temática está patente nos painéis de azulejos que cobrem todo o seu interior, mas o altar-mor, em talha dourada, é, por si só, motivo suficiente para se efectuar uma visita ao local.

 

O Tesouro

O título de basílica deve-se a D. João V, mestre da Ordem de Santiago, que com este gesto quis homenagear a vila junto à qual teve lugar a Batalha de Ourique. Foi também de sua iniciativa a aquisição da célebre custódia de aparato, da autoria de um dos mais destacados ourives do reino. Desde 2004, por iniciativa da Diocese de Beja e do município, que no local está a funcionar um núcleo museológico: o Tesouro da Basílica Real de Castro Verde. A intenção foi criar um espaço que pudesse funcionar como um “prólogo” à visita das igrejas históricas do concelho.

 

O Tesouro integra, a título de depósito temporário, peças provenientes de santuários rurais de Castro Verde, como a cabeça-relicário de São Fabião, de Casével, obra-prima da ourivesaria românica peninsular (séc. XIII), muito conhecida pelas suas virtudes curativas de pessoas e gado, a imagem flamenga de Santa Bárbara, de Entradas (séc. XV), e um crucifixo indo-português do séc. XVII, também desta vila.

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