Diário do Alentejo

Carlos Filipe: “Neste livro encontramos o amor por animais”

12 de agosto 2019 - 09:45

Texto José Serrano

 

É licenciado em Português-Inglês. Após a conclusão de um curso fotográfico começou a retratar eventos e a elaborar autorretratos “de uma forma mais conceptual”. Realizou exposições fotográficas em vários pontos do País, ao mesmo tempo que começou a publicar trabalhos em revistas. A sua fotografia, diz, “focava-se muito nos sentimentos, no transferir para a câmara o que me ia na alma, o que me tirava o sono, o que me preocupava... Quase como um exercício de exorcismo”. Depois de dois anos a viajar pelo mundo decidiu retomar a fotografia, explorando campos “pouco trabalhados”, como a fotografia de animais de estimação.

 

O fotógrafo Carlos Filipe e a editora Almalusa lançaram, na passada semana, uma campanha de pré-encomenda, on line, para a publicação do livro Amigos Imperfeitos, cuja primeira edição se encontra já garantida. Uma obra que capta, através da técnica clássica de fotografia de retrato, animais vítimas de maus-tratos, ao mesmo tempo que expõe textualmente as histórias de cada um dos retratados.

 

Que amigos são estes que habitam as páginas deste livro? São um pequeno grupo de cães e gatos que fui descobrindo ao longo do meu percurso como fotógrafo de animais. Animais diferentes do habitual: com falta de audição, cegos, sem uma pata, com diabetes, mas com vidas perfeitamente “normais”. Este livro compila as histórias de cada um deles: como foram adotados, o que passaram antes de encontrar uma família. É como uma galeria de honra de animais especiais, lutadores e felizes, que nos oferecem a sua experiência e um “manual de instruções” de como se abraçar o desafio de acarinhar um animal diferente, sem que seja algo aterrador.

 

Como lhe surgiu esta ideia? A ideia surgiu-me quando adotei o meu cão, Boris, que encontrei abandonado na rua. A partir do momento em que ele entrou na minha vida tudo mudou. No final foi ele quem me adotou. O Boris possui pele atópica, o que exige uma série de encargos e tratamentos para que ele ganhe qualidade de vida. Não pode apanhar sol, tem de ser desinfetado cada vez que vai à rua, tem de tomar vitaminas e levar injeções diariamente. É dispendioso mas sou compensado com um amor sem limites. Graças a ele decidi oferecer o meu trabalho a associações que cuidam de animais: fotografo animais de rua para ajudar nas adoções e realizo eventos solidários de fotografia para angariar dinheiro.

 

Pelas histórias que nesta obra são retratadas podemos dizer que este é um livro de amor? Neste livro encontramos o amor por animais que nasceram com dificuldades, que foram torturados e deixados para morrer, que sofreram acidentes graves. Perante estas situações a primeira reação seria de repulsa, medo, estranheza pelo que desconhecemos, mas este livro fala-nos exatamente do contrário: do amor superior a todos os obstáculos da vida.

 

O que mais gostaria que este trabalho suscitasse em cada um dos seus leitores?Este trabalho foi, para mim, um processo bastante doloroso porque tive de experienciar cada uma das histórias, combater o medo e o horror que senti em algumas delas. O ser humano consegue chocar-nos com a sua maldade, mas, no final, a esperança e a gratidão que senti por quem abraça estes animais superaram esses sentimentos negativos. Gostaria que estas histórias pudessem dar, a quem as lê, a perceção de que adotar um animal ‘diferente’ é extraordinariamente compensador. Imperfeita é apenas a vida... Eles são perfeitos à sua maneira.

Comentários