Diário do Alentejo

Filme “Raiva” abre Festival de Cinema de Badajoz

11 de julho 2019 - 16:00
Fotografia: Rui Cambraia

O premiado filme “Raiva”, do realizador Sérgio Tréfaut, abrirá, na próxima segunda-feira, dia 15, o 25º Festival Ibérico de Cinema (FIC). A abertura está agendada para as 22:30 horas, no terraço do Teatro López de Ayala de Badajoz. O serpense Hugo Bentes, protagonista do filme, assistirá à apresentação.

 

“Raiva”, cujo argumento é baseado na obra clássica da literatura portuguesa do século XX, Seara de Vento, escrita por Manuel da Fonseca, é, de acordo com a sinopse, “um conto negro sobre o abuso e a revolta que relata os acontecimentos verídicos que levaram um camponês pobre a assassinar dois homens a sangue frio e afrontar sozinho a guarda e o exército numa luta desigual”.

 

Recuperando a história verídica de António Dias Matos, que ficou conhecida como a “tragédia de Beja”, acontecida no ano de 1933, no Cantinho da Ribeira, o filme foi rodado exclusivamente no Baixo Alentejo, nos concelhos de Serpa, Beja e Moura.

 

“Raiva” foi o grande vencedor dos Prémios Sophia 2019, da Academia Portuguesa de Cinema, tendo recebido seis Prémios Sophia: Melhor Filme; Melhor Atriz (Isabel Ruth); Melhor Ator (Hugo Bentes); Melhor Ator Secundário (Adriano Luz); Melhor Argumento Adaptado (Sergio Tréfaut e Fátima Ribeiro); e Melhor Fotografia (Acácio de Almeida).

 

A estes prémios acrescentam-se outros conquistados em festivais e certames de cinema internacionais. O filme conta ainda com a colaboração especial do ator espanhol Segi López.

 

Baseada em factos reais: a “tragédia de Beja”

Tanto o livro como o filme estão inspirados em factos que acontecem em 1933. Nesse ano, os jornais portugueses publicavam uma história violenta que ficou conhecida como "a tragédia de Beja." O episódio foi primeira página do “Diário de Noticias” e a história acabou por tornar-se num mito.

 

Vinte anos mais tarde, Manuel da Fonseca, escritor e jornalista de renome, investigou este episódio para escrever a novela Seara de Vento. Na versão de Fonseca o assassino da “tragédia de Beja” torna-se um “herói solitário, vítima do abuso de poder e símbolo da resistência”. O livro “é um grito de indignação perante a injustiça social no Alentejo, tem um sentido épico e militante, marcado por um certo romanticismo político”.

 

No entanto, na versão cinematográfica de Sérgio Tréfaut a história “não tem nada de romântica, nem de naturalista”. Não “há nenhuma chamada ao sentimentalismo ou ao idealismo. Não se oferecem promessas de um futuro melhor”.

 

“Raiva”, um retrato da injustiça social

A injustiça é retratada em “Raiva” como “um ciclo que se repete, e continuará sempre a repetir-se através de novas formas, embora toda a vida se lute contra ela”, segundo explica o diretor do filme, que escolheu adaptar este livro emblemático no Alentejo a “um neorrealismo português clássico”. O filme, da mesma forma que o livro, fala do abismo entre pobres e ricos, mas no filme os mortos apenas são mortos, não são heróis, nem símbolos”.

Sérgio Tréfaut fez um filme silencioso, a preto e branco, “onde as caras e os corpos dizem mais que os discursos”. Criou ainda um espaço atemporal, quase mitológico. “O Alentejo aqui também pode ser o sul da Itália, Grécia, Síria, Arménia, Espanha, América Latina”.

 

“Raiva” é a segunda longa-metragem de ficção assinada pelo realizador português Sérgio Tréfaut após a “Viagem a Portugal”. Tréfaut conta com uma ampla experiencia como diretor de documentários, com títulos como “Treblinka”.

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