Diário do Alentejo

Festival B: “O imaginário romântico” de Mariana

27 de junho 2019 - 18:00

Texto Luís Godinho

 

E se a história de Mariana, afinal, tivesse sido diferente? Quem escutar a penúltima das 12 músicas feitas por Paulo Abreu Lima para o Festival B, a decorrer neste fim de semana, em Beja, irá descobrir uma “verdade alternativa” sobre o desfecho dessa improvável história de amor. “Procurei a versão do poeta, a minha, e digo que é tudo conversa, foi tudo inventado para não dar barraca. Para mim, a Mariana combinou muito bem as coisas e à noite, quando o convento dormia, saltou da janela, partiu com o cavaleiro de Chamilly e teve a bênção de Deus”, diz Paulo Abreu Lima ao “Diário do Alentejo”, depois de assistir ao último ensaio do espetáculo “100 Passos – 12 Canções de Amor”, cuja estreia está agendada para amanhã, sábado. “[Esta versão da história] ninguém sabe, só eu é que a conheço e é o que coloquei na música”.

 

Constituído por 12 temas originais, com direção musical de Valter Rolo, o espetáculo resulta de um desafio lançado pela organização do Festival B a Paulo Abreu Lima e representa o culimar de um processo criativo iniciado há cerca de 10 anos. “Tinha composto um tema, ‘Amores à alentejana’, e pensei em entregá-lo no Museu de Beja onde estava a decorrer uma exposição sobre Mariana Alcoforado. Acabei por não o fazer, talvez fosse ridículo, mas ainda bem que isso sucedeu, pois ficou para esta altura”.

 

O músico diz ter-se tratado de um “grande desafio” na medida em que, por norma, só lhe é pedido para fazer as letras. “Comecei a desistir das músicas mas, desta vez, tive completa liberdade artística. Quis ler tudo sobre a Mariana e este espetáculo é a sua história, do nascimento à morte, contada em 12 capítulos”.

 

“Há muito amor nestas letras”, refere Paulo Abreu Lima, que procurou não se centrar exclusivamente na história da freira de Beja, vítima de um “cavaleiro malandro” que a deixou para trás e regressou a França. “Temos a tendência para pensar apenas na Mariana, mas eu imagino também o que o Chamilly sofreu pelo facto de ter de partir deixando para trás a mulher que lhe ficou na memória”.

 

Dedicado ao amor e ao imaginário romântico da freira de Beja que nutriu "uma paixão sublime, não correspondida" pelo cavaleiro francês, o festival apresenta uma programação composta por cerca de 40 artistas e grupos (ver artigo na página 28), entre os quais Vitorino, Luís Represas, Rão Kyao e Jorge Palma e Mafalda Veiga que, já tendo tocado juntos, partilham pela primeira vez o palco durante um concerto.

 

“Será um momento especial que terá espaço para que se encontrem nessa partilha, mas também lugares próprios, para que cada um se possa expressar individualmente. Haverá momentos onde reinará a simplicidade de um só piano (o do Jorge) ou de uma só guitarra (a da Mafalda), e prometem fundir-se dois universos necessariamente distintos mas ao mesmo tempo amplamente complementares e paralelos”, diz fonte da organização.

 

Paulo Ribeiro, diretor artístico do evento, diz-se “entusiasmado” com a programação do festival. “Além dos bejenses esperamos que venha muita gente de fora descobrir a cidade e participar neste festival que está a gerar uma grande dinâmica. Vamos ter espetáculos em quatro espaços, artistas a interagir uns com os outros, duas companhias de dança contemporânea, muita música, numa iniciativa que celebra o amor enquanto conceito universal e a história única de Mariana Alcoforado”, conclui.

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