Por outro lado, as soltas de lince-ibérico na natureza realizadas desde 2014 em Portugal têm decorrido no vale do Guadiana, sobretudo no concelho de Mértola, distrito de Beja, a cargo do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, que segue e monitoriza a população a viver em liberdade. "Mas, para efetivamente conseguirmos inverter a tendência do risco de extinção da espécie, temos de encontrar outras zonas preparadas e adaptadas para que próximas soltas possam ocorrer noutros locais" em Portugal, defendeu Diogo Nascimento.
Segundo o coordenador, as ações desenvolvidas através do projeto são "múltiplas" e dependem "do estado de desenvolvimento de cada um dos territórios”. Nas herdades da Coitadinha e da Contenda, que são as áreas abrangidas nos concelhos de Barrancos e Moura, respetivamente, uma das ações é a reprodução de coelho-bravo para aumentar a população e há vários cercados onde vivem exemplares da espécie.
Durante a visita de Diogo a um dos cercados que existem na Coitadinha, propriedade da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), apenas se conseguiu avistar um coelho-bravo, que apareceu tão rápido como desapareceu no meio da vegetação. "Apesar de ter uma taxa de reprodução muito rápida", o coelho-bravo "é suscetível a algumas doenças", como a mixomatose e a doença hemorrágica viral, e, por isso, "a população tem tendência a oscilar muito ao longo do tempo", conta Diogo.
Nos cercados, são dadas "condições de refúgio, alimentação e vacinação" aos coelhos para que "possam ser resistentes às doenças" e, assim, conseguir-se "aumentar" a densidade da espécie. "É preciso conhecer em pormenor quais as densidades de coelho que o território tem", porque "só com as densidades mínimas adequadas é que se poderá pensar num território que seja capaz de receber uma população de lince", frisa o coordenador.
Há registos de presença de lince-ibérico na Coitadinha em 2009 e a herdade, por questões históricas e pelas suas características, é território "propício para que as populações [de lince-ibérico] se possam fixar”. Já na Contenda, a densidade de coelho-bravo foi "altíssima" e "favorável" à presença de lince no passado, mas atualmente é "reduzidíssima", conta à Lusa João Cordovil, o diretor da herdade, propriedade da Câmara de Moura.