Diário do Alentejo

“Xaroco” é nome de vento quente e de magazine cultural

18 de dezembro 2022 - 13:00
Projeto pretende divulgar, através de streaming e redes sociais, artistas residentes no Alentejo
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“Xaroco” é o título do magazine cultural que pretende, a partir de fevereiro, contribuir para a divulgação de projetos artísticos e culturais do Alentejo, bem como do seu património histórico e natural. Apoiado pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, o projeto pretende ainda fomentar redes de colaboração entre vários criadores e ajudar a despertar para a importância da sustentabilidade social, económica e ambiental, do território. O “Diário do Alentejo” falou com Filipe Nunes Branco, produtor e realizador desta iniciativa.

 

Texto José Serrano

 

Será apresentado, no próximo mês de fevereiro, em Beja, o episódio piloto de “Xaroco”, magazine cultural alentejano, que terá como convidado especial, neste número de estreia, Jorge Serafim, humorista e contador de histórias.

 

Os principais objetivos que presidem à criação deste magazine, que poderá ser visualizado através de várias plataformas de streaming e redes sociais, “em parceria com órgãos de comunicação, que possam ir divulgando os seus conteúdos”, passam, de acordo com Filipe Nunes Branco, realizador e produtor da iniciativa, pela “divulgação dos artistas que residem no Alentejo”, independentemente da sua origem, que contribuem para a dinamização do tecido cultural da região, fomentando, ao mesmo tempo, “redes de colaboração”, entre os criadores.

 

Dessa forma, pretende-se demonstrar que no Alentejo, “aparentemente desertificado, ainda há pessoas a criar e a viver, por esses campos fora” e que “as artes e a cultura”, se tiverem um papel “relevante nas políticas regionais das diversas entidades, incluindo privadas”, poderão contribuir, na região, para o “desenvolvimento pessoal e social” dos seus habitantes”, para o incremento da “economia local e regional” e para o aumento da capacidade de “atrair e fixar pessoas” ao território.

 

Paralelamente, através do magazine, tenciona-se divulgar o património histórico e natural do Alentejo e os seus “saberes e sabores regionais”, convidando “pequenos produtores [agrícolas], que têm conhecimentos tradicionais, e pessoas que estejam a desenvolver negócios ou projetos, que prestem especial atenção à sustentabilidade social, económica e ambiental, aliados a alguma inovação”, mostrando assim “a diversidade que habita o Alentejo”, muito para além do modelo de desenvolvimento intensivo, sublinha Filipe Nunes Branco.

 

O realizador revela que a ideia de criação de um magazine cultural alentejano “vem de longe, é um sonho antigo”, não tendo tido, todavia, “ao longo dos últimos anos”, o tempo necessário para a ele se dedicar, “conceber a sua abordagem artística, o seu conteúdo informativo, a estrutura dos episódios”.

 

Esse momento parece agora ter chegado. “Ao longo da pesquisa para o meu filme ‘Enquanto Há Pão’, que me encontro a produzir, na região, fui tomando conhecimento de artistas, de diversas áreas, que vivem aqui, de pessoas que estão a procurar fazer agricultura de outras formas, que estão a fazer pão de outras maneiras, num cruzamento entre conhecimentos antigos e novas abordagens. Pessoalmente, interessa-me pensar o futuro do Alentejo através de novas possibilidades”, em contraponto ao Alentejo, acentua, “refém da agricultura intensiva e da monocultura, envelhecido e desertificado e, agora, alicerçado em condições degradantes de trabalhadores imigrantes”.

 

Assim, Filipe Nunes Branco esclarece que, “de maneira a aprofundar o meu conhecimento sobre a região, especialmente, sobre as pessoas que trabalham nas artes”, tomou a decisão de criar o “Xaroco”, com foco, exatamente, nos artistas e nas estruturas artísticas, dando a conhecer o “Alentejo de cada um, os seus pontos de vistas, trabalhos e sonhos”, aproveitando esse canal de comunicação, para dar a conhecer “o património material e imaterial alentejano e os intervenientes em áreas económicas e sociais, com foco na sustentabilidade, inovação e tradição”.

 

Inerente a este projeto existe ainda a intencionalidade de sublinhar a identidade do Alentejo, reavivando a memória, ao resgatar histórias e vivências ancestrais de uma região povoada, ao longo dos milénios, “por tantas civilizações”, não acreditando o realizador, contudo, no benefício de se ficar exclusivamente cativo “da identidade e da memória, para desenvolverem projetos culturais – uma lógica perversa que não me parece contribuir, positivamente, para a independência e liberdade artísticas”.

 

Relativamente às metas pretendidas, no âmbito dos seis episódios de “Xaroco”, previstos, nesta fase, serem produzidos, Filipe Nunes Branco considera que o “mais importante será” conseguir que os artistas convidados “se sintam representados” e que o magazine consiga dar a conhecer as “várias faces do Alentejo, para que a cultura tenha cada vez mais importância no desenvolvimento da região”.

 

E acrescenta: “Pessoalmente, também gostaria de ter um mapeamento dos artistas, residentes na região, e poder contribuir para uma plataforma de colaborações futuras, que fomente um intercâmbio intrarregional, nacional e internacional”.

 

Neste momento o episódio piloto do Xaroco, já concluído, está apenas a ser apresentado a possíveis parceiros do projeto: “Devido à dificuldade de encontrar apoios na região, e também fora dela, para as artes e cultura, tivemos a necessidade de produzir este episódio piloto, que serve de apresentação da ideia global do magazine”.

 

Para isso, a Direção Regional de Cultura do Alentejo foi essencial, prestando “o apoio financeiro imprescindível para a realização deste episódio”, revela Filipe Nunes Branco.

 

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