Diário do Alentejo

Direções das quatro escolas superiores do IPBeja demitiram-se

17 de dezembro 2022 - 09:00
Demissionários não apresentam “razões objetivas” para a sua decisão e dizem que o assunto é “matéria interna” da instituição. Presidente diz-se “incrédula” e pede explicações
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Os diretores e subdiretores das quatro escolas superiores que integram o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) apresentaram a sua demissão à direção da instituição. O pró-presidente João Paulo Barros tomou idêntica decisão. Quer os elementos demissionários quer o gabinete de informação recusaram comentar a situação, considerando-a “matéria interna” da instituição.

 

 

Texto Aníbal Fernandes 

 

Manuel Patanita e Patrícia Brito Palma, respetivamente, diretor e subdiretora da Escola Superior Agrária, apresentaram a demissão do cargo à direção do IPBeja, presidido por Maria de Fátima Carvalho, mas não foram os únicos: Maria João da Silva e Pedro Bento (Escola Superior de Educação); José Filipe dos Reis e Marta Amaral (Escola Superior de Tecnologia e Gestão); Antonieta Medeiros e Ana Clara Nunes (Escola Superior de Enfermagem) tomaram idêntica posição.

 

Num email a que o “Diário do Alentejo” (“DA”) teve acesso, enviado por dois dos demissionários aos colegas da escola que dirigem, a mensagem é lacónica, limitando-se a informar que tinham apresentado o pedido de demissão, a agradecer a compreensão e a informar que continuarão a desempenhar as suas funções até serem substituídos.

 

As razões para esta posição por parte dos dirigentes das escolas continuam por esclarecer. Num contacto telefónico com Aldo Passarinho, pró-presidente da direção do IPB e responsável pela imagem e comunicação, foi-nos recusada qualquer explicação, tendo-se limitado a referir que o assunto era “matéria interna” da instituição.

 

Um dos demissionários, questionado por email acerca dos motivos para esta demissão, respondeu de igual forma: “É uma questão interna à instituição, pelo que é objeto de tratamento no seio da mesma”.

 

Um docente do IPBeja, com quem chegámos à fala, mas que pediu o anonimato, referiu que o “ambiente de tensão já tem algum tempo” e que se devia a “incompatibilidades pessoais”. A presidente da instituição não respondeu às nossas tentativas de contacto, mas, num email por si enviado, e a que o “DA” também teve acesso, aos colegas, colaboradores, representantes da comunidade que integram os órgão e alunos, Maria de Fátima Carvalho diz que “foi com um misto de surpresa, preocupação e incredulidade” que recebeu, “sem aviso prévio, nos últimos dias a intenção simultânea dos quatro diretores das nossas unidades orgânicas, acompanhados pelos quatro subdiretores por eles escolhidos para os coadjuvarem no cumprimento da sua missão, em deixarem os cargos para os quais foram nomeados (…) sem invocarem razões objetivas e materiais de relevo para o fazerem”.

 

Na mesma missiva, a presidente do IPBeja manifesta a intenção de “reunir informação junto de cada um dos diretores das quatro escolas” para apurar “os motivos e as razões materiais e objetivas, nos termos da missão que lhes foram atribuídas no momento da nomeação, que de alguma forma possam ter limitado o desempenho de funções e conduzido a uma tal tomada de decisão”.

 

Maria de Fátima Carvalho pretende estabelecer uma ligação lógica entre a informação que lhe “foi sendo fornecida ao longo destes meses” pelos agora demissionários “e que tem vindo a servir de base à tomada de decisão a favor da sustentabilidade e racionalização dos recursos do Instituto” e, em função disso, “em conjunto com os vice-presidentes” que a acompanham “concluir acerca dos motivos, das razões e das motivações que levaram a tal tomada de decisão no sentido da melhoria contínua, contando com a manifesta disponibilidade dos diretores das escolas para continuarem a assumir as suas funções até que seja necessário”.

 

A presidente do IPBeja diz, ainda, estar a “ponderar as consequências e as implicações” das demissões “para a estabilidade do IPBeja, numa perspetiva académica e financeira, tendo em conta que o ano letivo está devidamente organizado”, e “a melhor forma de garantir a boa execução de um conjunto de projetos atualmente em curso com vista a melhorar as condições oferecidas aos nossos estudantes e, simultaneamente, resolver um conjunto de problemas que limitam o crescimento do IPBeja e consequentemente o seu serviço à região”.

 

Recorde-se que Maria de Fátima Carvalho exerce o cargo desde o final de novembro de 2021, tendo, na altura, como vice-presidentes, José Bilau e Rogério Ferrinho, e pró-presidentes, Aldo Passarinho, João Paulo Barros, Jorge Manuel Raposo e Silvina dos Anjos Ferro. Alguns meses depois, Rogério Ferrinho foi substituído por Nuno Loureiro.

 

PLANO ESTRATÉGICO 2025

Cerca de seis meses após a tomada de posse, a presidente do IPBeja falou com o “DA” sobre o Plano Estratégico 2025 e sobre o “desafio” que enfrentava, num contexto de saída da pandemia da covid-19 e o início da invasão da Ucrânia e a da subsequente guerra com a Rússia.

 

Maria de Fátima Carvalho mostrava-se “confiante no futuro” da instituição, apesar do documento revelar várias “fraquezas e ameaças” vistas como “condicionantes” no médio prazo.

 

O diagnóstico então apresentado não era animador e apontava o dedo à “reduzida procura em alguns cursos; deficiente produção científica dos docentes; limitação de equipamentos (informática, laboratorial e exploração agrícola); escassa internacionalização; inexistência de centros de investigação reconhecidos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia; envelhecimento do corpo docente; região em perda demográfica; concorrência das universidades de Évora e Algarve; envelhecimento e desmotivação de alguns docentes devido à não progressão na carreira; dificuldades associadas ao acesso rodoviário e ferroviário”, tudo aspetos que “condicionavam” as propostas apresentadas e que tinham como objetivo “ultrapassar essas fragilidades”, uma vez que consideravam existir “ferramentas para intervir e melhorar” as várias áreas do IPBeja.

 

Mas nem tudo estava mal. Por exemplo, o mestrado em Cibersegurança, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, era apresentado como uma área “diferenciadora” e que poderia funcionar como “âncora para atrair mais alunos, inclusive para outros cursos”, podendo ser modelo para outros cursos.

 

Seis meses depois da apresentação do Plano Estratégico 2025, provavelmente, o diagnóstico das “fraquezas e ameaças” estava certo e o futuro do IPB encontra-se mesmo “condicionado”.

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