Diário do Alentejo

Alunos alentejanos evidenciam dificuldades a Matemática e a Português

16 de dezembro 2022 - 12:30
Desempenho é “ligeiramente superior” quando comparado com o das provas de 2019
Ilustração | Susa Monteiro/ ArquivoIlustração | Susa Monteiro/ Arquivo

Perto de 90 por cento dos alunos alentejanos do 5.º ano de escolaridade que realizaram a prova de aferição de Matemática no ano letivo passado não conseguiram ou revelaram dificuldades em responder às questões relacionadas com “números e operações”. Oitenta e um por cento dos alunos do 2.º ano, por sua vez, mostraram fragilidades a Português, especialmente, na gramática.

 

Os resultados nacionais das Provas de Aferição do Ensino Básico 2022 foram divulgados na semana passada pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE). De uma forma geral, sublinha o referido instituto, “as informações recolhidas indiciam, de um ponto de vista global, um desempenho dos alunos nas provas de aferição de 2022 ligeiramente superior em comparação com os resultados obtidos nas provas de aferição de 2019”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Setenta e um por cento dos alunos alentejanos do 5.º ano de escolaridade que realizaram a prova de aferição de Matemática no ano letivo passado não conseguiram responder às questões relacionadas com “números e operações” e 17,9 por cento revelaram dificuldades. Somente 5,2 por cento conseguiram responder de forma correta.

 

Ainda segundo os resultados nacionais das Provas de Aferição do Ensino Básico 2022, divulgados na semana passada pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), 84,6 por cento não conseguiram ou revelaram dificuldades em responder às questões nos domínios “geometria e medida”, 78,1 por cento em “álgebra” e 74 por cento na “organização e tratamento de dados”.

 

Em todos os itens referidos, a percentagem de alunos com mau desempenho no Alentejo é superior à média nacional. E no conjunto das sete NUTS II, a região ocupa os lugares no fundo da tabela, onde também se encontram o Algarve e as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

 

De acordo com o relatório nacional do IAVE, a disciplina de Matemática do 5.º ano pode destacar-se, a nível nacional, “como aquela em que os alunos evidenciam mais dificuldades em atingir desempenhos dentro do esperado, ou seja, desempenhos nas categorias ‘conseguiu’ e ‘conseguiu, mas pode ainda melhorar”.

 

“Apesar de tudo”, adianta o instituto, “em comparação com as provas de aferição de 2019”, as últimas realizadas no formato habitual antes da pandemia de covid-19, “verifica-se uma ligeira melhoria nos desempenhos dos alunos da prova” de Matemática.

 

Numa entrevista ao jornal “Público”, publicada antes da divulgação do relatório nacional do IAVE, o ministro da Educação mostrou-se preocupado com a Matemática no 5.º ano, “porque, embora haja melhorias de resultados, as taxas de acerto dos alunos são ainda muito baixas”.

 

Relativamente a Educação Visual e Educação Tecnológica, regista-se que, no global da disciplina, os alunos do 5.º ano, no Alentejo, situam-se, maioritariamente, na categoria “conseguiu”.

 

ALUNOS DO 2.º E 8.º ANOS REVELAM DIFICULDADES NA GRAMÁTICA 

No 2.º ano de escolaridade, no que diz respeito à prova de Português, o domínio com maiores fragilidades é a “gramática”, com 81,4 por cento dos alunos a não conseguirem ou a revelarem dificuldades em responder, uma percentagem, uma vez mais, acima da média nacional (77,6 por cento) e só abaixo dos valores apresentados pelo Algarve e pela Região Autónoma da Madeira.

 

Quase 65 por cento dos alunos do 2.º ano também não conseguiram ou revelaram dificuldades em responder às questões que testavam a oralidade e 56,6 por cento no item “leitura”. No que concerne ao domínio “escrita”, a diferença entre a percentagem de alunos que mostraram maiores dificuldades e os que tiveram um desempenho dentro do esperado é muito reduzida, no entanto, o número de alunos que não conseguiu ou revelou dificuldades é superior (45,3 por cento). Neste item, no conjunto das sete NUTS II, o Alentejo é a região que apresenta os piores resultados.

 

Relativamente ao desempenho dos alunos do 2.º ano, que durante os confinamentos de 2020 e 2021 frequentavam o pré-escolar e o 1.º ciclo, o ministro sublinhou, ainda em declarações ao “Público”, que “não se falou muito do pré-escolar, mas foi sempre” uma das suas “principais preocupações”.

 

“Porque sabemos que é um dos principais preditores de sucesso no 1.º ciclo e sabemos também que houve uma dificuldade enorme, apesar do esforço das educadoras. Estes são os anos da socialização, são os anos de uma série de coisas que são muito difíceis [de trabalhar à distância]”, acrescentou João Costa.

 

O governante garantiu, no entanto, que estão a ser implementadas medidas, nomeadamente, no âmbito do Plano de Recuperação de Aprendizagens e que dão especial atenção às transições entre ciclo, designadamente, do pré-escolar para o 1.º ano.

 

Na disciplina de Matemática, os resultados dos alunos do 2.º ano de escolaridade, no Alentejo, apresentam uma melhoria comparativamente à prova de aferição de Português, com 61,6 por cento a responderem corretamente ou com pequenas dificuldades no domínio “números e operações” e 60,5 por cento na “organização e tratamento de dados”.

 

No item “geometria e medida”, contudo, menos de metade dos alunos (46,1 por cento) alcançaram desempenhos nas categorias “conseguiu” e “conseguiu, mas”.

 

Destaque, ainda, ao nível do 2.º ano de escolaridade, para os resultados referentes à disciplina de Estudo do Meio, com os alunos alentejanos a evidenciarem mais dificuldades no domínio “sociedade”, sendo que 62,6 por cento dos desempenhos se enquadram na categoria agregada “revelou dificuldade/não conseguiu”.

 

No que diz respeito à disciplina de Educação Física, mais de 60 por cento dos alunos tiveram desempenhos de acordo com o esperado nos domínios “deslocamentos e equilíbrios” e “perícias e manipulações”. De salientar, também, como positivos, os resultados na prova de Educação Artística, em que a maioria dos alunos do 2.º ano se insere na categoria “conseguiu/conseguiu, mas”, nomeadamente, nos itens “experimentação e criação” e “interpretação e criação”.

 

Ainda de acordo com os resultados nacionais das provas de aferição, no 8.º ano de escolaridade, a Português, os domínios “gramática” e “leitura e educação literária” são os que revelam maiores fragilidades, com 71,1 por cento e 66,7 por cento, respetivamente, nas categorias de desempenho agregadas de “revelou dificuldade, não conseguiu”.

 

Já 82,4 por cento dos alunos responderam de acordo com o esperado no item “oralidade” e 64,1 por cento na “escrita”.

 

No âmbito da disciplina de História e Geografia, verificam-se dificuldades em todos os domínios, com mais de 75 por cento dos alunos a não conseguirem responder ou a revelarem dificuldades, com destaque para os itens “a Terra: estudos e representações” e “população e povoamento”.

 

Na disciplina de Educação Física, 59,1 por cento dos alunos do 8.º ano, no Alentejo, relevaram dificuldades ou não conseguiram responder de acordo com o esperado no domínio “ginástica” e 53 por cento no “jogos desportivos coletivos”. Os melhores desempenhos registam-se no item “atletismo” (81,2 por cento).

 

De salientar que esta prova do 8.º ano apresenta, a nível nacional, segundo o IAVE, uma percentagem de não respostas (neste caso, de não realização das tarefas) muito elevado, sendo em média de 11 por cento no Alentejo.

 

Em todos as disciplinas e domínios referidos, a percentagem de alunos alentejanos que não conseguiram responder de acordo com o esperado é sempre superior à média nacional.

 

As provas de aferição não contam para a nota, mas o Ministério da Educação considera que “constituem informação muito importante para a consolidação das linhas prioritárias de atuação do ministério, relativas à qualidade das aprendizagens dos alunos, assumindo particular relevo no quadro da avaliação de impacto das ações do Plano de Recuperação de Aprendizagens”.

 

Por conterem dados desagregados e qualitativos, adianta ainda, “têm permitido que as escolas adotem, em função da análise dos resultados, estratégias próprias para o acompanhamento dos alunos”.

 

Ao “Público”, o ministro da Educação frisou que “a lógica é: a aferição serve precisamente para intervir, para chegarmos ao detalhe. Perante um impacto como o da pandemia medidas de carácter geral não servem”.

 

João Costa disse ainda que estas são “provas com uma grande importância, uma vez que retomam a série de 2019 que tinha sido quebrada nos anos da pandemia, permitindo fazer um retrato dos resultados dos alunos em 2019, antes da pandemia, e em 2022, depois da pandemia”.

 

Em 2021 as provas de aferição foram aplicadas a uma amostra de alunos.

 

 "DESEMPENHO DOS ALUNOS REVELA UMA MELHORIA GLOBAL"

O Ministério da Educação destaca, em nota de imprensa sobre o Relatório das Provas de Aferição de 2022, que “o desempenho dos alunos revela uma melhoria global, que abrange a maioria dos domínios curriculares aferidos, sendo que as variações (2019-2022), em vários desses domínios, indiciam uma tendência de recuperação das aprendizagens”.

 

Diz ainda que “os resultados relativos a Matemática do 5.º ano acompanham genericamente a evolução, mas mantêm uma percentagem de desempenho esperado baixa”, que “na prova de 2.º ano verifica-se uma melhoria dos vários subdomínios da Matemática e resultados mais baixos na organização e tratamento de dados” e que “os dados das provas performativas mantêm resultados em linha com os anos anteriores”.

 

Na desagregação por NUTS II, refere ainda o ministério, “verifica-se que as regiões Norte e Centro apresentam de novo os melhores resultados por domínios, sendo acompanhadas pela Área Metropolitana de Lisboa nos resultados a Português do 8.º ano”.

 "PROVAS DE AFERIÇÃO PASSARÃO A SER REALIZADAS EM COMPUTADOR"

As provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade obrigatória vão ser realizadas por todos os alunos em suporte eletrónico, confirmou no passado mês de novembro o Ministério da Educação. No ano letivo 2021/2022 as provas foram realizadas em computador por três mil alunos num projeto-piloto destinado a testar qual a viabilidade da mudança do papel e caneta para o computador.

 

Estão previstas provas de aferição nas disciplinas de Português e Estudo do Meio, Matemática e Estudo do Meio, Português, História e Geografia de Portugal, Ciências Naturais e Físico-Química, Tecnologias da Informação e Comunicação e Inglês.

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