Diário do Alentejo

EDIA com “dimensão nacional” num “futuro próximo”

12 de dezembro 2022 - 10:30
Novo tarifário da água, “para garantir sistema sustentável”, está a ser estudado
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Foi durante a inauguração da Feira do Montado, em Portel, que a ministra da Agricultura, entre elogios ao Alqueva e à empresa gestora do empreendimento, reiterou a intenção de alargar a área de influência da EDIA ao todo nacional. Em declarações ao jornal digital “O Atual”, Maria do Céu Antunes disse que “o Alqueva mudou radicalmente a atividade económica e a dimensão social e ambiental do território e, por isso, vamos trabalhar, num futuro muito próximo, para colocar a EDIA, não apenas com esta vertente regional, mas com uma dimensão nacional, para poder gerir tecnicamente outros regadios”.

 

Texto Aníbal Fernandes

  

O objetivo da ministra é que Portugal possa adquirir “uma dimensão de regadio colectivo eficiente, capaz de alavancar o desenvolvimento da agricultura” nacional.

 

Contactado pelo “Diário do Alentejo”, José Pedro Salema, confirmou que “o tema tem estado em cima da mesa e a intenção da tutela nesse sentido foi já manifestada publicamente diversas vezes”.

 

O presidente da EDIA considera que a empresa “tem capacidades relevantes em todas as áreas de especialidade ligadas à construção e exploração de aproveitamentos hidroagrícolas”, e que a sua “experiência na construção e exploração do empreendimento de Alqueva – que representa hoje cerca de 130 mil hectares [o equivalente a metade do regadio público nacional] – poderá ser potenciada em outros projetos e geografias”.

 

José Pedro Salema está convencido que “a profissionalização da gestão do regadio coletivo nacional é um imperativo e a EDIA poderá dar um contributo nesse sentido, não só assumindo a responsabilidade de alguns processos especializados quando a entidade gestora local não tem essa capacidade, mas também partilhando as melhores práticas, as mais recentes tecnologias e/ou formando quadros técnicos”.

 

José Núncio, presidente da Federação nacional de Regantes (Fenareg), admitiu ao “Diário do Alentejo” que “sem mais pormenores” é difícil manifestar uma opinião sobre o assunto. “Se estamos a falar da capacidade técnica da EDIA, é uma coisa”, se não for apenas isso, “terá de se ver”.

 

Até porque, diz o dirigente associativo, “ainda não ouvi vez nenhuma que a Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural (Dgadr) – que tutela a Autoridade Nacional do Regadio – vai perder competências”.

 

Recorde-se que é Dgadr que tutela a Autoridade Nacional do Regadio, que, por sua vez, tem como função supervisionar a elaboração dos estudos e dos projetos de execução de infraestruturas coletivas de distribuição de água para rega. Segundo algumas agricultores contactados pelo “Diário do Alentejo” a introdução de EDIA nesta equação pode criar alguns conflitos de interesse na gestão da água.

 

TARIFÁRIOS REVISTOS

Na mesma ocasião a ministra da Agricultura disse que a repercussão da eletricidade no preço da água fornecida pela EDIA tem sido “adiado”, mas que, neste momento, “é inevitável que se faça” e revelou que estão a ser feito “estudos” para atualizar “o tarifário da EDIA, porque o sistema tem de ser sustentável”.

 

“A EDIA tem de ser sustentável e, portanto, os custos e as receitas têm de andar a par. Estamos a estudar uma proposta que ajude a superar este défice, mas que também ajude os agricultores a continuarem a produzir”, adiantou.

 

Rui Garrido, presidente da ACOS – Agricultores do Sul e da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo, diz compreender “que alguma coisa tenha de ser feita”, para garantir a sustentabilidade da EDIA, mas recusa “alterações de preços que reflitam de forma pura e dura” os aumentos da energia.

 

“Temos de encontrar forma de atenuar os aumentos”, diz, apontando para uma maior aposta na instalação de sistemas de produção fotovoltaica de energia, que em tempos estiveram previstos, mas que foram “pouco concretizados”, lamenta.

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