Diário do Alentejo

Estado das aves em Portugal é “preocupante”, revela estudo da SPEA

11 de novembro 2022 - 12:00
Alterações climáticas são uma “condicionante”, mas o aumento das culturas intensivas é o fator principal
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A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) divulgou, recentemente, os resultados “preocupantes” dos censos e dos programas de monitorização de espécies de aves em Portugal relativos a 2022.

 

Segundo o documento, ainda que a situação seja “periclitante” em todos os meios, as populações residentes em áreas agrícolas foram as que registaram uma maior percentagem de declínio (30 por cento), como é o caso dos peneireiros, abelharucos, pintassilgos e cucos.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

No Alentejo, para Rita Alcazar, coordenadora da delegação da Liga para a Proteção da Natureza (LPN) em Castro Verde, estas conclusões são um “indicador preocupante” e refletem “muitas das mudanças que tem havido na agricultura recente”, com o aumento do número de áreas agrícolas intensivas que, consequentemente, causam “transformações muito radicais no habitat dessas aves” e levam à sua diminuição.

 

“Um exemplo, para que se compreenda, é que se antes tínhamos um campo de cereais, uma cultura anual, e passamos a ter um olival intensivo tiramos a casa a que as aves [que lá viviam] estavam habituadas e, conjuntamente, passamos a usar técnicas, por vezes, prejudiciais à sua conservação”, começa por explicar, ao “Diário do Alentejo”, a bióloga.

 

Ainda que concorde que as alterações climáticas sejam “uma condicionante” que também conduz a estes resultados, crê que o seu efeito “não é tão significativo”, a curto prazo, como aquele causado pela perda de habitat.

 

“As alterações climáticas têm um impacto na qualidade do habitat, mas para já influenciam menos [estes decréscimos populacionais], quando comparados com as alterações resultantes das culturas intensivas que têm um peso, no imediato, muito mais significativo na balança”, refere.

 

Contudo, o diretor executivo da SPEA, Domingos Leitão, mostra que ainda há luz ao fundo do túnel e que “em muitos casos” o panorama ainda é “reversível”. Segundo a técnica, Rita Alcazar, esta mudança de paradigma é possível ser feita “com um esforço relativamente pequeno” tanto ao nível económico como logístico.

 

“[Podemos mudar], às vezes, com medidas tão simples como a colocação de caixas ninhos ou pequenos aglomerados de pedra/lenha seca para fazer de abrigo, ao ter mais cuidado na gestão que temos das linhas de água para que sejam corredores ecológicos que fomentem as espécies ou deixar algumas bordaduras entre as parcelas [das culturas intensivas] para que habitem lá”, exemplifica.

 

TRÊS DÉCADAS DE LPN NO BAIXO ALENTEJO

A delegação da LPN em Castro Verde celebra, este mês, 30 anos de trabalho com um “balanço bastante positivo” e com o foco na “manutenção e insistência desta paisagem que caracteriza o Campo Branco e que serve de principal reduto para um conjunto de aves muito ameaçadas”.

 

Nos últimos dias, o Centro de Educação Ambiental do Vale do Gonçalinho tem sido palco de diversas atividades comemorativas que une alunos do Agrupamento de Escolas, representantes de entidades parceiras, ex-colaboradores e a comunidade em geral numa “festa recheada de arte”. Até ao final do mês, está ainda agendada a residência artística de street art com o artista Tiago Hacke, a celebração oficial e as jornadas técnicas sobre conservação das aves estepárias.

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