Diário do Alentejo

“Uma sementeira” de respeito à palavra

01 de outubro 2022 - 17:00
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Ana Paula Figueira tem 57 anos e é natural de Beja. Doutorada em Gestão de Empresas, concluiu em 2011 o pós-doutoramento, no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. É professora coordenadora no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), foi pró-presidente, do instituto, entre 2017 e 2021.

 

Escreve regularmente artigos de opinião em dois jornais regionais. Nos últimos anos tem editado, para além de livros técnicos, trabalhos na área da ficção. Estreou-se como letrista em 2021, assinando as letras dos temas que integram o álbum “Âmbria”, da banda de música popular portuguesa LuzAzul.

 

Ana Paula Figueira e António Bagão Félix apresentaram no passado dia 22, no Palácio Fronteira, em Lisboa, o livro Natureza de Poesia, obra publicada no âmbito das Jornadas Europeias do Património do Palácio Fronteira, promovidas pela Fundação das Casas de Fronteira e Alorna.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este Natureza de Poesia?

Trata-se de um conjunto de uma poesia humana e de uma prosa botânica (…) por via da interação entre nós e a natureza, traduzido em dezoito pares “poema-texto”, ordenados segundo uma percetível sequência da vida, nas suas multifacetadas e quase paradoxais abordagens humana, botânica, ética, estética e afetiva. Ilustrado com cianotipias assinadas por Nuno Abelho e resultado de uma produção muito cuidada da parte da editora, ele é um livro objeto, uma obra artística visual.

 

Depois de Raízes de Vida, em 2019, os dois autores voltam a criar uma obra escrita “a duas mãos”. Como aconteceu este reencontro literário entre si e António Bagão Félix?

Conversamos muito e respeitamo-nos muito, intelectualmente. Nessas circunstâncias, este tipo de trabalhos surge de forma muito natural.

 

É este reencontro uma prova de que, contrariamente ao dito, é aconselhável regressar a lugares onde já se foi feliz?

Provavelmente. No mundo dos relacionamentos, existem pessoas que têm a virtude de nos aperfeiçoar, de nos enriquecer, na medida em que nos fazem descobrir o melhor de nós. Talvez seja isso que acontece connosco. Daí esta nossa nova incursão no mundo da escrita.

 

António Bagão Félix diz que este livro se fez “talhando azevinhos de adjectivos, loureiros de verbos, madressilvas de substantivos e hibiscos de cianotipias”. É esta uma sementeira de palavras cuidadas?

Diria antes que é uma sementeira levada a cabo por duas pessoas que não fazem da escrita a sua profissão, mas que respeitam muito a palavra, as suas múltiplas possibilidades criativas e o impacto que tem (pode ter) nos leitores, quando os incomoda, quando os leva a fazer perguntas. É com esta paixão que sempre escrevemos. E este Natureza de Poesia não fugiu à regra.

 

O que mais deseja que os leitores deste livro possam, dele, interpretar e sentir?

Apesar de hoje o mundo ser dominado pela “métrica”, este livro contraria esse paradigma. Desde logo, o imenso cuidado que a editora imprimiu à sua produção, é algo que não é vulgar; o seu conteúdo requer uma leitura meditativa, não rápida nem instantânea. Também, a beleza corroborante das cianotipias decorre da sua simplicidade, em sintonia perfeita com tudo o resto. Ou não fosse “a simplicidade o último grau da sofisticação”.

 

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