Diário do Alentejo

Faltam 30 carteiros e 20 técnicos de balcão no distrito de Beja, diz sindicato

26 de agosto 2022 - 10:00
Estrutura sindical dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações denuncia problemas junto das populações
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O Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações exige a contratação de mais carteiros e técnicos de balcão e salários “que respeitem a qualificação profissional de cada trabalhador”. A fim de denunciar o que considera que está mal na empresa, o sindicato tem vindo a promover ações de contacto junto das populações, percorrendo, até meados de setembro, todas as capitais de distrito e regiões autónomas.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Faltam atualmente, no distrito de Beja, cerca de 30 carteiros e 20 técnicos de balcão para as estações, revela José Oliveira, membro da direção nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (Sntct), em declarações ao “Diário do Alentejo”. A título de exemplo, adianta o sindicalista, os centros de distribuição postal de Beja, Odemira e Moura/Serpa necessitam, no seu conjunto, de nove carteiros. No que concerne aos técnicos de balcão, por exemplo, faltam três na cidade de Beja e “pelo menos seis” no resto do distrito.

 

A falta dos referidos profissionais, sublinha o dirigente, leva a que “durante todo o ano” se possam verificar “atrasos na entrega da correspondência, de duas ou mais semanas”, incluindo todo o tipo de objetos postais, como correspondência normal, correio azul/prioritário, registos ou express mail.

 

“Aparentemente não faltam muitos profissionais, mas se olharmos, por exemplo, para o centro de distribuição de Beja, em que faltam três carteiros, e se tivermos em atenção que cada giro chega a ter 25, 50 quilómetros, devido à questão geográfica, é humanamente impossível fazer-se o serviço como deve ser”, diz.

 

O mesmo se passa com as estações, “em que dos três ou quatro balcões só um está a funcionar, o que origina longas filas, às vezes para comprar um simples selo. Isto é suficiente para provocar problemas aos cidadãos e aos trabalhadores”, acrescenta José Oliveira, salientado que os que estão na distribuição e atendimento acabam “por dar a cara pela empresa”, não podendo, contudo, devido a estarem sujeitos à “lei da rolha”, explicar por que é que se verificam atrasos na distribuição da correspondência.

 

“Eles não podem dizer a verdade e o que acontece é que acabam por ser agredidos, verbalmente quase todos os dias, fisicamente já com alguma periodicidade que nos deixa assustados”, revela, adiantando que “a maior parte dos carteiros anda na rua de olhos baixos, com vergonha” do serviço que é prestado.

 

José Oliveira salienta ainda que, no caso das estações de correio, estão a ser deslocados técnicos de balcão de Faro, Tavira e Albufeira para prestarem serviço no distrito de Beja. “Não arranjam dinheiro para contratar trabalhadores, mas depois estão a pagar deslocações de técnicos”.

 

A “inexistência de trabalhadores em número suficiente para prestar o serviço” foi um dos problemas abordados pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações no final da semana passada em Beja, no âmbito das ações de contacto e denúncia que tem vindo a promover junto das populações e dos seus representantes autárquicos e que abrangerão todas as capitais de distrito e regiões autónomas até meados do mês de setembro.

 

De acordo com o responsável, a nível nacional faltam “mais de 750 carteiros e 250 técnicos nos balcões”. José Oliveira sublinha que, após a privatização total dos Correios, em 2013 e 2014, se tem vindo a assistir a uma diminuição acentuada do número de trabalhadores, nomeadamente, nos centros de distribuição postal, em que se chegou a reduzir dois em cada três carteiros. O que significa que “fica um carteiro a fazer o trabalho de três”.

 

“Temos carteiros, assim como técnicos de balcão, em situação de estafa”, afirma o dirigente, chamando ainda a atenção para o facto de existirem trabalhadores “que são impedidos de gozar férias com a família, porque há falta de gente”.

 

Melhores salários e renacionalização dos CTT A par da contratação de profissionais em número suficiente, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações exige o pagamento de salários “que respeitem a qualificação profissional de cada trabalhador”.

 

José Oliveira sublinha que os CTT tiveram, no ano passado, mais de 38 milhões de euros de lucro, sendo que 36 milhões foram direta ou indiretamente “para o bolso dos acionistas”, sobrando “dois milhões e qualquer coisa para investimento e acréscimo de salários”.

 

“Para onde estão a caminhar os CTT? Temos cada vez mais uns CTT que trabalham para gerar somente lucros para os acionistas e não querem saber da qualidade do serviço”, diz.

 

O Sntct exige, igualmente, a renacionalização dos CTT. O sindicato considera que “ a gestão privada dos CTT tem de repor a prestação de um serviço público postal de qualidade, vergonhosamente degradado antes e após a privatização”. José Oliveira frisa que o primeiro-ministro e o Governo recusaram a renacionalização dos CTT, desautorizado a Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações, e que renegociaram com os acionistas dos CTT um contrato de prestação do serviço postal universal que “baixa os critérios de qualidade”.

 

“Os CTT privatizados têm por obrigação prestar o serviço postal universal, que é aquilo que está no contrato de concessão, e não o estão a fazer. A noção que temos é que vai destruindo o pouco de bom que ainda resta daquilo que foram os grandes CTT, que foi considerada a melhor empresa de correios a nível europeu”, conclui o dirigente.

 

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