Diário do Alentejo

“Existe um longo caminho a percorrer” para uma agricultura sustentável

19 de agosto 2022 - 15:00
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Luís Peres de Sousa tem 70 anos e é natural de Arouca. É Engenheiro Agrónomo formado pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, professor e investigador, há 36 anos, na Escola Superior Agrária (ESAB) do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja). Atualmente, preside o Conselho Técnico-Científico e coordena do Grupo de Peritos Nacionais de Viticultura da Comissão Nacional da Organização Internacional da Vinha e do Vinho.É ainda presidente da subcomissão para as uvas de mesa, passas e produtos não fermentados da vinha, da Organização Internacional daVinha e do Vinho.

 

Em 2018 foi condecorado, pelo Governo francês, como “Oficial de Mérito Agrícola”. Recentemente, deu a sua última aula na ESAB, onde lecionou durante mais de três décadas. O IPBeja agradeceu “o importantecontributo, quer como docente quer como investigador”, que o professor deu à instituição, à região e ao país.

 

Texto José Serrano

 

Que sentimento presidiu a esta última lição?Muita emoção e o sentimento do dever cumprido.

 

“Os Desafios da Viticultura do Século XXI” foi o tema dessa mesma aula. Para o Alentejo, que desafios são esses?Os principais desafios são as alterações climáticas e a biodiversidade.É fundamental reduzirmos as emissões de gases de efeito de estufa, com práticas vitícolas que permitam o sequestro de carbono no solo, com a mobilização mínima; aumentar o teor de matéria orgânica dos solos, com o uso de culturas de cobertura (cereais, fava, ervilha e outras); recorrer ao pastoreio dos animais (ovelhas,galinhas e outros) e ao uso de meios mecânicos – calor, robots e ultrassons – para eliminar as infestantes; reduzir a erosão dos solos e a evaporação e aumentar os seus teores de água. Relativamente à biodiversidade, devemos, no ecossistema vitícola, melhorar e incrementar medidas, tais como a plantação de sebes, de floresta, de culturas biodiversas, permitindo a atração dos predadores das pragas da videira. Este efeito permitirá que o microbioma do solo, das folhas e dos bagos de uva não seja afetado na sua diversidade microbiana. O uso de biopesticidas (microrganismos que atuam contra fungos, por exemplo), cada vez mais presentes na viticultura, permitirá reduzir a aplicação de pesticidas de síntese, melhorando a estrutura microbiana, com impacto positivo na funcionalidade do solo, na resistência ao stresse biótico e abiótico na produção, na redução de custos e na valorização da qualidade do produto produzido.

 

Considera existir consciência da necessidade de uma agricultura sustentável, por parte dos agricultores, no território?Relativamente à necessidade de tomada de consciência de uma agricultura sustentável, no território, existe um longo caminho, por todos, a percorrer, (agricultores, autarcas, associações e outros), pois os alertas de emergência estão aí – ondas de calor e falta de água. É preciso aumentar a eficiência de rega – (é necessário ter uma noção da sua aplicabilidade, como fator de produção chave), restabelecer alguns mosaicos de vegetação poli diversa na paisagem, preservar os recursos culturais existentes e realizar ações de formação e sensibilização, bem direcionadas, juntando associações, a CCDR Alentejo, a EDIA, o Ministério da Agricultura, o Ministério do Ambiente, os institutos politécnicos, as universidades, os municípios e outras entidades.

 

Qual o principal ensinamento que, enquanto docente da ESAB de Beja, pretendeu passar aos seus alunos?O principal ensinamento que tentei transmitir foi, conforme o lema da ESAB, “aprender fazendo”.

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