Diário do Alentejo

Escolas preparam ano letivo sem muitas certezas

13 de agosto 2022 - 10:30
SPZS não espera melhoria na colocação de professores
Ilustração | Susa MonteiroIlustração | Susa Monteiro

As escolas já informaram o Ministério da Educação das suas necessidades em termos de colocação de professores e esperam, agora, a resposta dos serviços. Manuel Nobre, presidente do Sindicato de Professores da Zona Sul (SPZS) antevê “um primeiro período com muitos problemas” se o Governo não mudar de política. 

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Em Beja, Castro Verde e Moura, os agrupamentos de escolas já fizeram os respetivos pedidos para a colocação de professores, mas vão ter de esperar alguns dias até receberem a resposta dos serviços do Ministério da Educação.

 

“No ano passado ficou um professor por colocar e tivemos de distribuir as horas por outros colegas”, explica ao “Diário do Alentejo” a vice-presidente do agrupamento de escolas de Castro Verde, Maria João Martins. Esta é a solução a que muitas vezes, em todo o distrito de Beja, os responsáveis das escolas têm de recorrer para “remediar” a falta de professores.

 

Também em Moura a primeira fase do processo está concluída. Fonte da direção da escola disse que no ano transato, não se verificou falta de professores “durante meses seguidos” e que só pontualmente, por razões de baixa de algum docente, os alunos ficaram sem aulas.

 

Já em Beja, no agrupamento de escolas número 1, o vice presidente, José Manuel Ferro, mostra-se otimista em relação ao novo ano: “A nossa perspetiva é sempre positiva e estamos a contar com os professores necessários”, acrescentando que, caso falte algum professor, a solução passa por recorrer a horas extraordinárias. “Espero que este ano seja melhor, mas a realidade é que há falta de professores em alguns grupos”, conclui.

 

Manuel Nobre acha que esta situação só acontece porque o Governo tem vindo a desinvestir na Educação. “Segundo um relatório do Tribunal de Contas, em 2020, a percentagem do PIB destinada à educação foi a mais baixa da década”, acusa.

 

“Segundo dados recolhidos pela Fenprof, os professores trabalham em média 48 horas por semana, muito acima das 35 horas legais e isso é gravíssimo, ainda por cima havendo professores não colocados”, protesta. O dirigente sindical diz ainda que, para piorar a situação, o distrito de Beja “tem um corpo docente envelhecido”.

 

Segundo dados divulgados esta semana, até ao final do mês de julho, em todo o País, tinham-se reformado cerca de 1500 professores, calculando-se que, até ao fim do ano, esse número chegaria aos dois milhares e aos 10 mil nos próximos quatro anos. Também semana passada, foram anunciadas pelo ministério alterações no regime de mobilidade por doença – que em Beja não é preocupante –, mas Manuel Nobre diz que vai ter impacto na região e fazer aumentar a falta de professores.

 

“O ministro anunciou a renovação dos contratos aos professores com horários incompletos – que não é mais do que renovara precariedade – só para fazer qualquer coisa”, acusa o sindicalista, acrescentando que o ministério vai permitir que no Algarve, “os professores nesta situação vejam os seus horários completados, criando assim uma desigualdade em relação a Beja” e que pode levar alguns professores contratados a optarem por Faro, em prejuízo do Baixo Alentejo.

 

Manuel Nobre defende que só a valorização da carreira dos professores e a estabilidade dos quadros das escolas pode resolver a questão da falta de professores e lembra que no ano passado “algumas escolas da Margem Esquerda tiveram de recorrer a professores sem qualificação”, uma vez que a distância e os horários incompletos são um impedimento a que profissionais qualificados concorram aos lugares disponíveis.

 

Um estudo da Pordata divulgado há uns meses prevê que mais de 100 mil alunos possam começar o ano letivo sem professor a uma ou mais disciplinas. Para o distrito de Beja não há previsões, mas o dirigente sindical teme que a situação piore em relação a 2021.

 

MINISTÉRIO MEXE

O ministro da Educação, João Costa, anunciou recentemente algumas mudanças, nomeadamente, o preenchimento de horários a professores das reservas de recrutamento e ao permitir que docentes retirados das listas de colocação pudessem voltar a integrar as mesmas. As regras de colocação por mobilidade também foram alteradas, prometeu uma vinculação mais rápida e alterações na formação inicial de professores.

 

No entanto, Filinto Lima, presidente da Associação nacional de Diretores de Agrupamentos

de Escolas Públicas, considera que as medidas anunciadas apenas resolvem “uma ínfima parte do problema”. “Vai atenuar, mas o problema vai persistir porque é estrutural. Não se resolve esta questão no curto prazo, porque é um problema profundo que precisa de reformas significativas”, reclamando ainda por medidas que “volte a atrair jovens para a formação superior via ensino”.

 

Comentários