Diário do Alentejo

A importância de refletir sobre “a aceitação das diferenças e do respeito pelo ‘outro’

06 de agosto 2022 - 14:15
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Fátima Santos tem 61 anos e é natural de Odemira. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses, pela Universidade Nova de Lisboa e mestre em Estudos Lusófonos, pela Universidade de Évora, tendo concluido a parte curricular do doutoramento em Liderança Educacional, pela Universidade Aberta.

 

Formadora de didática específica do Português e coautora de manuais escolares e de livros de apoio ao estudo. É professora de Português há 37 anos, lecionando, atualmente, na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, cidade onde dá aulas há 36 anos.

 

Apresentou recentemente, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, o livro, de sua autoria, intitulado "Um acaso na Praia dos Cinco Reis".

 

Texto José Serrano

 

Que imprevisto é este, que o seu livro nos conta?Um acaso na Praia dos Cinco Reis é um conto que tem como protagonista um menino que vive na planície alentejana.Um dia, António, num dos seus passeios com o seu cão, cruza-se com um outro menino, na Praia dos Cinco Reis, em Beja. Ibrahim é um migrante, que lhe conta que está em Beja por ser refugiado de guerra e lhe manifesta a sua dificuldade em fazer amigos, num país cuja língua e cultura são diferentes. Entre ambos estabelece-se uma relação de cumplicidade, que corresponde à criação dos primeiros laços de amizade.

 

Há nesta sua obra uma intencionalidade de refletirmos acerca da dificuldade, que por vezes existe, em aceitar o “outro”?A narrativa leva-nos a uma reflexão sobre a importância da aceitação das diferenças e do respeito pelo “outro”. O Alentejo tem recebido muitos migrantes. É essencial que essas pessoas tenham a dignidade que qualquer ser humano merece. Não são mais nem menos do que os residentes, pelo que, como todos, deverão ter direitos e deveres. Por isso, a aceitação das diferenças é tão importante como a integração e conhecimento da nossa cultura. Deste modo, a narrativa convida a um passeio pelas nossas raízes e tradições, para que as mesmas continuem a integrar a mudança e a novidade do mundo globalizado.

 

Localizou a ação na praia fluvial de Beja. Essa proximidade ao palco onde se desenrola a ação – a praia fluvial de Beja – é um convite ao passeio familiar, à descoberta da região?É meu objetivo que a leitura do livro possa também ser um convite à visita do concelho de Beja. São feitas referências ao pão alentejano, aos bolos da amassadura, às popias caiadas, ao porco preto, à caça, às culturas de sequeiro, aos olivais, às vinhas, ao montado, à cortiça, à arquitetura das casas, ao cante alentejano e, claro, ao Parque Fluvial de Cinco Reis, cuja praia resulta dos benefícios da barragem de Alqueva. Também não foi esquecida a importância do funcionamento do nosso aeroporto...

 

Este é um livro dirigido, essencialmente, a um público juvenil ou o leque de leitores que procura abranger é mais alargado?Trata-se um conto infanto-juvenil, com uma estrutura circular e paralela, que sugere que a vida é feita de chegadas ede partidas, de semelhanças e de diferenças, pelo que nós recebemos pessoas oriundas de outros países, mas também temos comunidades de portugueses em vários pontos do mundo. O livro destina-se, sobretudo, à faixa etária entre os sete e os 13 anos, mas, como dizia Saramago – “E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para adultos? Seriam eles realmente capazes de aprender o que há tanto tempo andam a ensinar?”

 

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