Diário do Alentejo

“Conhecimento e memória do Alentejo rural, no início do século XX”

25 de julho 2022 - 16:00
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Carlos Campaniço tem 48 anos e é natural de Safara, no concelho de Moura.  Estudou em Safara até aos 12 anos, tendo, posteriormente, continuado os estudos na Escola Secundária de Moura, na qual terminou o ensino secundário. Posteriormente, ingressou na Universidade do Algarve onde se licenciou em Estudos Portugueses - Línguas e Literaturas Modernas e também mestre em Cultura Árabe, Islâmica e o Mediterrâneo. Atualmente,  é programador artístico e produtor de eventos culturais.

A literatura é a sua grande paixão, tendo editado o seu primeiro livro, o romance Molinos, há 15 anos. Recentemente publicou a sua sétima obra, Velhos Lobos.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este seu novo romance?

É um romance que vem no seguimento de quase todos os meus outros livros, no qual me proponho explorar a vivência das comunidades rurais alentejanas, a luta de classes, o papel das mulheres na sociedade do início do século passado, a fragilidade das crianças, a luta imensa pela sobrevivência diária e o imaginário coletivo alentejano. Este livro aborda a questão da socialização e da necessidade desta, no dia-a-dia do ser humano. Também, como sempre, há um olhar atento sobre a condição humana, sobre a memória do Alentejo, a Guerra Civil Espanhola, os efeitos da solidão, a necessidade do amor. Os desamores. É uma história entre duas famílias e de um sentimento comum.

 

De que lugar do seu imaginário, proveem as personagens que povoam as quase três centenas de páginas desta estória?

As personagens são ficcionadas, todas elas, mas muito inspiradas na memória coletiva da minha aldeia, das histórias que fui ouvindo aos meus familiares, de gente que conheci, das muitas conversas que tive, desde muito novo, com pessoas mais velhas, carregadas de memórias e sabedoria. Outras são fruto, puramente, da minha imaginação.

 

Quanto dos costumes e do sol do Alentejo estão vincados nesta obra?

Esta obra está empapada do que é o Alentejo e do que foi: passa-se no Alentejo, desde logo. As nossas tradições, modo singular de ser, história, as paisagens, a ambiência, os odores, a pronúncia, está lá tudo neste livro. Só é possível escrever sobre o Alentejo, com pormenor, quem o conhecer como nós, alentejanos. Somos singulares em muitos aspetos, e eu quis, e quero, abordar o Alentejo de prismas diferentes, mas com o enfoque numa determinada época e, sobretudo, num mesmo espaço: o Alentejo rural.

 

É-lhe benéfica a sua condição de alentejano, enquanto escritor?

Para escrever romances de época sobre o Alentejo, sim. Tenho muito orgulho em ser alentejano e quem me conhece sabe que o manifesto diária e apaixonadamente. Todos os livros que tenho escrito sobre o Alentejo são um tributo à nossa terra e à memória dos nossos antepassados. O Alentejo “contaminou-me” e influenciou-me de tal forma que escrevo reiteradamente sobre a nossa região. E consigo encontrar sempre novas fórmulas para voltar ao Alentejo e contar parte do nosso passado sempre de maneira diferente.

 

O que mais gostaria que este livro despertasse nos seus leitores, quando ao fechá-lo, terminado de ler?

Desejava que gostassem do livro, primeiramente, mas que recordassem ou ficassem a conhecer o que foi um período da nossa vida coletiva, o que foi a vida de muitos Alentejanos na década de 30 ou 40, por exemplo. Estou crente que ao ler-se este livro compreender-se-á melhor o Alentejo, para quem não o conhecer, e trará à memória de outros, com diferentes sentimentos, o que foram esses tempos. É este o propósito: dar a conhecer, por um lado, e não deixar esquecer, por outro. 

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