O programa “@ Cientista Regressa à Escola”, da Native Scientist, promove o regresso de cientistas às suas escolas primárias com o intuito de aproximar as crianças à ciência, criando “pontes entre esta, a escola e a sociedade”.
Texto Ana Filipa Sousa De Sousa
“Dar de volta” é a forma como Joana Bordalo, cofundadora e coordenadora do programa “@ Cientista Regressa à Escola”, descreve a dinâmica e o espírito base das oficinas que, neste primeiro ano, chegaram até 500 alunos e 14 concelhos diferentes do País. “O programa pretende humanizar a ciência, quebrar estereótipos relacionados com as representações que a sociedade tem dos cientistas, e assegurar que todos os jovens têm a oportunidade de conhecer um/a cientista independentemente do sítio onde vivem”, esclarece, ao “Diário do Alentejo” (“DA”).
Margarida Palma, de 42 anos, foi a última cientista que voltou à sua escola de infância, em Algodor. Tendo como ponto de partida “a dieta dos alentejanos”, a oficina da investigadora passou pela combinação da “ciência com um tema que aproximasse as crianças às vivências do seu dia-a-dia” e às tradições do Alentejo. “Faço investigação na área da Microbiologia, mais precisamente com leveduras que são microrganismos muito úteis para o Homem desde há milhares de anos, em particular no fabrico do pão, cerveja e vinho. Os meus pais eram padeiros e desde muito pequena vi fazer pão e lidei com o fermento e a farinha”, começa por explicar ao “DA”. “Assim, pedi à minha mãe que fosse amassar pão à escola. Depois do pão amassado, deixámos a fermentar e fomos observar ao microscópio as leveduras do fermento que a minha mãe tinha preparado e do fermento do supermercado. No final, vimos a massa do pão entretanto já crescida e tendeu-se o pão”, descreve Margarida Palma. A segunda parte da oficina teve como intuito mostrar às crianças o porquê do pão crescer. Com um frasco de água, fermento, farinha, açúcar e balões coloridos, os 19 alunos da Escola Básica de Algodor concluíram que “os balões foram enchendo à medida que as leveduras iam produzindo gás durante a fermentação” e que esse gás era o responsável por fazer crescer a massa do pão.
“A IDEIA DE REGRESSAR À ESCOLA PRIMÁRIA É EXCELENTE”
A saudade, a ansiedade, as memórias de infância e a alegria de voltar “ao local onde iniciamos o nosso percurso de aprendizagem” foram os sentimentos que acompanharam Margarida Palma durante aquela segunda-feira. Professora de formação, o gosto por ensinar e partilhar conhecimentos e “sentir que estava a contribuir com algo novo para as crianças que estão agora na minha escola” foram o motivo principal para a sua candidatura à participação no programa. “Regressar agora enquanto cientista deixou-me feliz e orgulhosa por ter iniciado ali naquela escola o meu ensino-aprendizagem e o meu percurso. Mas mais do que isto, senti que podia contribuir para que estas crianças tivessem um dia diferente e sentissem que, tal como eu que andei naquela escola, também eles podem continuar os seus estudos e ser cientistas ou outra profissão que desejarem”, conta.