Diário do Alentejo

O fascinante Alentejo, para além da “muito estafada coleção de clichês”

12 de maio 2022 - 12:05

João Céu e Silva tem 62 anos e é natural de Alpiarça, Santarém. Licenciou-se em História e é jornalista colaborador do “Diário de Notícias”. Em 2013, recebeu o Prémio Literário Alves Redol com o romance “A Sereia Muçulmana”. Na ficção publicou também “28 Dias em Agosto”, “A Hora da Ilusão”, “Adeus, África” e “A Segunda Vida de Fernando Pessoa”. Recebeu, em 2021, o Prémio Carreira de Jornalismo do festival literário Escritaria e publicou nesse mesmo ano “Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente”. No âmbito da investigação histórica, escreveu: Álvaro Cunhal e as Mulheres que Tomaram Partido”, 1961 – O Ano que Mudou Portugal”,  1975 – O Ano do Furacão Revolucionário” e “Fátima – A Profecia Que Assusta o Vaticano”.

 

“Guadiana” é o título da obra, da autoria de João Céu e Silva, que venceu a 3.ª edição do Prémio Literário Joaquim Mestre, promovido pela Assesta – Associação de Escritores do Alentejo, em parceria com a Direção Regional de Cultura do Alentejo e com o apoio do Município de Beja. A cerimónia de entrega de prémios e de lançamento da obra acontecerá em outubro, na Biblioteca Municipal de Beja.

 

Texto José Serrano

 

Como vivenciou esta distinção que lhe foi atribuída pela Assesta?

Concorrer a um prémio literário é, na quase totalidade das vezes, uma frustração, porque o autor aposta muito no seu livro, mas é outro o escolhido. Desta vez, não foi o que aconteceu e quando recebi o telefonema a informar da atribuição fiquei muito feliz. Ainda por cima, o prémio homenageia Joaquim Mestre e é dado pela Associação de Escritores do Alentejo, o que me honra mais, por ter sido julgado por pares e por um júri que conhece bem a realidade do Alentejo.  

 

Qual o enredo a partir do qual se constrói este seu romance?

Em “Guadiana”, em que há um facto excecional que origina a narrativa, a minha intenção era criar uma situação em que o Alentejo, como é conhecido pela maioria dos portugueses, surpreendesse os leitores, devido ao inesperado, e mostrasse uma outra paisagem além daquela que sempre foi vista, desde que há memória. Tudo terá começado com uma ida, em trabalho, à barragem de Alqueva, seguida de uma visita, por curiosidade, às aldeias de Alqueva e da Luz. Quando acabou a reportagem, já não me saía da cabeça o romance, agora premiado, e foi meter mãos à obra.     

    

Pressupõe o título – “Guadiana” – a inspiração do autor nas paisagens bucólicas do Alentejo, tantas vezes olhadas como fatalistas, ou a revelação de um outro ângulo de visão, com a água como símbolo de vida, de renovação, de esperança?

Enquanto jornalista, percorri durante décadas o Alentejo. Daí que conheça bem as paisagens e, principalmente, as pessoas, devido a muitas entrevistas e reportagens aí realizadas, bem como a sua história – a mais antiga por leituras e os últimos trinta anos de forma direta. “Guadiana” tem uma particularidade que nunca antes usara num romance: a de recuperar, em alguns fins de capítulos, várias conversas nunca publicadas, por fazerem parte de um projeto que ficou pelo caminho, apesar de me ter feito percorrer o Alentejo de uma ponta à outra, durante meses. Essas conversas explicaram-me em muito a perceção de quem vive na região e ao relê-las, durante a investigação que fiz para a escrita, decidi reproduzir algumas partes. Ínfimas no total, mas com uma sinceridade que geram a sensação elogiada na ata de atribuição do prémio e valorizam uma outra realidade, que não a muito estafada coleção de clichês sobre o Alentejo.

 

Que objetivo gostaria que este seu livro cumprisse, junto dos seus leitores?

O principal desejo é o de os leitores gostarem da prosa e que se entusiasmem com a história. Sem o revelar, creio que o acontecimento que dá origem ao romance é tão forte e único que será difícil abandonar a leitura, sem querer saber como tudo acaba. Por outro lado, “Guadiana”, revelando-nos um Alentejo que podemos não imaginar real, é construído sobre o que o território tem de mais verdadeiro – um Alentejo fascinante, aquele que o rio Guadiana limita e inunda

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