O Instituto Politécnico de Beja prevê construir uma nova residência de estudantes, com 503 camas, até março de 2026.
Texto Ana Filipa Sousa De Sousa
O Instituto Politécnico de Beja (IPB) divulgou recentemente que apresentou uma proposta sob “manifestação de interesse” a financiamento, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para a construção de uma nova residência estudantil, de modo a colmatar os défices de alojamento existentes para os estudantes, no valor de cerca de 15 milhões de euros.
Em resposta à forte “procura de alojamento no início de cada ano letivo” surgiu a “oportunidade de financiamento ao concurso para o apoio público do PRR para alargar a oferta atual de camas a preços acessíveis, através de residências para estudantes do ensino superior, no âmbito do programa desenvolvido ao abrigo do Plano Nacional para Alojamento no Ensino Superior (PNAES), e nós entendemos que devíamos rapidamente constituir uma equipa que preparasse uma “manifestação de interesse” que desse resposta aos exigentes desafios do concurso”, explica ao “Diário do Alentejo” (“DA”) a presidente da instituição, Fátima Carvalho.
A proposta apresentada, em parceria com a Câmara Municipal de Beja, encontra-se em avaliação ao nível da sua localização, mobilidade e acessibilidades, adequação ao uso, conforto ambiental, instalações e equipamentos, sustentabilidade e inovação, estando prevista uma resposta até ao final deste mês. “Se tivermos sucesso, conforme a nossa expetativa, [posteriormente] teremos que formalizar a candidatura até ao final de abril, sendo a seleção das candidaturas a financiamento feita até meados de maio”, garante Fátima Carvalho, confirmando que “se tudo correr bem, o contrato-programa será assinado entre maio e junho”.
A presidente do IPB mostra-se confiante quanto ao retorno positivo do projeto apresentado, acreditando que este “respeita em sentido estrito todos os critérios, aliás, foi mesmo uma preocupação respeitar esses critérios de forma a aumentarmos as probabilidades de aceitação da nossa proposta e isto permite dizer que temos uma proposta sólida. Por exemplo, em função da localização, temos a residência integrada tanto no campus, como na malha urbana da cidade, perto de zonas verdes, a conhecida mata”, informa.
Dessa forma, o principal objetivo do IPB passa por encerrar as cinco residências dispersas pela cidade, que “estão em edifícios adaptados e não têm todas as valências necessárias”, e agrupá-las no novo edifício junto à Escola Superior de Tecnologia e Gestão. No projeto, esta nova residência alojará 503 estudantes que juntar-se-ão aos 174 alojados nas duas residências que se mantêm junto ao campus.
DEZENAS DE ALUNOS EM LISTA DE ESPERA
O número cada vez mais crescente de estudantes, que o IPB recebe a cada ano letivo, tem aumentado a dificuldade no acesso a alojamentos residenciais e ao arrendamento de casas pela cidade. “Neste momento a nossa bolsa de camas ronda as 416, divididas pelas sete residências, que sofreram uma certa elasticidade face à situação pandémica e às orientações da Direção Geral de Saúde. Mas, ainda assim, podemos assegurar que algumas dezenas de alunos ainda estão em lista de espera para conseguirem um lugar num dos nossos alojamentos”, confirma a presidente, que refere ter conhecimento que vários estudantes nem sequer dão início ao processo “por saberem que é muito difícil o acesso”.
Também a Associação Académica do Instituto Politécnico de Beja (Aaipb) assegura que são muitos os alunos que, devido à baixa oferta de habitação nas redondezas do campus, vivem em zonas mais afastadas da cidade e são obrigados a “deslocar-se para o instituto em viatura própria ou através de outros meios de transporte”. Como exemplo, “um aluno deslocado e com casa alugada, em média, já incluindo despesas de água, luz e gás, gasta cerca de 200 euros tendo de ser somado a esse valor outros 200 euros para despesas de alimentação e bens essenciais. Para além destes números, ainda temos de acrescentar as despesas de deslocação até ao instituto e até casa, que variam consoante a distância e a regularidade com que os mesmos se deslocam”, garante a recém-eleita presidente da Aaipb, Lígia Maldonado.
João Costa, de 22 anos, é estudante de enfermagem na Escola Superior de Saúde do IPB e corrobora a perspetiva da associação de estudantes: só na casa que arrendou no início do ano letivo “ficam 180 euros”, mais 50 euros “em gasóleo”, acreditando que por mês gasta muito mais do que os 230 euros. O jovem, natural de Barrancos, admite que, ainda que não tenha tido problemas em encontrar uma casa para arrendar em setembro, porque começou “a procurar bastante cedo”, deparou-se com “anúncios que abusam nos preços” e que possivelmente acabam por ser aceites por colegas que, não tendo a mesma sorte, se sujeitam a valores elevados para poderem frequentar a escola. Questionado pelo “DA”, admite que não tentou candidatar-se à bolsa de alojamento oferecida, mas vê com bons olhos a proposta para a construção da nova residência, sugerindo até “pequenos apartamentos” que permitissem uma maior privacidade e respeito pelos espaços comuns.
Para Lígia Maldonado, “neste momento, a cidade de Beja não apresenta respostas às necessidades crescentes de alojamento, e que, apesar do IPB ter cada vez mais alunos, as ofertas habitacionais não têm vindo a crescer”. E, por isso, a presidente da Aaipb acredita que a construção da nova residência poderá vir a “solucionar alguns dos problemas apresentados e conhecidos dos alunos deslocados, bem como atrair futuros estudantes ao politécnico, fazendo com que este e a cidade de Beja cresçam”. Ainda assim, a associação antevê que, se esta proposta não for aceite ou não conseguir dar respostas a 100 por cento, é necessário pensar-se em criar “algum tipo de apoio para os alunos que não consigam adquirir bolsas” de forma a ajudá-los nesta caminhada universitária.