Diário do Alentejo

"Apreciar e aprender" o tempo no Museu do Relógio

18 de fevereiro 2022 - 10:20

Eugénio Tavares D’Almeida tem 41 anos e é natural de Serpa. A sua infância passou-a entre Serpa e Portalegre, onde foi aluno num colégio interno católico. Aos 14 anos começou a trabalhar “informalmente” na fase embrionária do Museu do Relógio, acompanhando o pai nas viagens, pelo país e no estrangeiro, em busca de relógios.

 

Mais tarde licenciou-se em Gestão Turística e Hoteleira pelo Instituto Politécnico de Leiria e trabalhou em hotelaria de luxo no Algarve, Marbella e Dubai. Regressou a Serpa, em 2006, e aí permanece, dividindo-se entre os Museus do Relógio, de Serpa e de Évora, e a gestão agrícola familiar.

 

Texto José Serrano

 

O Museu do Relógio, em Serpa, exibe até domingo, dia 30, a exposição “Exquisita”, onde estão em destaque mais de 250 relógios “exquisitos”, entre os mais de dois mil em exposição.

 

Indicia o título desta exposição a mostra de relógios invulgares?

Esta exposição surge da disponibilidade de “Amigos do Museu” e colecionadores em partilharem connosco as suas coleções privadas. Pela singularidade das peças apresentadas, esta é uma exposição inédita em Portugal, rara no mundo, que expõe ao público relógios extravagantes, no seu conceito ou funções. Os museus devem agregar, sazonalmente, peças exteriores ao seu acervo, para apreciação da comunidade local e dos turistas que se deslocam propositadamente para as ver. Contribui-se, assim, para a microeconomia, pelo aumento de fluxo turístico e cultural, que gera consumo nos estabelecimentos na zona envolvente.

 

Constitui-se o próprio Museu do Relógio como singular, pelos acervos que expõe nos polos de Serpa e de Évora?

O Museu do Relógio poder-se-á enquadrar na prosa de Fernando Pessoa: “Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce”, pois tudo se iniciou com um sonho do seu fundador [António Tavares d’Almeida (1948-2012)], colecionador e amante de relógios mecânicos que, em 1995, tomou a decisão de institucionalizar a sua coleção como um humilde museu, de forma a contribuir para a oferta turística e cultural de Serpa e do Alentejo, partilhando a sua paixão com outros amantes desta máquina do tempo. Desde então, o museu evoluiu institucionalmente, no seu acervo e serviços, na dinamização entre tutelas e parceiros, em prol da cultura e da microeconomia do Alentejo interior. Exemplos desta evolução são a abertura do polo de Évora, em 2011, o contributo para o estímulo e criação da Rede de Museus de Évora e as imensas iniciativas e exposições feitas em Serpa, que têm atraído milhares de pessoas e ajudado a reforçar a imagem do território. Este dinamismo proporciona uma paixão e brio maiores a toda a equipa do museu, reconhecido como ímpar no País pela sua autossustentabilidade, sem qualquer subsídio ou apoio estatal, autárquico ou de mecenas privado, mantendo a sua identidade sem nunca deixar cair o sentido de compromisso.

 

Considera que uma visita ao Museu do Relógio propicia uma reflexão sobre a melhor forma de utilizarmos o nosso tempo, aquele que supostamente teremos à nossa disposição?

O tempo sempre foi algo muito relativo na história da humanidade e das civilizações. A perceção de tempo é algo completamente diferente para uma criança ou para um idoso, para um católico ou para um ateu, para um cosmopolita ou para um pastor, para um Japonês ou para um Cubano. Existe um tempo físico, um tempo espiritual, um tempo astronómico e outros mais. O relógio não passa da mecanização do tempo, nas frações intencionadas. É esta forma de medir o tempo entre civilizações, gerações e diversas classes sociais e profissionais que os visitantes do Museu do Relógio conseguem apreciar, reforçar e aprender.

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