Diário do Alentejo

Criada Comissão para estudar os casos de abusos sexuais da Igreja

15 de fevereiro 2022 - 11:05

Bispos criaram comissão independente para o estudo de abusos sexuais na Igreja Católica, reforçando e alargando o atendimento de casos. As dioceses dispunham já de comissões para a proteção de menores e adultos vulneráveis. Em pouco mais de ano e meio de funcionamento, não há nada de significativo a assinalar na diocese de Beja, diz o bispo, D. João Marcos.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

O bispo de Beja considera que o facto de a recém- criada Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica permitir que as pessoas possam fazer denúncias “fora da sua paróquia, da sua diocese, do seu ambiente” poderá facilitar “bastante” o processo de comunicação de eventuais casos.

 

“Acredito que a constituição desta comissão é para o bem da Igreja e para o bem da sociedade, porque a verdade liberta-nos”, adianta D. João Marcos ao “Diário do Alentejo”, sublinhando que “os bispos foram unânimes” na criação da comissão independente.

 

Na apresentação da comissão, em dezembro último, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o bispo José Ornelas, reivindicou a importância de se trilhar “um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos” para a Igreja Católica portuguesa.

 

A comissão, de âmbito nacional, iniciou no passado dia 11 um período de recolha de denúncias de vítimas de casos ocorridos desde 1950, suscetíveis de serem remetidos às autoridades e serem investigados.

 

Na primeira semana, adianta a Lusa, foram validados 102 testemunhos, recebidos por preenchimento de inquérito ‘online’ ou por chamada telefónica.

 

Segundo o coordenador da comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, existem depoimentos de pessoas entre os 30 e os 80 anos, “todas abusadas enquanto crianças”.

 

Embora tenha recebido testemunhos de todo o País e também de cidadãos emigrados, a comissão refere que “parece existir predomínio de registos na zona norte e interior de Portugal continental”.

 

O trabalho da comissão independente vai decorrer ao longo deste ano, num espaço físico “descaracterizado” e “autónomo” da Igreja, estando prevista a apresentação de um relatório em dezembro, que será entregue à CEP, que decidirá que ações tomar.

 

COMISSÃO DIOCESANA DE BEJA SEM DENÚNCIAS

Recorde-se que as dioceses dispunham já de comissões diocesanas para a proteção de menores e adultos vulneráveis, seguindo as orientações do papa Francisco, que dera até junho de 2020 para que todas as dioceses católicas criassem “um ou mais sistemas estáveis e facilmente acessíveis ao público” para eventuais denúncias.

 

A comissão da diocese de Beja foi criada em maio de 2020 pelo bispo D. João Marcos, “em regime experimental e pelo prazo de três anos”, sendo constituída por uma advogada, uma técnica superior de serviço social, ambas envolvidas em comissões de proteção de menores civis, e um presbítero, “com o objetivo de facilitar o acesso público para apresentação das sinalizações”.

 

Em pouco mais de ano e meio de funcionamento, diz D. João Marcos, não há nada de significativo a assinalar na comissão diocesana de Beja. “Apareceu uma coisa ou outra que se investigou e que se verificou que não tinha consistência. Sabemos que as pessoas também inventam e procuram prejudicar a Igreja”, reforça o bispo, frisando, no entanto, que “não quer dizer que não haja [casos] ”.

 

João Marcos sublinha que “os alentejanos, geralmente, são muito fechados no que diz respeito à sua intimidade, à sua família, ou seja, podem ter acontecido casos, enfim, reprováveis, mas as pessoas” não os denunciam e “vivem com isso, com esses problemas durante toda a vida”.

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