Diário do Alentejo

“Entendemos melhor o mundo se o virmos de vários ângulos”

11 de fevereiro 2022 - 12:00

Paula Estorninho tem 56 anos, é arquiteta e natural de Moçambique, mas atualmente são as terras alentejanas de Serpa que a acolhem. Desde 2005 que começou a fazer bonecas “de aparência delicada, pequenas como um palmo, preciosas como joias, simples como o gesto que as cria, sensíveis como tendo uma alma e sobretudo sonhadoras” e em 2011 criou o seu projeto “No Pátio Azul”.

 

José Teixeira tem 23 anos e é natural de Serpa, mas por estes dias é o sol do Porto que vê nascer todas as manhãs. É ilustrador e conhecido no meio artístico por Lacortei. Tem sido o criador de inúmeros cartazes e portefólios na área da ilustração e da colagem, todos eles disponíveis através das plataformas digitais. Intitulando-se de Golden Boy in Ban Shape é fascinado pela obra de Gauguinm dá valor à composição, à linha e às cores planas.

 

Neste momento o que os une é a sua exposição “Lindo Serviço” de bonecas e ilustrações que coabitam à volta de uma mesa de chá, patente ao público no Largo do Salvador, nº5, em Beja, no centro histórico da cidade.

 

Texto José Serrano

 

Como se sentem as bonecas de Paula Estorninho e as ilustrações de Lacortei, acompanhadas, agora, umas das outras?

Sentem-se mais completas, mais ricas, uma vez que ao estabelecer laços e afinidades se tornam mais expressivas. É a primeira exposição do Zé como ilustrador e estas experiências plásticas e expositivas contribuem para o amadurecimento do seu percurso artístico. É também a primeira parceria de mãe e filho e gostámos muito do resultado. Foi muito divertido sentir a exposição a crescer e a tomar forma. Penso que teremos muitos mais “serviços” pela frente. É mais um leque de possibilidades que se abre e que devemos explorar.

 

Quais as personagens que poderemos encontrar à volta deste “Lindo Serviço”?

Personagens expectantes e contemplativas, que nos piscam o olho e nos convidam a mergulhar num mundo mágico de fantasia, onde gozamos de liberdade total. Objetos e personagens criam diálogos e tensões, de forma provocante, e despertam a curiosidade de quem os observa. Cartolas, flores, livros, espelhos, cartas de jogo e outros objetos remetem-nos para as aventuras da célebre “Alice”, mas não queremos apenas ilustrar uma história, queremos ir mais além e, por isso, este chá pertence a mais meninas e meninos.

 

Que histórias pretendem contar estas bonecas e ilustrações às visitas que recebem?

Contam todas as histórias, que são infinitas. Pretendem mais fazer perguntas do que dar respostas, criam situações insólitas e divertidas, deixando espaço para o imaginário de cada um. Servem, portanto, muitas histórias. Não são sítios de chegada, mas pontos de partida e está tudo em aberto. O facto de termos tido à nossa disposição uma casa com espaços amplos, cheios de charme e alma de outros tempos passados, foi um luxo, pois possibilitou-nos criar ambientes escultóricos específicos para cada sala, jogando com o mobiliário e objetos do acervo da casa, que ganharam, também, o seu protagonismo e tudo tomou a forma de um todo.

 

Que reflexões gostariam que acompanhassem este chá, a quem o observa?

Que entendemos muito melhor o mundo se o virmos de vários ângulos e se o virarmos do avesso. O tempo de contemplação e atenção é o tempo que realmente necessitamos para ver o mundo, ao invés do tempo acelerado da vida diária.

 

Deveríamos todos nós beber um pouco mais de chá, à volta de uma mesa e de uma conversa?

Muita coisa acontece à volta de uma mesa e entre açúcar entornado e leite derramado tudo é possível. Sim, em volta de uma mesa, e com tempo, podemos sempre construir novas paisagens que refletem o nosso mundo interior, os nossos sonhos, desejos, ansiedades, inquietações.

 

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