Diário do Alentejo

"É urgente o reforço dos cuidados paliativos"

17 de outubro 2021 - 06:55
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Cristina Galvão, médica paliativista da Ulsba, é coautora do livro “Temas em Geriatria Clínica”, recentemente publicado, escrito por especialistas de várias áreas da saúde.

 

Texto José Serrano

 

Neste livro, é autora do capítulo “Princípios Básicos em Cuidados Paliativos”. Que retrato faz da prática desses procedimentos essenciais, no Baixo Alentejo?

O acesso aos cuidados paliativos é um direito básico dos cidadãos. Trata-se de cuidados especializados destinados a pessoas com doenças graves, crónicas e progressivas, causadoras de sofrimento para o doente e a família, e que devem ser integrados com os cuidados prestados pelas diferentes especialidades, ao longo de todo o processo de doença. A população do Baixo Alentejo poderá ter acesso a estes cuidados, uma vez que aqui existem profissionais com formação nesta área. Apesar da escassez de recursos, a equipa de Cuidados Paliativos Beja+ mantém uma organização que permite chegar aos doentes de 10 dos 13 concelhos da Ulsba. Tal não significa que todos tenham acesso a estes cuidados: por um lado, pelo desconhecimento do público e também dos profissionais de saúde. Por outro lado, porque o acesso a uma abordagem paliativa não depende apenas de uma equipa especializada. Carece de competências básicas, desenvolvidas por todos os profissionais de saúde. É urgente o reforço, nesta área, da formação básica a todos os profissionais, dotação de recursos para equipas especializadas que garantam cuidados dentro e fora do hospital e mais informação, para todos os cidadãos. Os doentes e as famílias que beneficiam destes cuidados reconhecem a diferença que estes fazem nas suas vidas e nas dos seus familiares.

 

Sendo o Alentejo a região mais envelhecida do país, assume a prestação de cuidados paliativos, no território, uma importância preponderante?

Ao prevenirem e tratarem o sofrimento causado pelas doenças, os cuidados paliativos são fundamentais no acompanhamento das pessoas mais velhas com doença crónica, em articulação com os cuidados prestados pelos centros de saúde e pelos hospitais. Há, assim, uma grande necessidade de desenvolver competências e recursos nesta área, por forma a poder abarcar uma população cujo número tem tendência a crescer nas próximas décadas, qualquer que seja o local, a situação clínica ou o contexto onde se viva.

 

De que forma considera ser essencial evoluir no tratamento de doenças associadas ao envelhecimento?

A prevenção e o tratamento são fundamentais para evitar ou controlar a evolução das doenças. Há, no entanto, que ter presente que muitas doenças são crónicas, incuráveis e progressivas, pelo que a intervenção dos cuidados paliativos, em particular durante os períodos de agudização da doença, pode contribuir para minimizar o sofrimento e aumentar a qualidade de vida do doente e da família. Mesmo quando não há a possibilidade de cura, há muito a fazer para manter e aumentar a qualidade de vida de todos e para viver bem até ao final da vida.

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