Diário do Alentejo

“A vontade de rimar as palavras”

18 de agosto 2021 - 16:30

“Largada de Poesia”, de Joaquim Gavião

 

A Câmara de Cuba apresentou, recentemente, o livro “Largada de Poesia”, de Joaquim Gavião. Para o presidente da autarquia, João Português, a obra, “significa a eternização da métrica, doce musicalidade e sonoridade retratando sentimentos, hábitos que são cultura e simbolizam esta nossa terra com alma”.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este seu livro?

 

Neste livro há poesias “novas” e “velhas”. Escrevi o primeiro poema deste livro tinha eu 14 anos, o mais recente escrevi-o há um ano. Ao longo da vida, há medida que ia escrevendo as poesias, ia-as guardando…eu sempre tive este sonho, de um dia ter um livro meu. Agora é um sonho concretizado, como se fosse o nascimento de mais um filho. Neste livro está a poesia da minha vida, poemas que falam daquilo que fui como trabalhador rural, como ferroviário, de tantos outros factos que aconteceram e que vivi.

 

De que forma surgiu a necessidade de escrever poesia?

 

Isto não tem explicação. É uma coisa que nasce com a pessoa, não se compra nem se vende, nem se estuda, nem se aprende. É uma coisa que me começou a aparecer desde gaiato, tinha eu os meus oito anos. Na matança no porco, que a matança era uma festa da família, que se reunia toda, os homens, tinham o hábito, lá na zona onde nasci, de versar. Aqui é cantar, lá é fazer versos ao despique. E eu, com essa idade, também já queria meter o bedelho – aparecia-me aquela vontade de rimar as palavras. E depois as pessoas, a família, os amigos, a professora, que já sabiam disto, pediam-me para fazer versos. E eu fazia. “A poesia é um condão/ Que atua de repente/ Vai do cérebro ao coração/ E percorre as veias da gente”.

  

Quais as temáticas que mais o têm inspirado?

 

O campo, os monumentos, a vila de Cuba, os cantares alentejanos, os meus tempos de namoro, escrevi sobre os ganhões, sobre como é que os homens lavravam…era o que mais me inspirava, neste livro tenho lá décimas a isso tudo. Mas isto da poesia, tem que se lhe diga… tinha dias em que eu queria fazer e não era capaz, não fazia nada que prestasse. E outros dias, em que aquilo era uma carreira de fugida, as poesias saiam umas atrás das outras.

 

Qual é o seu método de trabalho?

 

Quando me sinto inspirado sento-me na minha secratariazinha, com os meus papéis. Primeiro escrevo a lápis e depois, com a borracha, apago algumas coisas que eu veja que não estão bem. Depois escrevo-as no computador, imprimo-as (agora não tenho tido tinta) e guardo-as. Tenho para ali uns 500 ou 600 ou 900 trabalhos guardados. Dá para fazer outro livro, à farta.

 

E nestes tempos de pandemia, tem escrito?

 

Eu sempre escrevi. O nosso cérebro se não fizer exercício… é como às pernas. É preciso esticá-lo, que é para ele andar, se não, às tantas, estamos para ali inaptos.

 

De que forma a sua condição de alentejano, de cubense influencia a sua poesia?

 

Lá para o Norte não se faz poesia desta, a chamada poesia popular alentejana, das décimas. Eu prezo muito em pertencer a esta família alentejana, tenho gosto, vaidade e orgulho. Quando me perguntam “donde é que é tu és?” eu respondo sempre: “a minha terra é o Alentejo”.

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