Diário do Alentejo

Odemira com maior aumento populacional

13 de agosto 2021 - 10:55

A agricultura intensiva e o turismo explicam o crescimento populacional de Odemira: mais 13,3 por cento de residentes nos últimos 10 anos. Já Barrancos foi o concelho do País que mais gente perdeu: tem agora 1435 habitantes.

 

O presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro, vê com naturalidade o crescimento do número de habitantes residentes no concelho na última década, mas alerta que a população presente é ainda superior. “É com naturalidade que toda a gente aceitará esse efeito, porque já se tinha falado muito de Odemira na questão da expressão populacional, devido a alguns fatores económicos e sociais locais, mas faltava saber qual era a expressão”, afirmou.

 

Os resultados preliminares dos Censos 2021, agora divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que Odemira é o concelho do país com maior percentagem de aumento da população (+13,3 por cento). Em termos absolutos, o número de habitantes no concelho subiu de 26.066, em 2011, para 29.523, em 2021, ou seja, mais 3 457 pessoas. Apesar de já estar à espera de um acréscimo, o autarca argumenta que os dados do INE contabilizam “apenas a população residente”, não estando “traduzidos os efeitos da população presente”. Ou seja, milhares de trabalhadores sazonais que residem no concelho durante boa parte do ano. “A questão central é perceber qual é a relação entre a população residente e a população presente e estamos em crer que, se fossem efetuados esses levantamentos, nestes Censos estaríamos a falar do dobro da evolução”.

 

Os números revelam que Odemira foi também o único dos 47 concelhos alentejanos a ganhar população residente face a 2011, com os homens (3.155) a representarem a esmagadora maioria deste ganho, pelo que os números estarão relacionados com o acréscimo de migrantes para trabalhos agrícolas.

 

Para José Alberto Guerreiro, a subida deve-se, de facto, a “algumas atividades” existentes neste concelho do litoral alentejano, sobretudo “a atividade agrícola, mas não só. A leitura que fazemos dos dados por freguesia traduzem uma perda populacional de muitas freguesias do interior, mas duas delas com uma tendência crescente”, afirmou, referindo-se às freguesias de Relíquias e São Martinho das Amoreiras, que acolhem “duas comunidades relacionadas com o bem-estar e paz”.

 

Segundo o autarca, também “o acréscimo significativo” do setor turístico no concelho justifica este aumento populacional. “Analisando os resultados de forma mais detalhada, iremos chegar a conclusões que traduzirão uma expressão de cerca de 70 por cento do setor agrícola, em torno dos 15 a 20 centro do setor turístico e cerca de 10 por cento dessas comunidades de bem-estar e paz” que “atenuaram um bocadinho a perda populacional no interior”.

 

Os dados evidenciam ainda “que não era fácil ao longo de uma década, e especialmente nos últimos cinco anos, ter dado resposta a situações de habitação num mercado em que o setor privado não teve capacidade de resposta. E o setor público também não tem tido essa capacidade”.

 

“NÃO SE ENCONTRA UMA CASA” NA LONGUEIRA

 

Uma das freguesias do concelho de Odemira, Longueira/Almograve, é mesmo a freguesia do País com maior percentagem de crescimento populacional nos últimos 10 anos, subida explicada pelo número de imigrantes que trabalham na agricultura intensiva no concelho. De acordo com os dados preliminares dos Censos 2021, a população da freguesia cresceu 72,4 por cento nos últimos 10 anos, passando de 1356 para 2338 habitantes. “Isto deve-se, essencialmente, à vinda de tantos [trabalhadores] migrantes para a agricultura intensiva”, não só “aqueles que residem na zona urbana”, como também “aqueles que residem nas quintas”, diz a presidente da Junta de Freguesia, Glória Pacheco. “Há uns anos atrás, este número não era expectável, mas, com a vinda dos migrantes, tornou-se previsível. Todos sabíamos que tínhamos muita população e que não era contada. Basta olhar para os contentores do lixo para perceber que não estavam dimensionados para tanta gente”.

 

A freguesia deve ser “contemplada com mais investimentos”, defende Glória Pacheco, que espera que “sejam criadas as condições para os que vieram de fora e para que os naturais” possam residir em Longueira/Almograve, “porque, neste momento, não se encontra uma casa. A maioria das casas está alugada pela população migrante, famílias estruturadas que aqui residem o ano inteiro, que também merecem boas condições para habitar”.

 

BARRANCOS COM PERDA POPULACIONAL

 

Se Odemira foi o concelho do País com maior aumento populacional, Barrancos foi aquele onde o número de habitantes sofreu um maior decréscimo, passando de 1834 em 2011 para 1435, o que representa uma quebra de 21,8 por cento.

 

Para o presidente da Câmara de Barrancos, João Serranito Nunes, estes dados não constituem “nenhuma surpresa” e são fruto da “falta de oportunidades de trabalho” em “locais recônditos” do interior. “Quando as pessoas não têm oportunidade de trabalho num local, deslocam-se para outro”.

 

Na opinião do autarca, as medidas tomadas pelos governos para contrariar o despovoamento de regiões do interior, como Barrancos, têm-se revelado insuficientes, sendo apenas “paliativos” e “não a solução” para o problema. “O Ministério da Coesão Territorial e a Secretaria de Estado da Valorização do Interior são sinais positivos, mas tem que haver outros complementares que venham inverter esta tendência de perda sistemática de população dos últimos 20, 30, 40 anos”.

 

Segundo João Serranito Nunes, “é necessário encarar o problema de frente" e "de forma ‘musculada’, para que o tecido empresarial se possa fixar aqui [em Barrancos] com condições que sejam atrativas”. Nesse sentido, o autarca defendeu a necessidade de “um apoio efetivo ao tecido empresarial”, nomeadamente através da “isenção de pagamento de impostos” ou por intermédio de ajudas “na formação profissional” e “na construção” de unidades industriais. “Há uma série de questões que têm de ser olhadas de frente, muito a sério, senão a tendência vai-se acentuar. Tenho dito isto em diversos locais e ao Governo, mas não podemos continuar num ‘diálogo de surdos’”.

 

BEJA COM MENOS 2813 HABITANTES

 

Nos últimos 10 anos o concelho de Beja perdeu 2813 habitantes (menos 6,8 por cento do que em 2011). No concelho residem agora 33 401 pessoas. De acordo com os dados preliminares do Censos 2021, todas as freguesias do concelho têm menos habitantes do que há 10 anos, sendo que a freguesia de Santa Vitória e Mombeja perdeu 19,7 por cento da população residente, e a da Cabeça Gorda cerca de 18,8 por cento. Nas freguesias urbanas essa quebra não foi tão acentuada: menos 3,9 por cento na União de Freguesias de Salvador e Santa Maria e menos 4,6 por cento na de Santiago Maior e São João Batista. A freguesia de Baleizão foi a que menos moradores perdeu, apenas 18, uma diminuição de dois por cento.

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