Cerca de um em cada três estudantes estrangeiros que frequenta o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) diz que o que menos gosta na cidade de Beja é a “discriminação racial”, e 38,5 por cento diz ter sido confrontado com formas de racismo em Portugal.
Texto Marta Louro
Apesar de 71 por cento considerar “boa ou muito boa” a sua integração no Instituto Politécnico, 34 por cento dos estudantes estrangeiros dizem ter sentido dificuldades de integração na turma e só 26 por cento têm um convívio regular com os colegas fora do contexto escolar.
Os dados constam de um estudo realizado no âmbito da tese de mestrado em Desenvolvimento Comunitário e Empreendedorismo, que aborda “A integração social e académica dos estudantes internacionais do IPBeja” e que envolveu alunos entre os 18 e os 29 anos de idade, maioritariamente oriundos da Guiné-Bissau.
Da autoria de Malam Camará, o trabalho teve como principal objetivo “caracterizar a forma como se processa a integração social e académica dos estudantes internacionais que se encontram a estudar no IPBeja, no sentido de identificar os principais problemas com que se deparam os seus percursos académicos e de integração na vida da cidade”.
Segundo o estudo, “nos últimos anos, o principal desafio das universidades portuguesas” prende-se com “a presença crescente dos chamados estudantes internacionais”, um processo que que muitas vezes “origina alguns problemas de integração independentemente da sua nacionalidade”.
Apesar dos resultados, João Paulo Trindade, presidente do IPBeja considera que esta é uma realidade “que não corresponde” à verdade: “Não me parece que exista esse sentimento de racismo e discriminação” neste estabelecimento de ensino superior.
Para João Paulo Trindade o processo de integração dos cerca de 600 alunos internacionais, que neste momento frequentam o IPBeja “tem sido um sucesso”, nos últimos anos, o que, contudo, “não quer dizer que não possam existir alguns episódios”. Mas, em seu entender, “não podemos avaliar um caso ou outro que possa ter acontecido em situações esporádicas e pontuais e transformá-las numa generalidade”.
Ainda assim, quando se verificam situações de racismo e discriminação, diz João Paulo Trindade, o IPBeja “tem os seus serviços e as suas equipas que estão no terreno” atentas a estes problemas. “Temos uma equipa dos serviços de ação social com uma forte ligação e proximidade a todos os estudantes internacionais, particularmente os que estão alojados nas residências do IPBeja, tem também, um gabinete de apoio psicopedagógico com a presença constante de uma psicóloga e de outros técnicos que, sempre que têm conhecimento de alguma situação deste género, intervém na tentativa de minimizar esses problemas”, diz.
Helena Rita, vice-presidente da Associação de Estudantes do Instituto Politécnico de Beja, partilha da mesma opinião e refere que “houve uma altura” em que se verificava uma situação ou outra, mas que rapidamente foi resolvida e, neste momento, “creio que não há nenhum tipo de racismo”. Quando se verificaram essas situações “falámos com os alunos em questão e tentámos integrá-los no nosso meio”.
Quem não ficou surpreendido com estes números foi Alberto Matos, presidente da delegação de Beja da Associação Solidariedade Imigrante (Solim). “É natural que os estudantes não gostem de discriminação nem de racismo, mas isso não quer dizer que toda a população seja racista. Não somos uma sociedade virgem em termos de presença estrangeira, e no caso concreto de pessoas oriundas de países africanos de língua oficial portuguesa (Palop), não só em Beja, como em outras zonas do país, muitos são aqueles que estão sujeitos, também, a casos de exploração”, acrescenta Alberto Matos, recordando que o racismo “existe em todo o lado, e muitas vezes é promovido por forças extremistas, que o transformam numa forma cobarde de fazer política”.