Diário do Alentejo

Ulsba: Menos rastreios do cancro do colo do útero

01 de julho 2021 - 09:40

No ano passado foram realizados 1493 rastreios de cancro do colo do útero na área da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), quase metade dos registados em 2019, devido à pandemia de covid-19. Entre o mês de abril e o passado dia 16 realizaram-se 646, valores que indicam uma “evolução positiva” na recuperação destes rastreios, diz a Ulsba.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Em 2020 foram realizados 1493 rastreios de cancro do colo do útero nos 13 centros de saúde e na unidade de saúde familiar da área da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), menos 1867 do que em 2019. Um decréscimo de quase 50 por cento justificado pelo surgimento da pandemia de covid-19, que motivou “a suspensão de atividade, a alteração de circuitos existentes e a delineação de novos circuitos, a implementação de regras de distanciamento físico e de segurança, o espaçamento de tempo entre consultas e o próprio tempo de consulta que passou a ser maior”, explica, ao “Diário do Alentejo”, a presidente do conselho de administração da Ulsba e diretora clínica para a área dos Cuidados de Saúde Primários. Conceição Margalha sublinha, ainda, que “os próprios utentes, com receios e incertezas face ao momento, deixaram de comparecer às consultas/rastreios”.

 

Segundo os dados avançados pela Ulsba, entre abril e junho desse mesmo ano – já em período de primeiro confinamento – foram rastreadas 96 mulheres, sendo que, no trimestre anterior, tinham sido 870.

 

Nos primeiros três meses deste ano – no segundo confinamento – foram realizados 287 rastreios de cancro do colo do útero. Entre o mês de abril e o passado dia 16 realizaram-se 646, valores que indicam “já a evolução positiva na recuperação dos rastreios ao cancro do colo do útero”, diz a responsável, que salienta “o esforço das unidades de saúde nesta recuperação”. Contudo, frisa, “os números variam com a evolução da pandemia”.

 

Recorde-se que o presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, afirmou recentemente, após um ciclo de visitas a centros de saúde da Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo e Algarve, que “os centros de saúde [devido à pandemia de covid-19] não estão a conseguir retomar os rastreios de alguns cancros, que estão a ser feitos apenas de forma oportunista, e que tem sido quase impossível recuperar a atividade perdida”.

 

Conceição Margalha realça que, apesar de os rastreios de cancro do colo do útero estarem a ser retomados na área da Ulsba, com a convocação das utentes por telefone, carta ou através da consulta de oportunidade – “pessoas que se deslocam à consulta por outros motivos, mas que por indicação médica são rastreadas”, “ainda não podemos falar de normalidade, porque continuamos em tempos de pandemia”.

 

No caso do cancro colorretal, os rasteiros têm estado a decorrer desde que arrancaram, em setembro de 2020, em Cuba e, em maio deste ano, em Alvito e Vidigueira, “a maioria em consulta de oportunidade à população elegível e também por convocatória dos utentes”. Durante o ano passado foram rastreadas 162 pessoas, no centro de saúde de Cuba. Em 2019, antes do arranque do rastreio na área da Ulsba, “houve rastreios de oportunidade”.

 

De acordo com a responsável, “o alargamento do rastreio do cancro colorretal está a ser delineado para outros centros de saúde, mas é um processo cauteloso, uma vez que é preciso assegurar depois a realização do exame necessário, ou seja, a colonoscopia, efetuado no hospital de Beja”.

 

“O que fazemos, diariamente, é trabalhar no sentido de conseguir a oportunidade [para realizar rastreios], seja em contexto de consulta ou ida ao centro de saúde. A vantagem desta proximidade entre as equipas dos centros de saúde e os utentes, e o facto de se conhecer bem a nossa população, que em alguns centros de saúde é pequena, é obrigatoriamente aproveitada”, salienta.

 

ATRASO NOS DIAGNÓSTICOS

 

Quanto ao impacto do decréscimo de rastreios, Conceição Margalha afirma que “o atraso nos rastreios vai implicar um atraso nos diagnósticos e os atrasos nos diagnósticos têm como consequência diagnósticos em estadios mais avançados da doença, com as inerentes consequências. Por tudo isto, esta é uma situação que nos preocupa sempre e tudo fazemos, e faremos, no sentido de acelerar processos e fazer diagnósticos atempados e tratamentos adequados, com a maior brevidade, em prol da qualidade de vida e de saúde das pessoas”.

 

Ainda de acordo com a responsável, as consultas presenciais nos centros de saúde e unidade de saúde familiar da área da Ulsba “têm vindo a ser retomadas desde maio de 2020”, contudo, “não no número diário anterior à pandemia devido à necessidade de higienização frequente dos espaços e de modo a evitar a aglomeração de utentes nas salas de espera”. E precisamente para evitar aglomerações, os utentes deverão “preferir o agendamento por telefone ou ‘email’ e cumprir com a hora agendada”.

 

Sobre a sobrecarga dos profissionais de saúde com tarefas ligadas à pandemia, deixando “pouco tempo para os restantes utentes”, – outro dos alertas deixados pelo presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos –, Conceição Margalha esclarece que na área da Ulbsa, “neste momento, dado o número reduzido de casos ativos, a sobrecarga da covid-19 nas consultas não é considerável e estamos a aproveitar este bom momento, para já, num esforço coletivo (centros de saúde e hospital) para que todas as situações sejam respondidas, multiplicando as equipas de saúde os seus esforços no sentido de responder a todas as frentes, ou seja, assegurar o apoio nas áreas dedicadas para Doentes Respiratórios-Comunidade, a realização de colheitas para testes SARS-CoV-2, garantir o funcionamento das consultas (médicas e de enfermagem), na convocatória e realização de rastreios e, claro, uma dedicação ao processo de vacinação em curso, que sabemos ser prioritário neste momento, para benefício de todos”.  E acrescenta: “Tudo isto representa sobrecarga de trabalho para os nossos profissionais, mas todos sabemos que é um esforço necessário para a população”.

 

MÉDICOS COM “SOBRECARGA DE TAREFAS”

 

O presidente do Conselho Sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos, em declarações ao “DA”, considera, por seu lado, que existe “uma sobrecarga muito grande de tarefas que pendem para os médicos de cuidados de saúde primários”. Para além das consultas de rotina que estão a ser retomadas nos centros de saúde, existem, por exemplo, “3000 utentes sem médico de família” no Centro de Saúde de Beja, “o que sobrecarrega a consulta de recurso”, a que acorrem também outros utentes. Pedro Vasconcelos sublinha, ainda, que a escala de médicos de cuidados primários para equipas de vacinação é de “sete dias por semana, em dois turnos diários”. E lembra que se avizinha o período de férias do verão, com a consequente diminuição do número de profissionais ao serviço. A finalizar, realça que o Conselho Sub-regional de Beja tomou a iniciativa de contactar colegas aposentados “para poderem integrar também as equipas de vacinação e aliviar a carga dos demais”. “Conseguimos seis médicos, a título gracioso, e fornecemos essa lista à Ulsba para disporem”.

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