Diário do Alentejo

IP confirma demolição da estação de Alvito

30 de junho 2021 - 10:35

O Plano Nacional de Investimentos 2030 (PNI2030) que inclui a modernização da linha do Alentejo entre Casa Branca e Beja prevê também, a demolição das estações ferroviárias de Alvito e Alcáçovas. Os espaços têm mais de 100 anos.

 

Texto Marta Louro

 

“No âmbito da modernização da Linha do Alentejo entre Casa Branca e Beja, foi elaborado um programa para intervenção nas estações e apeadeiros neste troço, que concluiu ser necessário demolir os edifícios de passageiros do Alvito e de Alcáçovas”, garante a Infraestruturas de Portugal (IP) num esclarecimento ao ‘DA’. Segundo a IP, para essa decisão pesou o facto de os “edifícios não serem necessários para a exploração ferroviária nem para instalações técnicas, nem para o operador ferroviário, não terem perspetivas de futura subconcessão e encontrarem-se em adiantado estado de degradação”.

 

Para a demolição das estações foi igualmente tido em conta a falta de “condições de habitabilidade” e a vulnerabilidade existente para “ocupações ilícitas”. No âmbito desta intervenção, a IP pretende também “melhorar o serviço de passageiros ao nível da segurança e conforto, e nesse sentido está previsto a criação de novas acessibilidades, de zonas de estacionamento e de abrigos nas plataformas de passageiros nas restantes estações e apeadeiros”.

 

António José Valério, presidente da Câmara de Alvito, diz-se “surpreendido” com esta decisão e garante que a autarquia foi contactada pela CP, que informou “que a demolição está prevista”, mas que ainda há espaço para negociações. Por isso, o autarca, aguarda “mais diálogo” com a IP no sentido de encontram “uma solução” para o espaço. “A estação está inativa há muitos anos, e está em estado de abandono, o que tem originado a degradação do edifício ao longo dos tempos, mas não concordo com a demolição porque penso que podemos encontrar uma alternativa”, refere.

 

Para António Valério, “embora, a estação de caminho-de-ferro de Alvito fique bastante longe da povoação” deve ser “encontrada uma utilização para o edifício”, que “não é muito movimentado” porque são “poucos os comboios” que por ali passam”.

 

“Se houver mais comboios e se a linha fizer um melhor serviço entre as povoações, entre Beja, Évora e Lisboa, e se a linha tiver continuação para o Algarve ou até mesmo para Espanha, ganha uma nova dinamização, um novo impulso e uma nova utilização. Agora, tendo em conta aquilo que é o serviço que a empresa Comboios de Portugal (CP) presta no concelho de Alvito e na região, é claro que tem muito pouca utilização”, refere.

 

Florival Baiôa, presidente da Associação de Defesa do Património de Beja, defende que “do ponto de vista patrimonial, a manutenção do património ferroviário é essencial e devia sê-lo também para a CP”. Para o mesmo responsável, é importante “olhar um pouco para aquilo que esse património pode ser reutilizado quer nessas, quer noutras funções”.

 

“Não nos podemos esquecer que estamos numa zona, em que a tendência será para subir o turismo, e que ao estar a eliminar ou demolir um edifício patrimonial, ele é irrecuperável. Esta ideia da CP não é uma boa ideia. Esta decisão devia ser pensada melhor, mas, o que acontece, é que a maior parte destes pensamentos são feitos em escritórios em Lisboa, no alto do pedestal por pessoas que não conhecem as coisas e as memórias”, salienta Florival Baiôa, classificando a demolição das estações de Alvito e Alcáçovas como um “atentado patrimonial”.

 

“Estamos a falar de uma linha de caminho-de-ferro que foi construída por volta de 1860/ 1861. São duas estações que já se podem considerar históricas, pois têm mais de 150 anos”, sublinha o arqueólogo Jorge Feio, natural de Alvito, acrescentando que os edifícios “têm memórias”. E explica: “Podiam ser criados espaços de recordações, mais que não fosse para visitas de público. Dar-lhes outra vida, porque a linha de caminho-de-ferro do Alentejo tem uma história. Estar a destruir é estar a arrasar a história e a apagar da nossa memória um espaço que pode ser transformado e reaproveitado. Pode ser associado a tudo, destruir é que não é solução”.

 

BEJA E ÉVORA COM LIGAÇÃO DIRETA

 

O horário de verão da CP trouxe novidades para os utentes da Linha do Alentejo. De segunda a sexta-feira, passam a ser cinco as ligações entre Beja e Lisboa (Sete Rios) e três diretas, sem necessidade de mudar de comboio em Casa Branca, entre Beja e Évora. Aos habituais horários das 6:23, 8:22, 16:11 e 18:15 horas, soma-se agora mais um, às 10:49 horas, para as ligações a Lisboa, num percurso que demora cerca de duas horas. Para Évora o horário de partida é às 6:23, 13:10 e 18:15 horas, numa viagem cm a duração de entre uma hora e 15. Em sentido contrário as partidas são às 8:09, 14:30 e 20:01 horas. A CP diz que o serviço é Intercidades já que liga duas cidades, mas será realizado com automotoras a ‘diesel’ remodeladas, uma vez que a linha entre Casa Branca e Beja ainda não está eletrificado. Após 11 anos sem ligação entre as duas maiores cidades alentejanas, Cuba, Alvito, Vila Nova da Baronia, Alcáçovas e Casa Branca são as cinco estações e apeadeiros por onde irá passar um Intercidades que, neste caso, será uma automotora a gasóleo da série 450. O comboio com duas carruagens, que entrou ao serviço em 1965 e foi modernizado em 1999, não ultrapassa os 120 km/hora num troço onde a velocidade máxima é de 140 km/hora. Paulo Arsénio, presidente da Câmara de Beja refere que o “aumento da oferta só é possível devido ao forte investimento feito nos últimos anos na Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, nomeadamente, no recrutamento de recursos humanos” o que “tem permitido recuperar dezenas de composições que estavam paradas e inativas para o serviço”. ANÍBAL FERNANDES

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