Depois de uma quebra registada nas dádivas de sangue devido à covid-19, os números já regressaram a níveis pré-pandemia. Segundo a diretora do Serviço de Imunohemoterapia da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, “com o tempo os dadores foram-se apercebendo dos cuidados instituídos no serviço e da segurança em contribuir com a sua dádiva”. O presidente da direção da Associação Humanitária de Dadores de Sangue de Beja, por sua vez, considera, os números de dádivas destes primeiros cinco meses do ano “animadores”.
Texto Nélia Pedrosa
O Serviço de Imunohemoterapia da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) é, de momento, autossuficiente, no entanto, “isso depende de os dadores de sangue serem regulares nas suas dádivas”, diz a diretora do referido serviço ao “Diário do Alentejo”. Cláudia Norte realça que “não há necessidade de colher mais do que se utiliza, uma vez que o sangue tem validade”.
Entre janeiro e maio deste ano, o serviço registou 1302 dádivas, mais 296 do que no período homólogo de 2020 (parte já em confinamento no âmbito do combate à pandemia da covid-19). Em 2019, também nos primeiros cinco meses do ano, tinham sido registadas 1210 dádivas.
Recorde-se que na primavera do ano passado, por ocasião do primeiro confinamento, e, posteriormente, no mês de dezembro, o Serviço de Imunohemoterapia lançou “apelos urgentes a potenciais dadores, dado que os ‘stocks’ de sangue estavam a níveis baixos”.
A responsável esclarece que o impacto da covid-19 refletiu-se na “perceção dos dadores, que se abstiveram de vir dar sangue ao hospital, com consequentes baixas no ‘stock’ de sangue”. “Felizmente”, adianta, “quando fazemos apelos aparecem sempre dadores prontos a ajudar”. E acrescenta: “Com o tempo os dadores foram-se apercebendo dos cuidados instituídos no Serviço de Imunohemoterapia e da segurança em contribuir com a sua dádiva”.
A pandemia de covid-19 obrigou também a uma adaptação às novas medidas de prevenção, o que levou ao cancelamento de algumas das brigadas usualmente promovidas pelo serviço, uma vez que “não reuniam condições”.
A esmagadora maioria das unidades de sangue é utilizada no serviço de urgência, seguindo-se o Hospital de Dia (doentes oncológicos) e cirurgias.
Os meses de verão e as épocas de Natal e Ano Novo são, por norma, os mais exigentes em termos de necessidade de sangue, dado que geralmente se verifica uma tendência de quebra de dádivas e um aumento do número de acidentes de viação. Cláudia Norte explica que Serviço de Imunohemoterapia tem vindo a “sensibilizar os dadores regulares para que façam coincidir o seu intervalo de dádivas com esses períodos”, uma estratégia que “tem dado frutos”.
De acordo com a diretora, 48,7 por cento dos dadores tem entre 24 e 44 anos; 40,3 por cento entre 45 e 65 (idade limite) e 10,5 por cento entre os 18 e os 24. Cinquenta e seis por cento são homens.
No âmbito do Plano de Contingência para a Reserva Estratégica Nacional de Sangue, face à pandemia, os dadores de sangue poderão agendar, através do número 284 310 237 ou do email sih@ulsba.min-saude.pt, a sua dádiva com dia e hora definidos, “de forma a evitar aglomerações”. Às segundas, terças e quintas, nos períodos da manhã e da tarde, à quarta-feira no período da manhã e à sexta-feira no período da tarde.
NÚMERO DE DÁDIVAS É "ANIMADOR"
Também devido à pandemia covid-19, das 47 brigadas de recolha de sangue agendadas para 2020, a Associação Humanitária de Dadores de Sangue de Beja apenas realizou 29. Em 2019 tinham sido 52. Entre janeiro e maio deste ano, das 23 previstas, só se realizaram 15. Das brigadas efetuadas, sempre em parceria com o Serviço de Imunohemoterapia da Ulsba, resultaram 1604 dádivas em 2019 e 797 em 2020. Nos primeiros cinco meses deste ano a associação de dadores registou 515. Até ao final do ano estão agendadas mais 27 brigadas em vários concelhos do distrito de Beja.
O presidente da direção da Associação Humanitária de Dadores de Sangue de Beja considera que os números de dádivas destes primeiros cinco meses do ano são “animadores”. “À nossa dimensão é uma colheita razoável”, reforça Francisco Reis, realçando que na região “não há grandes empresas [onde promover colheitas]” e que nas Minas de Neves-Corvo – “a nossa colheita mor” –, ainda só fizeram uma brigada pós-confinamento, com marcação prévia de dádivas, em que contaram somente com 50 dadores.
“Durante uns dois meses deixou-se, praticamente, de fazer colheitas. Nos agrupamentos de escolas não era permitido, no centro de saúde também não. Não nos foi dado permissão para fazermos nas Minas de Neves-Corvo, nem no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja)”, lembra o responsável, adiantando que se assistiu depois a uma mudança nas orientações, tendo “as entidades competentes” recorrido aos meios de comunicação social “a apelar à dádiva de sangue” e “as pessoas aderiram bastante”. Falta regressar também, diz Francisco Reis, ao IPBeja, onde a adesão “é muito boa” e tem levado ao rejuvenescimento dos dadores.
“O dador típico é aquele que já deu algumas dádivas, entre os 40 e os 50 anos, pessoas que já adquiriram o hábito de dar sangue, e há outras pessoas que vão até ao fim da linha, até aos 65 anos”. Por isso, diz, é fundamental “ir aos agrupamentos de escolas, às escolas profissionais, ao politécnico”.
O presidente da direção frisa que a primeira colheita, “levados por um instinto individual ou por um amigo, é sempre mais difícil”, mas, “se correr bem, normalmente são dadores para o resto da vida”. E mesmo que a população do IPBeja esteja, na sua maioria, “de passagem” pela região, os alunos depois acabam por ser dadores “estejam onde estiverem”.
Em 2019 a associação registou 253 novos dadores, em 2020 foram 110, e, nos primeiros cinco meses deste ano, 205. Francisco Reis salienta, no entanto, que o número verificado em 2021 “só foi possível devido às colheitas extraordinárias realizadas em Moura e Odemira para encontrar um possível dador de medula para uma criança de seis anos”.
ASSOCIAÇÃO DE DADORES FAZ 50 ANOS
A 25 de outubro de 1971 um grupo de 29 bejenses entregava no Governo Civil de Beja um projeto de estatutos para criação da Associação Humanitária de Dadores de Sangue, estatutos esses que seriam aprovados a 18 de fevereiro de 1972. Francisco Reis adianta que no âmbito das comemorações dos 50 anos da associação será lançado um livro "com a história da associação”, da autoria de Geada Sousa.