Diário do Alentejo

Observatório é “contributo” para a “salvaguarda do cante”

12 de junho 2021 - 00:00

Três perguntas a José Francisco Colaço Guerreiro, coordenador do Observatório do Centro de Documentação do Cante Alentejano

 

A Câmara de Castro Verde criou, recentemente, o Observatório do Cante Alentejano e o Centro de Documentação do Cante Alentejano. Quais os principais objetivos a que estes dois organismos se propõem?

 

Quanto ao Observatório, o mesmo visa a recolha, tratamento e análise estatística dos dados obtidos através de inquéritos junto dos grupos corais, de modo a que se possa fazer uma avaliação sistemática do estado e da evolução do mundo do cante, no que concerne ao número de cantadores, respetivas idades e distribuição geográfica, entre outros fatores que consideramos relevantes para se ter um conhecimento atualizado. O Centro de Documentação pretende contribuir para a preservação da memória e salvaguarda do movimento coral e do cancioneiro tradicional. Para o efeito, é criada uma base de dados dos grupos corais, organizada por concelhos, com os respetivos historiais, contactos, imagens e registos sonoros. Concomitantemente são efetuados e adquiridos registos, escritos e audiovisuais, relativos às “Modas do Cancioneiro Tradicional” nas variadas versões em que são interpretadas. Também está a ser criado um fundo documental sobre o cante, na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Castro Verde, que visa dar resposta à consulta sobre a temática.

 

É este projeto pensado à escala do concelho de Castro Verde ou está delineado para ser mais abrangente, na área geográfica do cante alentejano?

 

Conforme se referiu, tanto o Observatório como o Centro de Documentação foram pensados como um contributo para a salvaguarda do cante, no seu todo, estando por outro lado, a ser definidas medidas concretas e objetivas destinadas à revitalização dos grupos corais, do concelho.

 

De que forma poderão estes organismos contribuir para a salvaguarda desta expressão musical com estatuto de Património Mundial?

 

O cante alentejano, tal como outras práticas culturais ligadas à tradição, tem vindo a sofrer, nos últimos tempos, um acentuado revés, manifestado no decréscimo dos grupos e na diminuição e envelhecimento dos seus componentes. Para contrariar esta tendência, motivada por razões de ordem sociocultural, deveria ter sido implementado um adequado plano de salvaguarda, aquando da inscrição do cante na lista do Património Imaterial da Humanidade. Porém, tal não aconteceu e o nosso movimento coral, apesar do galardão atribuído, continuou à deriva, entregue ao sabor do acaso e das boas vontades pontuais. Neste contexto – e independentemente de assumir as medidas que futuramente venham a ser contempladas num futuro plano de salvaguarda para o cante, amplamente discutido e aceite pelos diferentes atores que estão no terreno a lidar com a nossa prática coral –, a Câmara de Castro Verde avançou com estes modestos contributos, confiante na sua utilidade e porque não há mais tempo a perder, para se reverter o estado de indiferença generalizada.

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