Diário do Alentejo

Proteção Civil: Bombeiros lamentam ser “o parente pobre”

11 de junho 2021 - 10:10

O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Beja diz que a maioria das 15 associações do distrito de Beja debate-se com problemas “em termos de equipamentos de logística e equipamentos de combate a incêndios”, nomeadamente, viaturas e equipamentos de proteção individual. 

 

Texto Nélia Pedrosa

 

O distrito de Beja dispõe, até ao final do mês (no chamado nível III), de 300 operacionais, 78 veículos e três meios aéreos (um em Ourique e mais dois estacionados na Base Aérea n.º 11, em Beja), no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (Decir 2021), que está a decorrer desde 15 de maio e que terminará a 31 de outubro.

 

De 1 de julho a 30 de setembro (nível IV), que corresponde à época mais crítica de incêndios, os meios serão reforçados, passando o distrito a contar, segundo o Comando Distrital de Operações e Socorro de Beja (CDOS), com 334 operacionais, 83 veículos e os mesmos três meios aéreos. De 1 a 15 de outubro (nível III) serão 249 operacionais, 64 veículos e três meios aéreos. Finalmente, de 15 a 31 de outubro (nível II), estarão disponíveis 295 operacionais, 52 veículos e três meios aéreos.

 

Ainda de acordo com o CDOS, o dispositivo de defesa e proteção da floresta na gestão de incêndios rurais conta com a colaboração dos Serviços Municipais de Proteção Civil (SMPC), “nomeadamente, com 36 veículos de transporte coletivo e 88 máquinas de rasto (seis dos municípios e 82 contratualizadas)”. O dispositivo, esclarece o CDOS, “está planeado de acordo com o grau de risco”.

 

MAIS DEPESAS E MENOS RECEITAS

 

O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Beja, em declarações ao “Diário do Alentejo”, afirma que “nunca se está satisfeito com os meios que se tem à disposição”, até porque os bombeiros têm “algumas lacunas que não foram preenchidas, que não foram devidamente acauteladas, questões estruturais”. Realça, no entanto, como uma mais-valia, “o aumento de equipas de intervenção permanente” no âmbito do combate a incêndios, apesar de dizer que gostaria de “ter mais um meio aéreo que fizesse a cobertura da zona de Moura, Barrancos e Vidigueira”, o que, “até à data, não foi possível”.

 

“Nunca podemos estar satisfeitos porque continuamos a ser o parente pobre do sistema, quando temos uma representatividade no terreno, em termos operacionais, de intervenção, na ordem dos 90 por cento. Não podemos ser relegados para segundo plano, temos de ter as mesmas garantias e as mesmas condições de trabalho que todas as outras forças têm”, reforça Domingos Fabela.

 

O responsável frisa que a maioria das 15 associações do distrito de Beja “que participam no dispositivo” debate-se com problemas, não tanto de recursos humanos, “mas em termos de equipamentos de logística e equipamentos de combate a incêndios”. É o caso de viaturas e de equipamentos de proteção individual (EPI), especifica.

 

Devido à pandemia de covid-19, as despesas com equipamentos de proteção individual acabaram por registar um acréscimo, o que veio “agravar os problemas” das associações. “Não se pense que só no transporte de doentes é que necessitamos de equipamentos de proteção individual, temos também necessidade deles no combate a incêndios, porque as equipas quando saem têm de ir devidamente protegidas, todos os elementos que fazem parte do dispositivo têm de ter todas as garantias de que estão em segurança”, justifica Domingos Fabela, lamentando a escassez de apoios “por parte da tutela, neste caso do Ministério da Administração Interna e através do serviço da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil”.

 

O responsável lembra, ainda, que as associações de bombeiros viram as suas “receitas diminuírem” devido à pandemia, “porque as consultas e os exames acabaram por cair drasticamente e isso reflete-se nos serviços que as associações prestam às suas populações”.

 

Domingos Fabela destaca, contudo, “o trabalho em articulação que tem havido com o Comando Distrital de Operações e Socorro de Beja (CDOS), com o novo comando distrital, que tem, efetivamente, sido inexcedível nos esforços para tentar colmatar as dificuldades que os corpos de bombeiros têm, nomeadamente, na área da Proteção Civil”.

 

Em relação à época de incêndios deste ano, o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Beja espera que seja “um ano minimamente tranquilo”, o que, no entanto, “será bastante difícil porque adivinham-se temperaturas altas”. “Isto é sempre imprevisível, mas esperemos que possamos dar uma resposta efetiva. Dizemos sempre ‘presente’ quando se trata de combater incêndios e de defender as nossas populações e os seus bens”.

 

2790 HECTARES ARDIDOS NO DISTRITO DE BEJA

 

Segundo o 8.º Relatório Provisório de Incêndios Rurais, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), entre 1 de janeiro e 15 de outubro de 2020, arderam no distrito de Beja 2790 hectares, sendo 2663 de área agrícola, 114 de povoamentos e 13 de matos. No total, registaram-se 224 incêndios rurais. Ainda de acordo com os mesmos dados provisórios, o concelho de Castro Verde surge em quinto lugar na tabela dos maiores incêndios rurais. O incêndio ocorrido a 13 de julho de 2020 resultou em 2382 hectares de área agrícola ardida. Em termos nacionais foi registado um total de 9394 incêndios rurais que resultaram em 65887 hectares de área ardida, entre povoamentos (31803 hectares), matos (27824 hectares) e agricultura (6260 hectares). Comparando os valores de 2020 com o histórico dos 10 anos anteriores, o ICNF assinala que se registaram menos 48 por cento de incêndios rurais e menos 52 por cento de área ardida relativamente à média anual do período. O ano de 2020 apresentava, até ao dia 15 de outubro, o segundo valor mais reduzido em número de incêndios e o quarto valor mais reduzido de área ardida, desde 2010. Em 2020 os incêndios com área ardida inferior a um hectare são os mais frequentes (86 por cento do total de incêndios rurais). No que se refere a incêndios de maior dimensão, assinala-se a ocorrência de 11 incêndio com área ardida superior ou igual a 1000 hectares.

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