Diário do Alentejo

“É preciso escutar os idosos, preparar as organizações”

04 de junho 2021 - 09:05

Três perguntas a Maria Cristina Faria, coordenadora do mestrado de Gerontologia Social e Comunitária da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja

 

Texto José Serrano

 

Decorreu, através de videoconferência, o XI Seminário Ibérico de Psicogerontologia e IV Seminário Ibérico de Gerontologia Social e Comunitária, cuja organização esteve a cargo do mestrado de Gerontologia Social e Comunitária da ESEB do IPBeja.

 

Qual o balanço que faz deste encontro?

 

Depois de 10 anos de Seminário Ibérico de Psicogerontologia e Gerontologia no IPBeja, pareceu fazer sentido aprofundar o tema das “Visões sobre o Envelhecimento”. Uma abordagem, multidisciplinar, envolvendo especialistas, formadores, educadores, políticos, gestores e decisores numa ação favorável à proteção das pessoas mais velhas, em prol do seu bem-estar e da sua esperança de vida. Este seminário, que contou com 185 inscritos e 38 oradores, e no qual foi apresentado o livro “Visões sobre o Envelhecimento”, organizado pelo Observatório das Dinâmicas do Envelhecimento no Alentejo do IPBeja, constituiu-se como um marco histórico na investigação sobre envelhecimento, no Alentejo.

 

O que significa envelhecer no Alentejo, região que regista uma das maiores percentagens de idosos, a nível europeu?

 

Desejamos viver mais tempo e de modo saudável, preferencialmente em casa e na proximidade da família e dos amigos. Um dos desafios que é colocado aos cidadãos do século XXI é a possibilidade de viver até aos 100, e mais, anos. Esperamos que tal acontecimento seja vivenciado com qualidade de vida e que sejam criados serviços de apoio social e de saúde que permitam envelhecer com bem-estar. Urge criar ambientes seguros, estruturas e serviços de apoio à longevidade, que vão ao encontro das necessidades dos mais velhos. É preciso escutar os idosos, preparar as organizações, criar políticas e desenvolver a formação de profissionais, na área do envelhecimento, na mira de reunir as condições certas para poder usufruir de uma longevidade com saúde.

 

Quais os principais obstáculos a serem ultrapassados, para que o Alentejo possa vir a oferecer um envelhecimento mais condigno, com mais bem-estar, às suas populações?

 

Em 2020 fomos surpreendidos pela covid-19 que ameaçou, de modo particular, os mais velhos. A saúde ficou comprometida, mas o confinamento agudizou a solidão e a pobreza. António Fonseca, investigador do projeto Ageing in Place (capacidade de continuar a viver em casa e na comunidade ao longo do tempo, com segurança e de forma independente), chamou a atenção para os desafios aos quais é preciso prestar atenção nos próximos tempos. A possibilidade de viver em casa e de estender essa vida à comunidade obriga a considerar a habitação e o espaço envolvente, serviços e recursos indispensáveis à vida quotidiana, concretização de oportunidades de cariz social, cívico e económico, participação em funções úteis e socialmente reconhecidas. O futuro, que estamos hoje a construir, poderá ser melhor para as pessoas mais velhas. Se todos estivermos envolvidos, de forma positiva, será uma realidade.

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